Os Confederados e a Uniom

Admirável unidade, estabilidade incerta. O carácter unitário do grupo da Maré no Parlamento Galego constitui o seu activo político mais valioso no cenário de desagregaçom e inimizade irreconciliável que caracteriza as esquerdas galegas. O colapso da estrela BNG na Assembleia de Ámio de 2012 deu lugar a umha estéril anã branca em colapso gravitacional rodeada dunha nuvem de pó estelar em dispersom. Daquele caos cósmico e da necessidade peremptória de mudança social nasceu a nova plataforma unitária. A eleiçom como cabeça de cartel dumha personalidade independente, de temperamento integrador e exemplar discurso cívico como a de Luís Villares (Lugo, 1978) dota o grupo dum inequívoco perfil inaugural. Algo está a nascer.

A apressada integraçom de Podemos na Maré, mediante cedência incondicional de siglas e ulterior ocupaçom de presença preeminente nas candidaturas provinciais, tem carácter problemático. O grupo exibe umha envoltura legitimadora inequivocamente nacionalista enquanto mantém um hóspede central conectado a desígnios incontroláveis arquitectados em Madrid. Por enquanto, a crónica do grupo começa co´a ocupaçom de quatro dos cinco primeiros postos da lista de Pontevedra e três da de Corunha por parte da militáncia de Podemos. Os três candidatos afins a EU em posiçom ganhadora contribuem a acentuar a extraversom do grupo. É inevitável questionar a capacidade de resposta do resto da candidatura presente na Cámara em posiçom subordinada apesar de nela residir a identidade nacionalista do grupo. Qual pode ser o percurso da Maré prlamentar em ausência de agenda e roteiro comum? Radicalidade plebiscitária ou social-democracia operativa? Construçom nacional ou regeneracionismo hispanófilo? Mensagem unitária ou dispersa? Dinámica centrípeta ou centrífuga? Liderado unitário ou partilhado?

A Maré tem base triangular, perímetro expansivo, estrutura híbrida, e dimensom confederal. A base vem-lhe da cumplicidade originária entre as três Cámaras municipais de Ferrol, Corunha e Santiago; a capacidade expansiva da notável presença atingida em todo o país; o carácter híbrido da sua estrutura dúplice que combina horizontalidade cívica e conexons partidárias manifestas. Finalmente, a dimensom confederal é o traço singular proveniente da inclusom de Podemos, que já deu como primeiro fruto a projecçom do problema nacional da Galiza na agenda política do Estado.

O admirável bolo político sai do forno coroado por um cordial magistrado da plebe em papel transversal e integrador. Excelente desenho merecedor de amplo sucesso.

Dinámica centrífuga latente. A heterogeneidade congénita da Maré fica oculta em brilhante envoltura consensual. Os 10.000 eleitores que erguérom o grupo e as regras cooperativas que arbitrárom o consenso figérom um bom trabalho. O grupo emerge na Cámara como força unitária mestiça em concórdia provisória. As ténues linhas de fractura que o atravessam ameaçam ampliar-se. Como principais, as que separam adscritos de apartidários e ideário de construçom nacional frente a regeneracionismo hispánico. Castelao frente a Azaña.

A presença dos mareantes sem adscriçom, de cultura horizontal e plebiscitária, é modesta e carece de liderado no grupo. A instabilidade polariza-se ao 50% entre o imperativo de consolidaçom partidária que orienta a Podemos e a difusa agenda do magma nacionalitário. A legislatura submeterá o grupo a um permanente stress test de lealdades em confronto. Um eventual acesso da Maré ao Governo da Junta intensificaria provavelmente as pulsons centrífugas latentes.

Descartada a improvável hipótese da confluência orgánica entre as bases podemizantes e nacionalitárias, abre-se como hipótese mais verosímil a da confluência dos partidários da reconstruçom do sistema partidário galego para superar a incompreensível fragmentaçom que o esteriliza. A procura de estabilidade e de massa crítica é comum aos diferentes projectos em pugna. Podemos está sujeito a construir o seu exíguo aparelho orgánico e o nacionalismo difuso a prosseguir o seu processo de confluência depois da deplorável experiência de disgregaçom do grupo AGE. O eleitorado aborrece o teatro de títeres em sede parlamentar que tentárom ensaiar por desgraça tanto AGE como Podemos. O grupo da Maré carece das ingentes doses de pegamento ideológico para seriam necessárias para soldar as suas linhas de fractura.

Reunificaçom em perspectiva. Qual pode ser a resultante do campo de forças que entesa o mapa político galego das forças transformadoras? A predizível desagregaçom da Maré nos seus pólos antagónicos propicia o nascimento dum novo sujeito político galego de orientaçom nacional popular. Devolvamos-lhe à categoria gramsciana o seu potente significado original de aliança histórica entre os vectores da cultura moderna, científica e laica; as aspiraçons sociais insatisfeitas e a cultura tradicional que identifica umha colectividade. É o projecto republicano de Castelao.

O profuso destacamento confederado – Anova, Cerna, CxG, Espazo Eco-socialista, Equo, EU, Podemos a Maré ela própria – aponta perigo de falência por agudizaçom das linhas de fractura que o atravessam. O reagrupamento das forças de vocaçom nacional é a hipótese mais verosímil, incluído necessariamente o BNG se for capaz de abater o inveterado síndrome autista que o adoenta. A agenda pendente passa por reconverter o obsoleto discurso nacionalista em vigor por outro socialmente compreensível orientado à abordagem das tarefas inadiáveis. A épica dos princípios merece um descanso na secular arca de aliança da tribo. A agenda de reconstruçom da esquerda nacionalista está de facto em curso e suscita um amplo apoio social. Aí está a generosa iniciativa de confluência do “Encontro por unha Maré Galega” com a “Iniciativa pola Uniom” infelizmente frustrada pola tramóia habitual em serviço nocturno.

Umha convocatória abrangente e aberta à maioria social pode transformar a resignaçom em programa e a expectaçom em compromiso. O objectivo é o mesmo da geraçom republicana de Castelao: dotar Galiza de um projecto nacional realista, transformador, capaz de vencer a insuportável subalternidade do país.

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.