Fausto Brand, um referente para o independentismo libertário

O crunhês Carré Brandariz, mais conhecido como Fausto Brand –o seu pseudónimo jornalístico-, nasceu em 1913 no seio de uma família de longa tradição galeguista e irmandinha. Junto com Manuela Somoza ou Galán Calvete conformou a brilhante primeira promoção daquela pioneira Escola do Ensiño Galego que artelharam as Irmandades da Fala após concluirem, como Lewis Mumford, que “é estúpido aguardar nenhuma mudança autêntica ou permanente de qualquer programa social incapaz de regenerar ou converter as pessoas que teriam que desenhá-lo e levá-lo a cabo”. Dito de outra maneira: Leandrinho Carré Brandariz já ia à Semente (1).

Jornalista e escritor, mantivo sempre uma sorte de dupla militância entre o movimento anarquista (era do Partido Sindicalista) e o galeguismo transversal. Porém, nunca viveu as suas convicções ideológicas como uma contradição, senão como um tudo perfeitamente coerente que se esforçou em dar a entender na sua produção teórica. Assim, Brand defendia com total naturalidade a autonomia da Galiza nas páginas do Solidaridad Obrera (2) à vez que nas de A Nosa Terra enchia essa libertação nacional de conteúdos libertários.

Na altura o internacionalismo funcionou muitas vezes de testaferro ideológico para deixar inquestionado o nacionalismo –“banal”, se se quer- realmente imposto: o espanhol. Só por citar dous exemplos, o anarcosindicalismo asturiano tirava sem pudor do mito patriótico do covadonguismo (3), e anos atrás o grande teórico vigués Ricardo Mella reprochava por carta ao seu companheiro Cortiella a sua “pícara manía de escribir en catalán”, solicitando-lhe “con que otra vez escribe en castellano (…) En tanto no llegamos al idioma universal ¡nacionaliza, por lo menos!” (4).

Ainda, na militância anarquista galega por força tinha que ajudar a fortíssima consciência popular anti-estatal, que situada perante a questão do estatuto de autonomia a levava automáticamente a rejeitá-lo, não por “espanholismo” senão porque “non teñen máis concepto de Autonomía que o de coidar n-unha nova rede burocrática n-unha nova serie de deputados que zugan o suor do pobo, os máis deles, cobizosos e larpeiros (…). Non se fita ao producto que da autonomía pode resultar” (5), lamentava-se Branda o intentar romper a equação autonomia = mais Estado. A sua forma de desbloquear esse imaginário foi vincular a citada consciência popular anti-estatal com o projeto soberanista no que este último tem, de imediato, de anti-estatal; sublinhando as afinidades eleitivas entre os dous idearios lançava perguntas que faziam pensar o impensável: “¿No cree el lector que la preponderancia de la CNT en Galicia y Cataluña, responde precisamente al carácter federalista de nuestros núcleos más definidos como nacionalistas, en consonancia con el federalismo medular, entrañable, del gran organismo sindical?” (6).

Contudo, a achega teórica mais interessante de Fausto Brand é a que expõe as suas teses municipalistas libertárias em A Nosa Terra (7). Partindo da história do municipio livre medieval e do concelho aberto, Brand propunha aos galeguistas a criação de candidaturas de unidade popular (“candidatura primaria de unidade”) que sobrepassem o agregado de siglas, construindo espaços assembleários de confrontação e construção, com um pé nas instituições oficiais e outro fora, articulando sindicatos locais de produção e distribuição e abrindo as portas à experimentação política e social no concelho. Todo isto reconhecendo o papel protagonista das mulheres como garantia para manter o bom rumo da iniciativa.

No outono de 1936 Fausto Brand é incorporado à força ao exército golpista, desaparecendo na fronte das Astúrias em maio de 1937. O seu pai, Leandro Carré, procurará o seu cadáver sem êxito até desistir em agosto de 1937.

Cárcere de Villabona, 19 de março de 2017

 

NOTAS

1. Há uma pequena nota biográfica em Ernesto Vázquez Souza, “Uma velha galescola: “As Escolas do Ensinho Galego”, em: VV.AA., A escola das Irmandandes da Fala e outras experiências pioneiras e inspiradoras, Narom, Semente Trasancos, 2016, pp. 7-58.
2. Fausto Brand, “En torno a la autonomía regional. Incomprensión castellanista”, Solidaridad Obrera, 25-VI-1932, p. 1. Também em A Nosa Terra explicava os porqués dos libertários deverem apoiar a autodeterminação: Fausto Brand, “Incomprensión e iñorancia”, A Nosa Terra, nº 380, 31-VIII-1935.
3. Ver: Rafael Rodríguez Valdés, “Llingua asturiana y movimiento obreru (1899-1937)”, Folletos del Ateneo (Cuadernos de Historia), Gijão, Ateneo Obrero de Gijón, 2004, p. 30.
4. Cit. Em: Klaus-Jürgen Nagel, “La cultura obrera i el fet nacional catalá al primer quart del segle XX”, em: Catalunya i la Restauració 1875-1923. Congrés Internacional d’Història, Manresa, Centre d’Estudis del Bages, 1992, p. 304.
5. Fausto Brand, “O Inmediato”, A Nosa Terra, 29-II-1936, p. 6.
6. Fausto Brand, num artigo do que não tenho o título, na revista santiaguesa Claridad, nº 3, 6-I-1934.
7. Fausto Brand, “O municipio, escola de experiencias e sistema práctico de adeministración local”, A Nosa Terra, nº 408, 3-IV-1936, p. 4.

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.