Por uma marea “Xusta"

Já aviso que de aguardar nestas linhas uma defesa das acções de Paula Quinteiro numa noite Compostelana sereis defraudad@s . A mim não me corresponde. É ela, em todo caso, quem se tem de defender, e isso será, suponho, quando se lhe acuse de algo concreto e no lugar ajeitado. Aguardar isso de mim é provavelmente uma boa mostra do maniqueísmo e o cainismo que arrasa no espaço mareante nos últimos tempos. Tempos, além disso, de efemeridade, da ditadura do chamado atinadamente por Alba Rico “tempo vertical”, onde unicamente parece existir um tolo e desenfreado presente, onde todo passa e tem que passar “já”, de jeito iminente; arrasando por diante como uma trituradora corpos, empatias e humanidades. Uma configuração do tempo relacionada em grande medida pela comunicação por médio das redes sociais e das ferramentas telemâticas: reducionista, impostada, “trolleira” e violenta até o extremo. Também não é minha pretensão ajudar ao relato falaz das supostas “partes enfrentadas que pugnam pelo poder dentro de EM”, um dos delírios que li reiteradamente nestes dias nas redes sociais. Nego-me a formar parte desse cunhadista jogo, por muito que a muitas pessoas cercanas a mim se lhes pretenda empregar de “antagonistas” necessàri@s para criar esse falaz relato. Por que é falso, por muito que os diários pagados por San Caetano o contem dia trás dia.

Precisamente isso é o que reivindico: o direito de Paula de se defender “com garantias” e o direito das e dos inscritos a ter aceso às diferentes versões que haja do incidente

Ao caso. Não posso ter uma opinião que me leve a defender ou deixar de defender a Paula (à que lhe tenho um grande aprecio pessoal), pois unicamente tenho versões parciais e sesgadas do que se lhe imputa, que é o que um informe policial filtrado a um médio de comunicação afirma que disso. Em todo caso estou no meu direito a crer ou não crer a este “agente da ordem” ou a Paula, mas, estaremos dacordo em que isto, nesta altura, está mui longe ainda de estar plenamente esclarecido. O que sim parece estar claro (pois ninguém lhe acusa delo) é que Paula não rachou parte alguma de nenhum veículo, nem insultou a nenhum companheiro da organização num vídeo no que (de ser ela) sai em terceiro plano. O único que parece em questão é a conveniência dos termos empregados no diálogo com a polícia local. De ser certo que há um parte de lesões com várias contusões produzidas por esse polícia à pessoa que estava a ser “identificada” nessa noite, como indica se indica noutro jornal digital (e que incluso os outros polícias presentes negaram-se a assinar o informe) seguramente a coisa poderia mudar grandemente... ou não, se calhar é certo que Paula ”se excedeu”, quem sabe? Mas precisamente isso é o que reivindico: o direito de Paula de se defender “com garantias” e o direito das e dos inscritos a ter aceso às diferentes versões que haja do incidente. E como é que se fai isso?

Vejamos o que indicam os documentos organizativos de En Marea:

— Como establecer o procedemento de revogación dun cargo?

No caso de que se detecte un incumprimento grave e reiterado do Código Ético, ou un afastamento manifesto das liñas políticas aprobadas, por parte de calquera membro do Grupo Parlamentario, a Organización poderá decidir retirar publicamente o seu apoio ao mesmo. Esa decisión deberá ser adoptada polo Plenario cun apoio de, cando menos, o 60% dos que emitan voto, sempre que emita voto un mínimo do 50% das persoas inscritas no momento no que se inicie o proceso. Para que sexa convocada un Plenario con tal obxecto, deberá ser solicitado por un grupo, como mínimo, do 25% do censo. Realizada a proposta, a Comisión de Garantías elaborará un informe mediante a designación de tres persoas da mesma Comisión que deberán, necesariamente, escoitar á persoa afectada e decidir sobre a práctica de dilixencias por ela solicitadas, sendo as súas decisión recorríbeis ante a propia Comisión de Garantías. De aprobarse esa decisión será requirida a persoa afectada para que deixe o seu posto e, de non facelo, deberá, necesariamente, abandonar o Grupo Parlamentar.

Tenho a impressão que neste momento já posso parar de escrever, porque em realidade já deveria estar com isto todo dito. Se o documento do que nos dotamos entre tod@s para marcar o processo revogatório está tão claro, pois... Cumpra-se e ponto! Se há uma pluralidade de “mareância” que entende que Paula incumpriu gravemente o código ético o que tem que fazer está claramente indicado, não? Parece doado. Pois nada mais longe da realidade vivemos nestes dias. Nada.

