Língua e funcionalidade do Estado moderno

"Me llamo Josep Lluis aquí, y en la China Popular" (Josep Lluis Carod Rovira. TVE. 2007)

China é um país imenso e muito diverso, do que também cada quem tem a sua opinião, preconceitos ou experiência. Eu penso não errar muito a o considerar um país e uma gente nomeadamente práticos. O Estado chinês não está virado em competir com ocidente nem militarmente nem culturalmente, mas focado em si próprio. Diriamos, usando as ferramentas interpretativas do passado, que se trata mais de  "colonialismo interior" do que "imperialismo". Mas estes conceitos ainda não explicam nada bem...

Pensando por caso no seu sistema educativo,  o facto de o chinês mandarim ser o único idioma existente na escola na região falante de cantonês, e outras regiões com outras linguas, não tem a ver de jeito unívoco com direitos e efeitos, como poderiamos pensar com os esquemas mentais vigorantes entre nós a partir daquele Informe -dramatico- sobre a lingua galega (1973), que fez oficial uma  sociolinguistica que tomava os mecanismos diretamente estabelecidos polo Estado moderno como limites psicológicos. Ficou daquela altura como dogma toda essa -dramática- explicação de Lingua A e Lingua B, bilinguismo, sistemas de imersão, complementares, subtituvivos e tal...

Essa explicação -dramatica- aspira a lograr uma parte ou todo o Estado capitalista. Mas esquece que a única finalidade do mesmo é o desenvolvimento económico num espaço único: it's the economy, stupid! E portanto o fim que perseguem todos os seus instrumentos (moeda, segurança, educação...) são previstos para que funcione o mercado interior. A tal fim lhe convém por exemplo que os imigrantes doutras regiões estejam atendidos na sua língua para melhor movimentar mão de obra. Mas não lhe faz mal que por caso no delta do Rio das Pérolas um grupo humano como o cantonês conserve a sua coessão e estrutura, laços de solidariedade e fidelidade como catalizador na concentração de poder. O sistema chinês age funcionalmente com a lógica do mercado comum, mas há também nele espaço para a continuidade e o futuro das línguas locais.

O cantonês não precisa de reconhecimento oficial, nem de estatus de espécie protegida, nem de investimentos públicos para ser um organismo culturalmente vivo, produtivo e funcional que se transmite naturalmente.

Mais ainda, um estatus oficial como parte do aparato administrativo do Estado e da sua rede de interesses não seria olhado como coerente polos falantes do cantonês, nem tampouco o prestigiaria perante os imigrantes que suplicam aprende-lo.

Para compreendemos melhor isto, tomemos a frase "sempre a língua foi companheira do império" como uma descrição dos factos, e não como um juiço de valor.

Sigamos também a metafísica clássica. O imperio, é dizer, o Poder, é permanente. E o sistema, enquanto predicado do poder, é mudavel. O Estado moderno ainda que concentra o Poder para depois distribuir, é apenas um sistema de entre muitos, que há e haverá nas sociedades humanas.

O facto de vigorar neste momento histórico como o mais aceite e assumido no "mundo desenvolvido", não o faz o Único nem o Permanente. Portanto as línguas não se têm que associar diretamente ao Estado moderno para serem funcionais.

A língua sempre será companheira dos grupos humanos, os seus interesses, os seus jeitos de procurarem a felicidade e a sua forma diversa de se organizarem. O Estado só tem espaço para uma. Mas há, por cima e por baixo do Estado, e também em paralelo a ele, outras formas de coesão social e relações humanas que permanecem na medida que sejam justas e autênticas. Houve-as no passado, ainda ficam algumas entre nós, e não há que ter medo ao futuro para as procurar.

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