Exortaçom desesperada a umha classe média dirigente

Polo Carlos, preso em Salamanca
Polo Diego, emigrado em Londres


“O que sabes nom tem valor. O valor está no que fas co que sabes.”

Bruce Lee

Sem dúvida, era compreensível o vosso liderado ao começo. Quem mais que a pequena burguesia e as escolhidas bibliotecas de advogados e doutores podiam fornecer umha visom desde o país naquela altura? Sem os capitais da Catalunha, sem a tradiçom rebelde da Irlanda, mas velaí que abrolhou a reivindicaçom nacional galega. E nasceu forçosamente essencialista, embebedada desse idealismo tam do vosso jorne. Sim, esse que tanto pode entronizar semideuses totalitários como embelecer os berros de necessidade dos de abaixo. Contodo, o país era o que era e, polas regandijas da mátria celta assovalhada, do povo divinizado e afastado da gente, coou-se o pragmatismo radical do labrego aforado, do emigrante operário, do marinheiro assalariado, dos que sobreviviam sem tempo para a criaçom diletante. Foi um início corrente, o das naçons sem burguesia de seu, qualquer cousa que nom passasse por vós resultaria inconcebível.

Depois, como lhe cumpria à maldiçom de Sísifo em que se converteu a nossa história, todo se esfrangulhou a piques de conquistar um algo

Depois, como lhe cumpria à maldiçom de Sísifo em que se converteu a nossa história, todo se esfrangulhou a piques de conquistar um algo. Do ponto de vista emancipador, o pior de 1936 nom foi a interrupçom do Estatuto, como muitos de vós, burocratas vocacionais, lamentades. O terrível foi que se paralisasse a incorporaçom efectiva do tecido realmente popular, dos verdadeiramente agredidos, ao discurso nacional. O labor mais importante dum Castelao, neno da emigraçom, dum Bóveda, filho de operário grevista, ou dum Johám Jesus Gonçales, canteiro rural antes de mestre e advogado, foi precisamente esse: adaptar ao quinteiro, ao adro e à taberna o que se enfiara no estúdio e no faladoiro do café. Agirem de pontes. Por isso perseguírom e fusilárom neles e nom nos que memorizavam as cantigas medievais ou emprenhavam do ar em bocarribeiras imaginárias. Para o projecto capitalista espanhol, o perigo da autonomia galega residia nessa apropriaçom e recomposiçom do discurso nacional polas classes populares. As conseqüências rupturistas dessa identificaçom enxergavam-se mais que prováveis se lembramos a República Galega de 1931, por pôr o exemplo mais doado e mais minimizado por vós.

Na Longa Noite,  expurgado dos seus vencelhos populares co efectivo método da cuneta e o exílio, o discurso próprio recuncou no essencialismo inicial com mais entrega que nunca. Longe, em América, falava a dignidade nacional dos perseguidos e mais longe ainda, nas montanhas e fragas do país, a resistência armada do nosso povo ao fascismo. Sem vós, órfaos do discurso de nosso que os integrasse, aqueles homens e mulheres de maos gastadas a empunhar fuzis, practicárom de igual modo a autoorganizaçom. Ainda baixo a influência do inefável PCE que os capitalizou e vendeu, enquanto a classe média galleguista escudrinhava nas abstracçons sentimentais pátrias, eles fundavam o Exército Guerrilheiro da Galiza e espetavam a estrela vermelha na franja azul. Nas histórias de nossos avôs aparecem Foucelhas, Ponte e Curujás mesturados coas lendas de Pepa a Loba, o olimpo da memória popular. Porém, nunca lhes sentimos falar da obra petulante e baleira do Ramón Piñeiro.