Desconheço as motivações das pessoas que quiseram fazer do diálogo de Paula com o policia local um “juízo express” saltando-se  para elo todos os procedimentos e buscando levar adiante uma atolada revogação com forte arrecendo a linchamento nos lugares que não estão legitimados para elo

Desconheço as motivações das pessoas que quiseram fazer do diálogo de Paula com o policia local um “juízo express” saltando-se  para elo todos os procedimentos e buscando levar adiante uma atolada revogação com forte arrecendo a linchamento nos lugares que não estão legitimados para elo. Custa crer que ninguem caira na conta de que não é nem no grupo parlamentar, nem na coordenadora, nem no conselho onde se tem que dirimir este assunto? que é num plenário solicitado por uma parte da mareância tal como indica claramente este texto de cima. E, desde logo, também não é o lugar para elo a improvisada ocorrência proposta pelo “Portavoz Nacional” duma “consulta telemática” tipo ¿¿¿se queres que Paula demita manda “fora” ao 1331???.  E ainda mais se temos em conta que Em Marea já enviou um mail a todo o censo marcando a linha “oficial”: “Paula deve demitir”. Incrível. Repito: o procedimento é claro e preciso, e deveria começar por ativar (é sintomático e tremendo que EM nesta altura ainda não tenho tido papel algum) a comissão de garantias. Nem isso teve Paula para se defender nesta altura. Terrível.

O que si sei é que esta irresponsabilidade, este arrastrar dias e dias o tema por onde não corresponde, esta torpeza orgânica de se saltar todos os acordos internos e negar o direito de Paula de ter um processo “justo”, com os tempos e garantias correspondentes e com capacidade para se defender (insisto, com o resultado que for, olho, eu aí nem entro nem saio) está a ter um custe político difícil de calcular e difícil de amanhar. As presas e as urgências em pedir a demissão onde não toca e logo deixar passar dias e dias sem dar mais explicações levou a que este tema estiver nos diários muito mais tempo do necessário, e segue. Para que isto não volva acontecer é imprescindível saber quem decidiu de forma irresponsável (e com que interesse ou motivação) aceitar desde o minuto 0 a versão de parte difundida pelos médios de comunicação e a polícia. Conhecer porque o Conselho se erige numa espécie de tribunal sumário “exprès” e logo envia à mareância uma “sentencia” via correio electrónico vulnerando gravemente qualquer direito de Paula Quinteiro a ter um procedimento com garantias. Porque o conselho das mareas “dessoe” os documentos que indicam com claridade quem e como pode instar a uma revogação? Numa palavra, a que tanta presa?

Minha opinão é que o que se fiz é precisamente o contrário do que se tinha que fazer: manter a calma, pedir tempo para esclarecer os feitos, assegurar o direito de Paula a se defender com condições, a se explicar, negar-nos a aceitar a linchamento mediático à primeira.

Minha opinão é que o que se fiz é precisamente o contrário do que se tinha que fazer: manter a calma, pedir tempo para esclarecer os feitos, assegurar o direito de Paula a se defender com condições, a se explicar, negar-nos a aceitar a linchamento mediático à primeira

Deixai-me indicar um paradoxo: As mesmas pessoas às que se lhe enche a boca falando de “ética” e de “justiça”, de “direitos”, insistem uma e outra vez em privar a uma companheira a ter um processo com garantias. E não será por que do que falam não é de ética, será por que do que falam é das reaccionárias “moral  y buenas costumbres”, entre as que está, desde logo, não erguer a voz a um policia? Ou será que a agenda de En Marea a dita directamente La Voz de Galicia ou El Correo Gallego? Ou será que existem interesses políticos em forçar, por via da urgência, a demitir a uma companheira por ser “doutra tribo”?

Seja pelo que seja tenho de confessar que a mim, por desgraça, todo isto não me surpreende. Desde Vigo o pouco que vejo de En Marea responde a pouco mais que a uma pequena presada de ideias organizativas centralizadoras, um par de documentos políticos, um grupo parlamentar “ao seu aire”com forte identidade “partidária”, e uma coordenadora/conselho nutrido em parte por veteran@s de mil leas internas que pretende actuar como uma férrea direção. E um Portavoz Nacional. E um plenário minguante...

A minha pergunta a essa gente que “leva o temom” é quando e porquê nos levarom a mudar de poema? Eu quero saber qual foi o momento exacto no que alguém decidiu deixar atrás a cantiga que indicava que “Existe a maxia e pode ser de todas/¿A que tanto novelo e tanta historia?/eu tamén navegar" daquele projecto integrador e valente que emergiu no plenário do Berbés, com todo em contra, fresco, aberto e ilusionante que chegou desde as Mareas en Común para impugnar a coligação de partidos que existia previamente. Como chegamos a este momento ràncio do presente? Como se calcula a ilusão cessante? De onde vem esse cheiro a naftalina, a perfume de pino de coche oficial, a incenso e a Varón Dandy,  que parece levar sem remédio ao ManuelAntoniano: Fume de pipa/Saudade/Noite Silenzo Frío/E ficamos nós sós/Sin o Mar e sin o barco/nós. Sós.

Ainda guardo a esperança porquê as marés não nascerom para ser comandadas ,“oh, capitán, mi capitán!”

Eu, com os direitos de Paula (e de qualquer) a ter um processo justo e com garantias. E por umas novas mareas Vivas e ilusionantes! Hai Mareas!

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