Teoria da Relatividade (II)

Comentava hai uns dias a falácia de enfeitar situaçons desafortunadas, quando nom perversas, recorrendo ao ardil de as equacionar com umha alternativa sombria que se apresenta como única possível. A lógica do melhor o mau conhecido que o bom por conhecer.

Nom hai iogurte, refresco, cosmético ou detergente, dim os publicistas, que venda melhor que o que se apresenta abandeirado como Novo

Gostaria comentar hoje o feito curioso de esta lógica conservadora ter o seu correlato noutra ánsia, em aparência oposta, que conhecem bem os criativos das agências de publicidade e à que acorrem com presteza na corrida por situar os seus produtos no topo das vendas. Nom hai iogurte, refresco, cosmético ou detergente, dim os publicistas, que venda melhor que o que se apresenta abandeirado como Novo. Nova fórmula, Nova embalagem, Nova receita, Nova brancura. Nova miragem. No importa se o cosmético ou o iogurte som os de sempre (de feito quase sempre o som), por mui velho que seja o vinho, para vender, odre e etiqueta hám de ser novos. Se possível anunciando umha rebaixa de calorias. Para isto se paga aos especialistas em publicidade.

Num momento como este, em que agromam conflitos e actitudes já vividos noutras crises, o risco de que o rechaço do velho faga prevalecer a novidade da etiqueta sobre o contido do odre nom é um suposto teórico. Aconteceu com resultados bem conhecidos noutros lugares e pode acontecer no nosso contorno.

O risco de que o rechaço do velho faga prevalecer a novidade da etiqueta sobre o contido do odre

Para nom dramatizar em excesso, lembremos um caso mais recente e menos trágico que o protagonizado por aquele movimento popular que levou à dissoluçom do Reichstag como soluçom à profunda crise económica e social que vivia a Alemanha dos anos trinta. Menos dramático mas nom menos eloquente.

Em 1980 nasce, também na Alemanha, um novo partido (Die Grünen) que se apresenta a si mesmo com umha etiqueta sem dúvida novidosa: ser o "partido anti-partidos". Como novidade oferece, além da lógica ênfase no cuidado do meio, a promessa de promover politicas pacifistas. Em 1998, despois dumha trajectória de ascenso eleitoral constante, Die Grünen (Os Verdes) formam governo com o Partido Socialdemocrata e colocam um dos seus militantes, Joschka Fischer, como titular da carteira dos Negócios Estrangeiros. Apenas um ano despois, o ministro anti-partidos -verde e pacifista- converte-se en defensor entusiasta da participaçom alemá no bombardeamento da ex-Jugoslávia. Em 2008, Die Grünen (Os Verdes) estabelecem a primeira coaligaçom com a Democracia Cristá, neste caso em Hamburgo.

No nosso contorno mais próximo, as cousas som um pouco diferentes. Na Galiza e na Espanha, nom é preciso aguardar a que o vinho azede nos odres novos. Verte-se neles o vinho que se afirma rejeitar.

A maior parte das novas agrupaçons politicas nascidas ao calor dos movimentos cidadáns gestados pola crise se nutrem em grande medida de persoas com longa experiência de militança e responsabilidades partidárias e institucionais

Basta com deitarmos umha olhada rápida ao que nos rodeia para descobrir que a maior parte das novas agrupaçons politicas nascidas ao calor dos movimentos cidadáns gestados pola crise se nutrem em grande medida de persoas com longa experiência de militança e responsabilidades partidárias e institucionais. Nom só as que se formarom na Galiza, onde o fervilhar de novos grupos é bem conhecido e conhecida é a trajectória partidária dos seus membros mais destacados.Também além Pedrafita, onde vimos e vemos aparecerem agrupaçons lideradas por figuras politicas relevantes (que permanecem e/ou abandonam as suas antigas formaçons) numha corrida por se situarem à cabeça destes movimentos. A novidade que oferecem consiste às vezes em propostas de perfil próximo à esquerda clássica, como a que formulam alguns ex dirigentes de Izquierda Unida, e outras em projectos de traços inquietantes como a de Unión Progreso y Democracia da ex-socialista Rosa Díez (a figura política mais valorada no estado).

O feito de estes movimentos sociais gestados na crise se definirem antes por umha atitude de rejeitamento dos partidos tradicionais do que por umha perspectiva mais ou menos comum de análise, o feito de albergarem expectativas e propósitos dissímeis, e antagónicos, explica que nas suas águas deitem a linha os uns e as outras, na esperança comum de ver o peixe morder o engodo hinóptico da novidade.

Morder o engodo da marca eleitoral que responde as mesmas ánsias a que a etiqueta estrela do supermercado: novo e baixo em calorias.

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