Querida Gram-Bretanha

Manifestación a favor da permanencia na UE CC-BY-SA Alisdare Hickson

Admiramos Gram-Bretanha desde sempre; a sua coragem e autoconfiança, tingida de um ponto de soberba de povo eleito nunca esmagado por pé estrangeiro, som virtudes singulares que a evaporaçom do Império nom deu embaçado. Os europeus — e aproveito para vindicar-me como tal contra tanto batedor de campo do antieuropeísmo, saudoso de qualquer Europa impossível — temos muito que lhe agradecer. Na derrota dos fascismos, na firme resistência às ditaduras estalinistas ontem e às xenofobias patrióticas que proliferam hoje. É verdade, Gram-Bretanha cultiva ainda a fantasia particular de possuir umha relaçom privilegiada com a megapotência americana, mas, pronto, ninguém é perfeito como deixou bem dito Billy Wilder em Con faldas y a lo loco, como conhecemos o filme.

Lia em El País de 9/1/2019 um agudo artigo de Garton Ash, Carta aos nosso amigos europeus, em que o agudo historiador da Europa do Leste implorava a atençom e a cumplicidade europeia para tentar superar o amargo transo em que caiu a Gram-Bretanha depois de se autoadministrar um tóxico beberagem onde se mistura nostalgia do império perdido e aversom à britanidade perdida com algum outro ingrediente tóxico de consumo massivo como o ressentimento provocado pola intolerável desigualdade social exibida sem pudor polos triunfadores da última crise do capitalismo global. Dei uma vista de olhos depois à Editorial de The Guardian para conhecer a sua opiniom sempre lúcida e informativa.

O panorama que nos apresentam é o dumha Gram-Bretanha dilacerada polo medo ao futuro, a divisom social e o desconcerto democrático. Bom tema de reflexom para os cultores do narcisismo da pequena diferença e a obstinada proclamaçom de futuros imaculados. 

Gram-Bretanha — refletia The Guardian— tem um interesse directo, nascido do sofrimento dos nossos povos em décadas de guerra, na paz e harmonia de Europa desde a qual, todos podemos prosperar. Na era de Donald Trump e Xi Jinping, o compromisso europeu dos británicos é assunto premente. É preciso conjurar os problemas que a todos afligem neste mundo inevitavelmente único: O populismo e os coletes amarelos, os problemas da euro- zona, a imigraçom, Vladímir Putin y Donald Trump, prosseguia Garton Ash.

Causa assombro que umha exígua diferença de 52% contra 48%, gestada sem informaçom clara, fosse capaz de abrir o cenário caótico que sofre o povo británico, recém-saído de umha crise mal curada que concentrou a opulência no sudeste londrino e o abandono pós-industrial no resto do país. Umha crise desapiedada que fijo crescer o nível de ingressos de Londres num terço ao tempo que contraiu os já minguados de Yorkshire e Humberside num 14%.

A madurez democrática convoca a reflexom. Evocava The Gardian com inveja a soluçom achada na Irlanda para sair do dilema divisório e envenenado do direito ao aborto que tanta dor tem infligido às irlandesas. Umha assembleia representativa de cidadaos aleatoriamente eleita mantivo umha série de sesons de fim-de-semana cujas conclusons razoadas fôrom elevadas ao Parlamento para promulgar — depois de dous meses de debate e três centenares e meio de emendas — a lei de despenalizaçom do aborto. The Guardian mostrava inveja polo exemplo de coragem e democracia. E quem nom? Nom seria este um excelente procedimento para tentar cicatrizar a cansativa ferida patriótica catalá, resgatando-a da viscosa tutela de Waterloo e do entusiasta acampamento dos abandeirados da reppublica subita?

O quadro de situaçom é desesperado, mas nom grave se me permitides voltar ao Billy Wilder, desta vez ao filme Um, dous, Três.

O que The Gardian e Garton Gash imploram aos europeus e parar o relógio antes de se consolidar o caos. Próxima já a data do divórcio definitivo de 29/03/2019, o jornal e o analista esperam o rechaço parlamentar da proposta da senhora May, seguido dumha imediata solicitude de pausa ao procedimento de separaçom definitiva previsto no artigo 50 do Tratado de Lisboa. Seguiria a convocatória dunha assembleia cívica que examinasse as opçons e problemas abertos para solicitar depois ao Parlamento umha decisom que inclua, se assi se decidir, um referendum claro e definitivo, mais informado desta vez.

O facto de o Parlamento ter decidido o bloqueio da capacidade do Governo May para implementar um processo de desconexom sem acordo, mostra às claras a aguda preocupaçom por um cenário caótico cada vez mais provável com que sonham os hooligans do populismo, encabeçados polo néscio Boris Johnson e algum displicente deputado conservador de posse tardo imperial como Jacob Rees Mogg. Um e outro, assinantes da Carta dos 62, remetida a Teresa May para urgir um brexit duro e imediato.

Congratulamo-nos em assinalar que a responsabilidade da cláusula de reserva parlamentar contra um brexit duro tem nome feminino: a laborista Yvrette Cooper e a conservadora Nick Morgan, apoiadas por Sir Oliver Letwin, que finalmente conseguírom juntar 303 apoios parlamentares contra 296. Umha proeza transversal contrária às severas directrizes dos seus partidos. Honra ao feminismo operativo sem pejas, comprometido com a sociedade atemorizada. Que opinaria o petulante caudilhete Santiago Abascal, agora que se estreia nas lides parlamentares?

Em todo o caso, qualquer acordo de permanência implicará tantas cláusulas de cautela e salvaguarda como um processo de separaçom de Teresa May. De onde tirar a coragem necessária para guardar a calma em quanto se multiplica a crispaçom e a vozearia dos decepcionados? 

A mim, a sensata proposta do The Guardian e Garton Ash para resolver a explosiva situaçom británica recorda-me o assisado procedimento que conseguiu amnistiar as valorosas irlandesas insubmissas contra a obriga de parir. Coragem e sentido comum.

Sem os británicos Europa é menos, com eles dentro a construçom europeia continuará sendo desafiada por um país educado na insularidade que o trem do Canal tornou definitivamente quimérica. Contodo, eu voto sem reservas por acondicionar-lhes um quarto principal a este lado do Canal, com discreta saída à rua como eles gostam para preservarem a privacidade.

É o mínimo reconhecimento que lhes devo por permitirem-me intimar com Guilherme Brown e os seus proscritos, com Robin e Lady Marian, com Robinson e Conan Doyle, com o meu amigo Montague R. James e as suas subtis histórias de fantasmas e com o Hobbit de Tolkien. E ainda polos maravilhosos livros ilustrados de plantas e animais e o constante amor polo gato e e cam, os melhores amigos dos ingleses e da humanidade.

Visitar os Kew Garden de Londres ou o Royal Botanic Garden de Edinburg onde as árvores som adoradas sem feridas nem bárbaras amputaçons como aqui se estila é um motivo final deste apreço incondicional que eu quero proclamar

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