Acabou o #15M

À esquerda e à direita, foi exceção quem soubo interpretar a relevância política da mobilização social iniciada o 15 de maio de 2011.

O estudo demoscópico da socióloga galega Carolina Bescansa achegou à cúpula madrilenha desencantada com Izquierda Unida a evidência empírica para estender, a escala estatal, o modelo que na Galicia representara o êxito eleitoral da coligação AGE. Não havendo pior cunha que a da própria madeira, nascia Podemos para enterrar o #15M.

Umha personalidade carismática capaz de projetar-se nos televisores dumha cidadania castigada pola doutrina ortoliberal da União Europea; umha narrativa redencionista capaz de ligar o arraigo católico da povoação com a retórica marxista dos novos líderes; umha rede de ativistas amplificando a narrativa nos seus telefones móveis e habilitando mecanismos de participação ausentes nos partidos convencionais: eis a receita dos sucessivos êxitos eleitorais dos cindidos, primeiro no âmbito nacional e despois a escala estatal. A prepotência e o cesarismo dos hiper-liderados, o autoritarismo e a falta de coesão interna na organização, bem como a inconsistência técnica e as inexplicáveis contradições das próprias propostas, podem explicar a frustração das expetativas. Mas cumpre distinguir os sintomas das causas.

À esquerda e à direita, são exceção quem acertam a identificar nos recentes comícios o fim do ciclo político iniciado polo #15M.

Não desaparecerom as causas do descontentamento, que continuará agudizando-se na medida em que a reforma neoliberal continue a implantar-se. O que desapareceu foi a estrutura de oportunidade política para implementar umha nova institucionalidade, a principal proposta que emergira do diálogo estabelecido a partir do 15M entre os segmentos da povoação previamente encapsulados nos seus pequenos apartheids ideológicos. Incapazes de corrigir as inércias herdadas da sua militância esquerdista, as elites madrilenhas do movimento acabarom por claudicar, assumindo como próprio um discurso hierárquico, autoritário e militarista que só pode beneficiar a quem detenta o monopólio da violência e as vantagens competitivas do statu quo. Dificilmente umhas terceiras eleições reabririam o cenário, quando os princípios de Podemos se parecem já mais aos do adversário que aos seus próprios.

À vista de que o núcleo irradiador começa a citar a Michels e Weber, cabe perguntar-se se as elites galegas do movimento estão a tomar nota da nova conjuntura. E não o parece, a julgar pola autocomplacência com a que responden ao varapau eleitoral, nomeadamente nas cidades onde governam. A soberba dos cupulistas que por duas vezes consecutivas fixerom naufragar o grupo galego no Congresso ameaça agora com impedir tamém a formação dum governo galeguista na Xunta. É certo que o devalo eleitoral do Partido Popular reflete o desgaste de duas legislaturas marcadas pola progressiva degradação da situação económica e dos serviços públicos, e pragadas de corrupção – a foto de Núñez Feijóo de férias com um narcotraficante é o melhor cartaz eleitoral –. Porém, seria estúpido menosprezar a capacidade desse partido para maximizar o seu resultado em qualquera contenda eleitoral. O PPdG conta com a necessária reserva de quadros técnicos para desenvolver umha gestão eficaz do sistema institucional galego. Dispõe dumha densa rede clientelar no território, dum sistema mediático domesticado, e contará ademais co apoio do Estado no caso de que logre formar governo en Madrid. Mentres o BNG e PSdeG estão a competir já por atraer para si os quadros mais competentes para o governo da Xunta, as coligações participadas por Podemos concorrem entre si polo posto de macho alfa na candidatura.

Aclarem-se. Se o que fai falta são novas formas de institucionalidade, leian a Sánchez Estop e demais teóricos movimentários e ponham já mãos à obra para construir essa hegemonia gramsciana no meio e longo prazo. Do contrário, serão organizações como Hogar Social Madrid as que acabem suprindo essa necessidade, do mesmo jeito que acontece com os grupos xenófobos e de extrema direita no resto de Europa. Se, por fim, começam vostês a albiscar a importancia da organização, da capacidade de resiliência e de gestão institucional, comecem aginha a tender pontes com o Bloque Nacionalista Galego. Serão túçaros, serán uns repugnantes, mas aí levam dende a clandestinidade, resistindo a demonização mediática, confrontando a exclusão económica e social, defendendo os interesses dum país que provavelmente não os mereza, e desenvolvendo um modelo de participação assemblear que resultaria ineficiente duplicar. E se os do Bloque são demasiado radicais, revisem a recente evolução do PSdeG, aproveitando que agora o PSOE já não é casta. A chegada de Leiceaga poderia supor a consolidação do projeto iniciado por Touriño e só desbaratado pola deslealdade institucional exibida por Méndez Romeu durante o bipartito.

Não são as únicas alternativas, mas a ideia é a mesma: existe já um país, um que mui acertadamente verá no Partido Popular a melhor das opções possíveis neste cenário de crescente incerteza se não temos a humildade de construir olhando aos olhos do país que hai, para assim projetar o país que pode haver. Será cativo e se calhar insuficientemente hipster, mas é o resultado dum esforço coletivo que resulta mui desagradável ver desprezado por esta sorte de adanismo político tão proclive a deixar-se deslumbrar polas luzes da capital.

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