A imaginação literária a corrigir a História: a Ostrácia de Teresa Moure

Há algo mais dum ano, li um romance excecional: Herba moura de Teresa Moure. Causou em mim tal impressão que pedi permissão à autora para tentar uma tradução ao inglês, a qual esperamos que veja a luz o próximo ano.

Acaba de publicar-se um novo romance de Teresa Moure, Ostrácia, muito diferente de Herba moura, mas outra obra mestra. Tem como protagonista Inessa Armand, uma mulher que a História denomina habitualmente a “amante de Lenine,” sem mais, nas poucas ocasiões em que é mesmo mencionada. O romance convence-nos de que a imaginação literária, criadora, é quem de corrigir alguns dos muitos defeitos da História e de fazer-nos ver o passado duma maneira mais complexa, mais humana, e assim mais acertada. Inessa Armand, Vladimir Ilich Lenine, e tantas outras figuras históricas enchem as páginas dum romance que nos ajuda a entender a época da revolução Bolchevique (e muito mais) num nível novo, inacessível para quem apenas conhece a História, e não as histórias.

Ostrácia oferece fascinantes inovações na narrativa, múltiplas perspetivas e estilos; o romance revela-se e rebela-se através da seleção dos “cadernos apócrifos” de Inessa Armand, de entrevistas, cartas, ensaios. Da primeira oração, inesquecível –que não cito cá porque @s leitor@s devem poder passar imediatamente para a segunda1– esta obra surpreende-nos, provoca-nos, obriga a reconsiderar o que críamos saber da História, a Revolução, e o Amor, entre muitos outros temas. Vê-se que é inútil tratar de dar uma ideia justa do romance numa una breve resenha.

Leiam, portanto, Ostrácia; será uma experiência riquíssima.

 

1- Nota de tradução: A primeira frase aludida é: “A última vez que nos deitámos, no momento mesmo em que ele me penetrava, percebi por fim no seu olhar o quanto me odiava”.

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.