Sementar a fraude da Marea

Confirmou-se a pior das expectativas: não haverá grupo parlamentar galego no Congresso. Exigir explicações às cúpulas dos partidos implicados nesta fraude e reconhecer o mérito de quem alertou do problema a tempo resultará útil para separar o grão da palha de cara à seguinte colheita eleitoral.

A promessa da Marea de formar grupo galego nas Cortes era umha quimera jurídica. Quando os partidos dessa coalição ainda ocultavam a negociação das suas cúpulas, o jornalista David Lombao informava em Praza sobre a inviabilidade jurídica em caso de concorrer junto a Podemos. A impossibilidade dessa opção era constatada no Faro de Vigo pouco depois por Carolina Bescansa, destacada dirigente desse partido. Ainda mais, a informação da imprensa era consistente com as referências que os quadros técnicos da União do Povo Galego se ocuparam de achegar sobre a jurisprudência na interpretação do regulamento, no contexto do processo de confluência galeguista. Pésie a todo, Martiño Noriega, dirigente de Anova, acabaria por reconhecer a existência dum pacto de cúpulas com Podemos negociado em secreto com exclusão do BNG e Compromiso por Galicia. As opções eram claras: ou grupo próprio ou integrar-se no de Podemos. O pacto das cúpulas truncava assi o processo aberto de confluência galeguista cara à constitução dum grupo galego nas Cortes.

Não foi a 'casta', nem tampouco o 'regime do 78', quem decidiu concorrer ás gerais em coalição com Podemos, fazendo inviável a constitução dum grupo galego no Congresso. Por que os políticos da Marea teimaron então numha promesa eleitoral fraudulenta? Puido ocorrer que a cúpula da Complutense mentira oferecendo falsas garantías com o propósito de capturar o voto galeguista, ao tempo que os rupturistas mantinham a ficção do grupo para beneficiar-se do impulso mediático populista. Ou se quadra a culpa não foi de Madrid, senão de Ámio, e pesou mais a pulsão freudiana de matar o pai que a paciência e humildade precisas para cauterizar feridas e mirar juntos cara adiante. As conjecturas são múltiplas, mas o problema de fundo é o mesmo: os amanhos das cúpulas impedirom que a sociedade civil galega puidesse ajudar os partidos a configurar umha alternativa viável construída sobre estas duas décadas de aprendizagem nas Cortes.

Frustração, decepção e desconfiança são as crebas que começam a deixar as coalições com Podemos em Galícia. O fracasso nas Cortes soma-se às dificuldades que as mareas estão a experimentar com a tramitação dos orçamentos municipais e a sua integração nas deputações provinciais. Compre atalhar a extensão desses sentimentos porque minam a coesão que precisamos para melhorar os mecanismos de gestão e representação de Galícia. Os líderes das cúpulas rupturistas podem ajudar acometendo un exercício de autocrítica que nos ajude a entender o acontecido, evitando se é possível o uso da palavra 'aldraxe'. Precisamos separar o grão da palha para que a próxima sementeira eleitoral permita recolher os fruitos prometidos à cidadania.

Quanto ao galeguismo, o pais continuará precisando da sua discrição, persistência e generosidade. Reforçar as iniciativas orientadas a pensar Galícia e melhorar a sua viabilidade económica, política e cultural no longo prazo deve continuar a ser a prioridade. No curto prazo, devemos exigir responsabilidades polo pacto entre cúpulas e ao mesmo tempo apoiar a deputação galega nas Cortes para maximizar a sua capacidade representativa. Seria positivo poder involucrar tamém os deputados galegos de PP, PSOE e Ciudadanos. Polo demais, sairemos reforçadas desta situação se somos capazes de reconhecer o mérito de quem se ocupou de alertar a tempo da quimera jurídica que supunha a coalição com Podemos, pois essas persoas e organizações demostrarom conhecer melhor que os demais as regras do jogo. E conhecê-las é requisito ineludível se do que se trata é de transformá-las.

PS: Falando de regras, fago notar a minha dificuldade coas ortográficas. O meu agradecemento á comunidade reintegrata (a todas as variantes, especialmente á do 'nom') por facilitar a internacionalização do galego.

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