Uma ilusão necessária

Outra vez saíram números, desta vez do IGE, Instituto Galego de Estatística. Nos tempos que nos tocou viver os números ganharam grande importância na hora de criar emoções e mover o pessoal. De facto, ambas as palavras, emoção e mover, estão unidas em origem.

O governo diz que o galego nunca estivo melhor e ninguém toma a Bastilha apesar de ser uma mentira evidente. A Bastilha fica a salvo porque o tema do galego não interessa lá muito

Os números sobre usos da língua galega são os habituais e as declarações do pessoal são as corriqueiras. Durante o franquismo não havia números a respeito da saúde social da língua, não interessava lá muito. Nesta fase histórica, as elites reservavam para ela a invisibilidade. Podia existir desde que não desse nas vistas, desde que residisse na periferia, nas aldeias e na oralidade informal.

Depois chegou o galego da transição, em que ainda estamos a nadar, que é o galego da ilusão necessária, usando o termo de um livro de Mário Herrero que está para vir. A linha rítmica é “tem que parecer que vamos a sério mas já sabemos que não vai” e quase todo o pessoal dança esta melodia. O governo diz que o galego nunca estivo melhor e ninguém toma a Bastilha apesar de ser uma mentira evidente. A Bastilha fica a salvo porque o tema do galego não interessa lá muito. Se o governo dixesse que na Galiza há 10.000 desempregados ou que conseguiu contratos para 100 anos para todos os estaleiros galegos talvez os tijolos do Parlamento tremessem, não sei se de ira ou à gargalhada.

Uma política linguística não descansa no vazio. A primeira decisão que há que tomar é: quem fala a nossa língua? A resposta do governo e da maioria dos alporizados foi: só os galegos e as galegas

Ora, na dança não participa apenas o governo como também entidades opositoras de todo o tipo que negam conhecer a melodia. Alporizam-se, arrancam os cabelos, tentam criar novas frases de desassossego mas não conseguem. Parecem esquecer, eu creio que não, que o produto também é deles. Uma política linguística não descansa no vazio. A primeira decisão que há que tomar é: quem fala a nossa língua? A resposta do governo e da maioria dos alporizados foi: só os galegos e as galegas. De acordo. O Brasil, Portugal, Angola, as suas sociedades e as suas produções não interessam, temos bastante para nós arranjar sós. Sobre essa resposta identitária é construída uma norma e sobre a norma uma política linguística. No Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega a presença do sintagma portug- é, sendo magnânimos, irrelevante.

Que tal se deixamos atrás a Ilusão Necessária? Ainda que só seja por experimentar e deixar os lamentos atrás

Que tal se mudamos o esquema de o espanhol ser uma língua internacional e o galego uma língua local? Que tal se deixamos atrás a Ilusão Necessária? Ainda que só seja por experimentar e deixar os lamentos atrás.

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