Ninguém herdou a experiência da guerrilha galega e a intelligentsia exilada desapareceu da realidade de chumbo. O culturalismo, a versom do idealismo pequeno burguês mais covarde, triunfou rampante no relato do Nós tolerável

Ninguém herdou a experiência da guerrilha galega e a intelligentsia exilada desapareceu da realidade de chumbo. O culturalismo, a versom do idealismo pequeno burguês mais covarde, triunfou rampante no relato do Nós tolerável. Mas era o tempo da descolonizaçom posterior à Grande Guerra, erguérom-se fachos como Argélia e Cuba. Todo semelhava possível ao ritmo nascente do Rock and Roll. Da contada mocidade que podia viajar ou acceder à universidade naquele tempo, saíu quem desenhava a nossa redençom nas cafetarias. Cumpria matar o pai essencialista e medonhento, cumpria a acçom política radical, cumpria o marxismo e a descolonizaçom como o resto. E bendeitamos da arroutada  juvenil coa que aqueles moços acomodados reconvertérom Galiza em projecto emancipador. Porém, a fasquia revolucionária em voga agachava o pecado original das organizaçons saídas do estudantado de classe média, a desconexom co povo real. No entanto, coa abertura económica, o keynesianismo ecoava no fascismo celtibérico sob a promessa de confluência coa nova Europa e co grande império. Vinha a  reindustrializaçom e um reparto menos restritivo da riqueza. Aginha, tamém os filhos das famílias rurais acomodadas, dos baixos funcionários em aumento e dos pequenos comerciantes vilegos pudérom estudar. Um discurso envolveito no anticolonialismo esquerdista, ainda que só fosse retórico, facilitou a integraçom no novo nacionalismo de elementos que, desde estes sectores, desenvolviam um antifranquismo intuitivo. Outra vez a ponte possível. Como na etapa republicana, as possibilidades de acesso à educaçom e ao ascenso social abriam umha via de comunicaçom entre os de abaixo e o novo discurso radicalizado dumha parte da classe média, a galleguista.

A cirurgia estética que o regime baptizou Transición com retranca cachou esta reordenaçom co pé trocado. O novo discurso nacional começara a interagir co país real. Organizaçons sociais de todo tipo salferiam Galiza empurradas ou nom por directrizes vanguardistas. Contodo, além das palavras de ordem hiperideologizadas nos protestos concretos, algo mui da época, o peso dum discurso contra-hegemônico galego resultava bem leviao nos próprios movilizados. E ainda que a nacional se coroasse como única esquerda possível, graças também à burocracia pactista e chauvinista do PCE, a sua debilidade perfilava-se evidente. A pesar do verbalismo ideologista, a estrutura piramidal das organizaçons partidárias, como na maior parte da esquerda dogmática, reproduzia a própria pirâmide social na sua composiçom de classe. Incorporava-se povo ao nacionalismo, mas à base do prédio organizativo, nom aos restritivos piramidons decisórios.

Em todo caso, de darem agatunhado até os cúmios, os elementos populares conseguiam-no após a portagem de se homologar coa cultura e valores da classe média dirigente. Neste sentido, o conceito vanguarda, cristalizado em instituiçom partidária, caía-lhe como umha luva ao elitismo tradicional do escol patriótico. Cumpre perguntar-se como, num momento em que o galego ainda se eguia em língua amplamente maioritária das classes populares, a dirigência nacionalista era abouxadoramente neofalante.  Assim nasceu, por certo, o sociolecto galleguista que rematou por constituir-se em variedade preferente no uso público da nossa língua. Sem gheada nem sesseio, sem abertas nem fechadas, decote sem n (m) velar nem x (j,g) palatal, sem l velarizado, sem sintaxe nem cadência própria... sem galego. Mas com um feixe de neologismos privativos da casta iniciada e com esse espanholíssimo i ante consoante que fura os ouvidos. Um galego admissível como apêndice transitório do projecto espanhol, co seu correlato na escrita, e perfeitamente inteligível para um madrilenho de a pé. Assim, a pronúncia própria acabou por constituir um marcador de classe sob umha percepçom claramente colonial. Um precário espanholfalante dum bairro galego é ridiculizado polo seu sotaque demasiado nosso.

Pola contra, a modalidade galleguista, inseparável do espanhol ao ouvido mália a tona de vocabulário diferencial, é consentida marginalmente no sistema de valores hegemónico. A pronúncia e a morfosintaxe, a musicalidade e a estrutura conceptual ao cabo, som as que verdadeiramente assinalam as identidades lingüísticas, nom os dicionários. Em realidade, mália a mimética pátina de academicismo e pseudo-oficialidade, o referente de discriminaçom na práctica seguiu a ser a língua transmitida secularmente polos de abaixo. Abofé que sem neofalantes nom há futuro para o galego. Porém, a sua integraçom nom implica que a variedade que empreguem, forçosamente incompleta, se constitua no modelo da língua para a toda a comunidade de utentes.  O inglês adopta como padrom oral a variedade da imigraçom galega acabada de aterrar em Londres?  Quando isto acontece, deve-se a razons de classe, nom a falsas inercias.

