Convocatória pendente com breve tratado de geometria política

O nacionalismo galego afronta o inescusável desafio de abrir um processo de reconfiguraçom radical, tanto de índole organizativa, como discursiva, simbólica e de estilo de militáncia. A fadiga de materiais é manifesta, basta olhar a irreversível involuçom eleitoral do BNG e a fragilidade constitutiva da Maré. O colapso do PSOE e do conjunto do discurso social-democrata em toda a Europa e a abafante hegemonia do PP na Galiza agudizam o quadro constituinte em que estamos. É verdade, talvez o prudente fosse aguardar polas consequências dos próximos comícios e polos efeitos da briga parlamentar, mas, antecipar cenários é exercício sempre conveniente. O tempo conspira sempre contra o letargo defensivo e premia as estratégias de mudança. Há um pequeno problema certamente, o BNG crê-se ganhador das eleiçons, o qual o confirma na fé dos fundadores. A Maré crê ter conseguido encapsular Podemos e dispor do artefacto óptimo para promover um hipotético partido nacional galego, unificado e plural. Crasso erro em ambos casos, distorçons cognitivas transitórias, estimo eu. O tempo nom tardará em dissolver a miragem. Submeto-me ao seu juízo sem temor.

A incapacidade discursiva e fragilidade orgánica do nacionalismo em exercício é umha autêntica apólice de seguro de vida e acidentes para o partido do poder. O futuro nom trai promessas de mudança, apenas de reiteraçom do regime narcotizante instalado que adormece a base social e a rebeldia. A coarctada liberal cede cortesmente o ceptro político ao mercado omnipotente. Congelar todo impulso, deixar correr, esperar na divina providência encarnada em Espanha e na UE e a única e estupefaciente consigna. Congelar todo movimento social. A manifestaçom mais clara é o regime de liberdade vigilada a modo de eutanásia passiva decretada para o nosso idioma

A renúncia a reagir é umha atitude cúmplice grata às burocracias, convocar o debate da mudança é o revulsivo necessário. O debate pendente deve contornar contodo o ominoso escolho das ideologias intemporais que ainda nos impregnam. Derrogar as divinas palavras que custodiam totens fundacionais é umha operaçom preliminar. Os rituais tribais só convocam fantasmas e injectam daninhas doses de dissensom na grei e de desánimo na cidadania. Palavras esotéricas como independência ou comunismo só servem para administrar o rito de confirmaçom a neófitos seródios. Cerrar o livro das preces e abrir a agenda e todo um gesto inaugural.

Na cadeia conceitual programática: [democracia + galeguismo], [social-democracia + soberanismo], [comunismo + independentismo], o último par é inconexo e o primeiro, simples e promissório: democracia igualitária e galeguismo soberanista é o dipolo convidativo.

O núcleo de condensaçom do hipotético processo de reagrupamento deveria ser um BNG aberto e sem tabiques. Sem tabiques. A épica resistencial, tributária de lineamentos políticos dos anos 30, acabou ofuscando a capacidade de compreensom das vertiginosas mudanças acontecidas no século XX onde todo nasceu. A sociedade respondeu abandonando. Fora do Bloco acampa a confusa constelaçom de antigos congregantes desbloqueados acompanhados de Podemos. A maresia sobrevinda trai como valioso presente a chave da reconexom do nacionalismo com a sociedade que o nacionalismo perdera entre os achaques de autismo auto-referencial e os estridentes desvarios dos epígonos sobrevindos. O magistério do tempo deve convocar o melhor de cada um: a tenacidade construtiva do BNG e a porosa plasticidade das formaçons filiais. A perspectiva estratégica recomenda enxertar o incipiente renovo incerto na sólida cepa veterana.

No esperado reconto de existências, recapitulaçom e redacçom da nova agenda é preciso evitar erros de perspectiva. Nada melhor ao respeito que umha breve liçom de geometria descritiva, a parte dedicada aos sistemas de representaçom. Esse ramo venerável da ciência geométrica foi a que permitiu desenhar a città ideale renascentista, metáfora perfeita da sociedade utópica sonhada polos grandes relatos políticos da modernidade.

No quadro do sistema cónico de representaçom que fundamenta a arte da perspectiva da città ideale é preciso distinguir dous lugares geométricos essenciais: a linha de terra (LT), coincidente com o bordo inferior do quadro, que define o primeiro plano, e a linha de horizonte (LH) onde convergem todas as linhas que partem do primeiro plano cara ao horizonte. Umha rua que se perde ao longe cara o fundo do quadro é a imagem típica das paralelas que se confundem no infinito. A LT representa a posiçom do pintor, a LH o nível da sua olhada ao longe. A distáncia entre ambas linhas dá a profundidade de campo. A totalidade dos pontos de fuga das linhas que partem do primeiro plano, situam-se sobre a linha de horizonte.

Independência e comunismo, som dous pontos de fuga na linha de horizonte. Desenhar sobre esta linha carece sentido, só a linha de terra, imediata e tangível, designa o presente e imediato. E a política, como sabemos, escreve-se no primeiro plano. O futuro dirime-se na conjuntura é a primeira liçom da política. Democracia e galeguismo na linha de terra, independência e comunismo som dous pontos de fuga na linha de horizonte. Propor discursos em ponto de fuga impede formular umha agenda hegemónica e frustra entendimentos. A dogmática dos pontos de fuga nom cabe no quadro de representaçom.

O Parlamento catalám debate-se na linha de horizonte tracejada pola CUP. Observamos nela dous pontos de fuga: o ponto C de comunismo concentra o relato de Endavant, o ponto I de independentismo, o de Poble Lliure. O trabalho parlamentar, a agenda civil esmorecem ante o brilho ofuscante de ambos pontos de fuga. A agenda terreal – alicerce a paredes mestras do discurso – cede o protagonismo à polémica sobre o feitio do telhado ideal: Duas águas? Quatro melhor? Com faiado espaçoso ou com terraço soalheiro?

A morada do nacionalismo desse galego curado de miragens demanda realismo cru e máxima inclusividade se quer reverter o inveterado discurso de subalternidade que o PP injecta na sociedade. A impotência que adoenta o nacionalismo, derivada do autismo involutivo e a estridência discursiva que o abafa, deve ser superado como um xarampom infantil

Quê agenda? Quê Diário de Bordo, ou por melhor dizer, quê Diário de Derrota devemos reiniciar? A agulha magnética aponta para a Europa necessária e para o sul português consanguíneo, imagem fraternal da naçom.

O último capítulo do Sempre em Galiza poderia servir de prólogo ao novo discurso esperado. Somos epígonos, mas também precursores, porque mudou a linha de terra e muito mais a de horizonte. Descremos há tempo da città ideale mas acreditamos na cidade habitável, livre de servil provincianismo obsequioso imperante e pronta para acolher a morada decorosa dos galegos.

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