Linhas de força da Galiza-Sul (2): as quatro liberdades da fronteira

A livre circulaçom de mercadorias no mercado interno, aperfeiçoada com a uniom aduaneira frente ao exterior, alicerça, junto com a livre circulaçom de persoas, serviços e capitais, o mercado interior europeu. Constitui a quaderna via por onde circula freneticamente a moeda comum dos europeus. A cidadania comum, no entanto, segue sem cotar “nas principais bolsas europeias”. Da ágora que fundou Europa nada sabemos.

Sejam bem-vindas em qualquer caso as quatro liberdades que sustentam o euro ainda que só seja por terem dado à luz o milagre de abater as ruinosas fronteiras que esquartejavam Europa

Os euro amanuenses mais entusiastas gostam de referir-se á livre circulaçom de mercadorias, trabalhadores, serviços e capitais como às “quatro liberdades fundamentais”; fórmula um bocadinho pretensiosa que inevitavelmente evoca as “quatro nobres verdades” do venerável Siddharta Gautama. O fetichismo da mercadoria e do seu signo monetário é, de momento, a Europa que há. Fica claro que vivemos por baixo das nossas possibilidades, digam o que dizerem.

Sejam bem-vindas em qualquer caso as quatro liberdades que sustentam o euro ainda que só seja por terem dado à luz o milagre de abater as ruinosas fronteiras que esquartejavam Europa. Incluída a extravagante raia luso-espanhola com a sua guarda-civil permanentemente mal-humorada --sempre farejando pacotes de café apátrida-- e a enternecedora guarda-fiscal portuguesa empenhada em farejar maus ventos transfronteiriços na bagageira do nosso carro. Comprar toalhas, amigos oficiantes do ano santo toalheiro, nem sempre foi fácil. Exigia atravessar linhas inimigas minadas, francamente hostis.

As fronteiras falam, e nom só por boca dos arraianos de Ferrim, também através das estatísticas do tránsito fronteiriço motorizado. Mais umha linha de força no campo gravitacional Galiza<>Sul que estamos a explorar.

As fronteiras falam, e nom só por boca dos arraianos de Ferrim, também através das estatísticas do tránsito fronteiriço motorizado

Examinemos por um momento o formigueiro de veículos Galiza<>Portugal. Essa fronteira, finalmente desarmada, que apoia a cabeça no Penedo dos Tres Reis que ajunta as terras de Samora (Hermisende), Ourense (A Mezquita) e Vinhais (Moimenta), e molha os pés no ancho mar de Santa Tegra tem um comprimento de 296 quilómetros: 23% dos 1.292 que configuram a totalidade da fronteira hispana portuguesa.

32.159 veículos ligeiros atravessam diariamente a raia galega portuguesa em ambas as direcçons por 27.427 no resto da fronteira hispana portuguesa

32.159 veículos ligeiros atravessam diariamente a raia galega portuguesa em ambas as direcçons por 27.427 no resto da fronteira hispana portuguesa. A raia galega --montesinha ou fluvial-- concentra 54% do tráfego de passageiros Espanha<>Portugal em apenas 23% da fronteira política que delimita ambos Estados: 109 veículos diários por quilómetro na fronteira galega, apenas 28 na extra galega. Som cifras oficiais de 2011.

Intensidade média diária em ambos sentidos, em 2011: automóveis

Território “estrangeiro” muito singular, este de Portugal cá ao lado, que os galegos gostamos de frequentar para comer, andar, ver, e conversar. Enfim, viver.

A distribuiçom do tránsito pesado é um bocado diferente porque nele manda o imperativo do trajecto óptimo entre a origem e o destino da mercadoria. Com isso e todo, a fronteira galega canaliza 35% do tránsito pesado e detém umha densidade de tránsito muito superior à do resto da fronteira: 10 veículos anuais por quilómetro de fronteira na Galiza contra 6 no resto da mesma.

Intensidade média diária em ambos sentidos, em 2011: camións

A fronteira galega canaliza 35% do tránsito pesado e detém umha densidade de tránsito muito superior à do resto da fronteira: 10 veículos anuais por quilómetro de fronteira na Galiza contra 6 no resto da mesma

A cumplicidade humana que irmana minhotos, trasmontanos e galegos explica o incessante fluxo para o Sul, com qualquer desculpa: um passeio, um jantar, umha feira. Ouvir falar galego. As flamantes pontes e estradas comunitárias que cerzem a raia contribuem a permeá-la. Território antigo e humanizado, nunca alheio apesar dos contenciosos históricos de Madrid e Lisboa.

Os nodos de intercomunicaçom da Galiza com o Grande Sul nom terminam na raia que une o Penedo dos Tres Reis com o de Santa Tegra. Contamos com nodos de comunicaçom no Brasil. Lá, na Baía de Paraguaná, próxima da cidade de Curitiba, está a TCP (Terminal de Contéineres de Paranaguá). É um moderno nodo multimodal, integrado na rede global de tráfego de containers que medimos por convençom internacional em unidades TEU (twenty-foot equivalent unit): essas caixas de seis metros de comprimento com 38,5 metros cúbicos de capacidade. A TCP de Paraguaná tem capacidade para movimentar até 1.500.000 TEU’s/ano. Imaginem, um monte de mercadorias de um quilómetro quadrado de base por 60 metros de altura que enche e vazia cada ano. Isso é a sociedade TCP, resultado da associaçom estratégica da empresa galega Galigrain, (Marim, Grupo Ceferino Nogueira), com a catalana TCB (Terminal de Contenidors de Barcelona), junto com operadores brasileiros e internacionais, como convém a um empreendimento de economia global.
A discretíssima indústria galega da alimentaçom animal --o tráfego da soja por Marim e a iniciativa empresarial-- pugérom Galiza no mapa das rotas de containers. Casualidade ou atlanticidade?

A discretíssima indústria galega da alimentaçom animal --o tráfego da soja por Marim e a iniciativa empresarial-- pugérom Galiza no mapa das rotas de containers. Casualidade ou atlanticidade?

Partilhamos com Portugal o privilégio de assomar-se ao grande oceano das descobertas, da emigraçom e do tráfego comercial alargado. Umha linha de força mais que conecta a Galiza com o Grande Sul.

Paz Andrade pressentiu-o há tempo. Porque, só quem é capaz de sonhar Galiza é competente para antecipar o seu futuro.

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