A falta de bagagem agregava fragmentaçom interna às dificuldades para implantar-se. Como boa democracia capitalista, o regime do 78 tentou monopolizar a representaçom social

E chegou a pantomima eleitoral. Certamente, o nacionalismo começara-se a recompor havia demasiado pouco. A falta de bagagem agregava fragmentaçom interna às dificuldades para implantar-se. Como boa democracia capitalista, o regime do 78 tentou monopolizar a representaçom social. Integrou ou dissolveu todo agrupamento popular canalizando-o institucionalmente ou gerando-lhe dependências legais de toda espécie. Os modelos de partido e sindicato de classe sofrêrom a absorçom mais paradigmática. Nada melhor que a verticalidade da estrutura de vanguarda leninista para homogeneizar a pluralidade discrepante, empacotá-la e focá-la aos calotes eleitorais das democracias ocidentais. Assim, a inevitável frustraçom nas urnas como casta guia levou-vos a duas posiçons aparentemente contrapostas mas em realidade complementárias na sua ineficácia transformadora. Por umha banda, a esteticista que se parapeitou no verbalismo radical face a qualquer eficiência comunicativa coa sociedade agredida. Pola outra, a que assumiu a legitimidade do regime e o papel folclórico que nos assinou coa esperança de voltá-los contra ele desde as suas próprias estruturas. A pulsom entre as duas agacha a convivência na mesma perspectiva de classe média paternalista que a democracia burguesa véu reforçar. Entrementes, ao longe, a tonelagem da URSS alimentava as quimeras coas que se envolvia umha praxe realmente inócua para o capitalismo espanhol. Mas o consolo soviético caiu, desapareceu a justificaçom distante e ficou só a prática sistémica. Canda ela, fugiam as essências socialistas arrombadas devagar polo abstracto nacional recorrente. Com umha simples substituiçom de factores, mantivo-se a equaçom: a retórica marxista virava-se essência da naçom, mas de igual jeito inabrangível para os alheios às vanguardas patrióticas.

Havia um lugar para umha modalidade nacional-autonomista no discurso do 78, esse que ocupavam as burguesias dos outros povos submetidos por Espanha. Mas nós continuávamos sem elite económica de nosso

No entanto, o quotidiano seguia a acomodar-se ao rego social-democrata que lhe fora delimitado. Havia um lugar para umha modalidade nacional-autonomista no discurso do 78, esse que ocupavam as burguesias dos outros povos submetidos por Espanha. Mas nós continuávamos sem elite económica de nosso. No seu lugar, chegava à desora a ampliaçom da classe média através da terciarizaçom selvagem sobre umha economia sem secundarizar. Espanha e Europa destruíam-nos os sectores produtivos, porém, a administraçom autonómica compensava a castraçom económica criando funcionariado massivamente. A mudança de mentalidade era inevitável. A classe média é um constructo ideológico ao serviço do capitalismo, umha forma de xebrar a potencial unidade dos excluídos do autêntico poder co emprego do prestígio social. Historicamente, veu ocupar o lugar da pequena burguesia mas nutrindo-se também de assalariados em posiçom de privilégio real ou aparente. Nas situaçons coloniais e neocoloniais, tem umha inevitável dependência directa da própria administraçom (pro)imperialista.

