Câmbio de hora oficial. E a ortografia?

Em 2001 foi oficial uma proposta política para que a hora oficial da Galiza se homologasse para o fuso horário de Portugal e as Ilhas Britânicas, e também por certo ao das Ilhas Canarias, cujo status quo político como parte do Estado espanhol é indiscutido, e chega a ser ainda de interesse geo-estratégico no jogo de equilíbrios e posições internacionais.

A proposta de câmbio de hora oficial abriu um debate público no que, como é comum nos debates políticos, as posições ficam prefixadas em função de interesses específicos e comunicativos, e não da racionalidade do assunto como tal.

"Ridícula" foi uma das des-qualificações que, naquela altura, recebeu a proposta, do frente anti-nacionalista. Que porém argumentou a permanência em GMT+1 naquela agradável e exclussiva sensação que desfrutamos na Galiza nos solpores dos verões que chegam quase até a meia noite.

No entanto, no frente de salvação nacional, um dos argumentos utilizados fora tão inocente e socialmente centrado como que quando a gente vai à praia nas férias familiares encontra a molesta brétema matinal mesmo até a hora do almoço. Afinal as coisas de comer sempre se revelam importantes...

Quinze anos despois o debate foi elevado na sua argumentação intelectual, e alargado ao resto do Estado e a UE. Como sabemos existia uma comissão no Congresso dos Deputados que estudava a utilidade de que a Espanha toda, e não apenas a Galiza, adotasse a hora GMT como oficial, sendo a ideia uma amostra da utilidade pública dos profissionais que trabalham naquela Casa. Parece óbvio que os novos trabalhadores e trabalhadoras, após as eleições, não queiram renunciar aos avanços dessa comissão, e esperemos que o antes possível a nossa hora oficial se adapte à natural, e não ao invés como está a acontecer agora.

Já nem é politicamente incorreto se enfrentar aos interesses criados no fuso horário alemão, nem aos da indústria energética, para propugnar uma nova e alternativa racionalidade ecológica, económica e pragmática.

Para além da citada necessidade dos trabalhadores e trabalhadoras do Congresso em demonstrarem a sua utilidade social, hoje também a sociedade espanhola está mais madura que nos tempos do "desarrollismo" -sem pluriemprego, e feminização do trabalho doméstico- para entender a necessidade de racionalizar, europeizar e conciliar as jornadas de trabalho com a vida familiar. É esta mudança de mentalidade a que ajuda a entender que o lógico, ecológico e produtivo é adequar o oficial ao natural, e não ao invés.

Na Galiza, ainda não faz sentido fazer a vida considerando a hora solar e de Portugal em paralelo à oficial, se todos os demais circulam por esse carril. Mas levando isto à questão ortográfica, infelizmente, a realidade é que no idioma galego a escrita não está tão normalizada como se fez esperar há trinta anos, polo que o uso escrito quase não é praticado fora dos seus usos rituais, obrigados ou ideologicamente marcados. Portanto, tampouco seria demasiado obsceno utilizar nesses âmbitos alternativas que indiquem a saída dum dilema que virou muito complicado. E ainda solicitar a todas as diferentes propostas políticas na vindoura campanha eleitoral que, a respeito da questão da ortografia oficializada, contemplem uma adequação racional à inegável realidade como já fizeram com a hora oficial.

Tendo em conta que a ortografia é convencional, e que cada vez é mais claro que as convenções devem ter uma razão mais profunda para além dos equilíbrios de interesses criados, podemos manter a esperança para a razão prevalecer. Ainda que demore, ou possa ser violada, a razão afinal é mais forte que a força. Acreditar nisso, ou seja, a esperança, é o que nos faz humanos.

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