Hogar Social fora da Galiza: combater o fascismo näo é uma tarefa secundária

Saltaram as alarmes para muita gente da esquerda quando os nazis de Hogar Social Madrid anunciaram que viriam à Galiza a deixar ajuda humanitária. Afortunadamente a sua operaçäo resultou  falente e ridícula. A foto do lote que deixaram n'As Neves, lugar escolhido para o seu ato propagandístico, mais parece a de uma cesta de Natal do que um envio de ajuda para afectados por um incêndio florestal. Mas estas açöes de sondagem nem säo inocentes, nem säo aleatórias, nem säo inóquas.

Combater o fascismo e fazê-lo de verdade, deixando a um lado o mimetismo com campanhas do mundo autônomo e libertário de cidades como Madrid, Barcelona ou Zaragoza, cuja realidade nada tem a ver com a nossa, nunca foi e nunca será uma tarefa secundária. Se já é complicado numa sociedade como a galega trabalhar politicamente em parámetros soberanisas e de esquerda, que projetos como Hogar Social penetrem nas cidades galegas pode ser uma estocada mortal para a esquerda organizada no nosso país. O que lhe faltava a uma mocidade urbana sem referentes culturais, sem ideologia e sem consciência de classe era que aparecesse Hogar Social com o seu discurso chovinista espanhol e supremacista racial.

Hogar Social Madrid foi tratado pela mídia espanhola como uma simples extravagância; a mensagem era “oh, quê curioso, um squat de extrema direita”...podia parecer cômico, e em troca resultou ser a jogada política mais inteligente na história da extrema direita espanhola. E de facto, o decorrer dos acontecimentos está a demostrar que há detrás uma operaçäo de calado considerável.

Que os nazis façam um squat emulando formas de proceder que tradicionalmente associávamos sobre tudo aos anarquistas, significa que  a extrema direita decidiu desputar-lhe à equerda espaços que esta sempre dominou. Evidentemente este tipo de coisas têm mais força entre a juventude do que ficar nos clichés do fascismo mais nostálgico. Näo é nenhum acaso que Hogar Social lhe tenha cooptado militança e quadros a Alianza Nacional, Movimiento Social Republicano, Falange ou Democracia Nacional. Vou ser um bocado mais arriscado na minha análise e aventurar que os altercados que tiveram lugar em Barcelona depois da manifestaçäo de Societat Civil Catalana näo foram uma simples escaramuça entre Ultrassur e Frente Atlético. A tropa que mobilizam uns e outros näo se carateriza por ser pessoal de pensamento profundo precisamente, mas isso näo significa que quem os dirige seja parvo. Os que dirigem Ultrassur especialmente de parvos näo têm nada.

Que no meio de uma trifulca entre ultras de futebol apareça Hogar Social Madrid, näo pode ser um acaso e faz suspeitar que se calhar o detonante de tal briga näo foram neste caso as tradicionais desavinças futeboleiras entre siareiros do Real Madrid e do Atlético de Madrid. Que entrem em cena os Yomus, ultras do Valencia CF que já dias antes protagonizaram agressöes numa manifestaçäo em defesa da língua valenciá näo resulta estranho, mas sim que resulta um bocado excepcional que grupos ultras do futebol se vissibilicem como tais de uma maneira täo clara em manifestaçöes políticas. Pelo menos resulta relativamente novo para mim, certo é que ao melhor se eu morasse em Madrid, Barcelona ou València ao melhor via-o de outro jeito.

Provavelmente esse incidente em Barcelona, que quase chegou a ser mais notícia do que a própria manifestaçäo, tenha a ver com uma guerra entre facçóes da extrema direita espanhola...seguramente Hogar Social, que estará a fazer uma campanha de expansäo agressiva, terá a hostilidade de algumas marcas mais tradicionais do fascismo e aquele, seguramente, esteja a fazer o possível por neutralizar a essas organizaçöes que lhe apresentam hostilidade ou resistência.

Por certo, o facto de que a conta bancária que abriram para “ajudar à Galiza” fosse no Banco Sabadell (entidade que se soma ao boicote econômico à Catalunya rebelde) pode ser um acaso, ainda que eu prefero “pensar mal”. Cabem suspeitar protectores potentes e näo seria de estranhar que os próprios serviços secretos espanhois pretendam utilizar HSM como força de choque.

Em qualquer caso, qualquer tentativa de Hogar Social Madrid de intervir na Galiza na forma que for deve ser interpretada como uma agressäo e a esquerda soberanista näo deve ficar passiva ante isso. Se este projeto, que insisto, já vai bastante mais aló do facto anecdótico do squat de extrema direita, lograsse um núcleo consolidado de nazis organizados em qualquer localidade galega, entäo teremos sobre a nossa mesa de operaçöes um problema acrescentado de muito peso, para além da dificuldade de fazermos política entre um povo sem consciência nacional e com uma consciência sobre as questöes políticas mais básicas verdadeiramente deficiente.

Para concluir dizer que de nada valem teorias democratistas ou pacifistas quando falamos de nazis. Näo se trata de uma pequena secta de gente que está errada, trata-se de inimigos mortais que defendem o extermínio de “rojos” e de “separatistas”, e que  näo deixam essa vontade na simples teoria, como se despreende com apenas fazer um singelo e superficial labor de hemeroteca.

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