O discurso político maioritário nas democracias ocidentais dirigiu-se e alimentou este grupo social além dos interesses que se invocassem ritualmente. Em coerência, este segmento da populaçom monopolizou as estruturas partidárias que o capitalismo nos oferecia para se legitimar. Só quem tiver tempo e estabilidade laboral, factores mais importante que os salários nesta etapa, se poderia dedicar aos brinquedos da política institucional. Umha sociedade acabada de chegar ao capitalismo, coas relaçons de poder quase feudais rearmadas por umha ditadura estrangeira, nom é a destinatária ideal dum discurso de retórica académica ou industrialista.  Mas sim umha em que a máxima aspiraçom das camadas populares é homologar-se coa prestigiosa e estável classe média expansiva que os formula. O novo cenário em tránsito, combinado coa crise da ala moderada do regime e com umha boa gestom da conflitividade pola morte dos sectores produtivos, dá no esplendor eleitoral dos 90. Assim, o voto nacionalista resultou urbano e espanholfalante e o espanholista ficou rural e galegofalante.

O novo cenário em tránsito, combinado coa crise da ala moderada do regime e com umha boa gestom da conflitividade pola morte dos sectores produtivos, dá no esplendor eleitoral dos 90. Assim, o voto nacionalista resultou urbano e espanholfalante e o espanholista ficou rural e galegofalante

O jogo da representaçom burguesa obriga a abandonar qualquer discurso que a questione. Para fazê-lo efectivo, o sistema emprega as maquinárias do ensino e da opiniom pública, integra as formas inofensivas de quem o discute e absorve os opositores nas tarefas administrativas da sua própria gestom. As redes clientelares herdadas e umha legislaçom que garante a preponderância das duas faces do regime e a sua imutabilidade sem estas, fecham a trampa da democracia espanhola. Se o hamster se nega a entrar na nora, marginalizaçom e repressom. O peso real do discurso alternativo na sociedade e a composiçom de classe dos seus defensores devenhem fundamentais nesta tesitura. Nom possui a mesma motivaçom quem luita por solidariedade, por ofício, por convicçom razoada ou sentimentalismo que quem o fai por supervivência consciente.

O peso real do discurso alternativo na sociedade e a composiçom de classe dos seus defensores devenhem fundamentais nesta tesitura

Neste sentido, a integraçom de partidos e sindicatos no aparato do Estado através da funcionarizaçom dos seus dirigentes, do anabolismo económico e da homologaçom das suas estruturas, pom o ramo ao processo de assimilaçom co regime. Centralizar as decisons, por operatividade, em representantes profissionalizados co dinheiro que administra o próprio Estado antagonista resulta definitivo. De redes propagadoras do contradiscurso, de artilharia na batalha das ideias, convertem-se em empresas públicas, gestoras mais ou menos combativas na defesa dos seus clientes. Destarte, o universitário barbudo que agitava associaçons vizinhais virou concelheiro acomodado a preparar plenos sem público e notas de imprensa em molde. A estudante que arengava nas fábricas, entre o bucle de manifes e greves defensivas inconexas, já fijo décadas a cotizar por produzir delegados de empresa como quem capta clientes dumha asseguradora.

Dizque pensava o Ché que as instituiçons burguesas agiam como um remoinho, que devoravam as organizaçons políticas se nom se tomavam precauçons. Sem meios de comunicaçom (efectivos), sem presença real em todo o território, sem mecanismos de controlo popular, seica cumpria choutar em bomba no sorvedoiro legalista coas asas prestadas polas urnas. Os frutos da velha engrenagem, coa que se esboçara juvenilmente a revoluçom na ditadura, deviam servir agora à nova estrategia eleitoralista. Acumulaçom de força, chamou-se-lhe ironicamente ao sacrifício de todo o capital social atingido ao altar pagao da política profissional. O povo estúpido nom dava entendido a verdade abstracta nem o esforço missioneiro da classe média galleguista. “Só a vam assumir quando lha imponhamos desde arriba, a autoridade é a única linguagem que entende a pailanada” impeliu-se no vulgo reticente das correias de transmissom.

Sem meios de comunicaçom (efectivos), sem presença real em todo o território, sem mecanismos de controlo popular, seica cumpria choutar em bomba no sorvedoiro legalista coas asas prestadas polas urnas

Nascia o autonomismo revolucionário e o rumo a Ítaca constringia-se ao governinho de Sam Caetano. Cumpria ocultar o discurso para que o discurso triunfasse. Cumpria a responsabilidade institucional para derrotar o marco institucional. Cos pés enlamados nos ritmos mediáticos do regime, perdeu-se de vez a já cativa perspectiva poliédrica da hidra nacional-popular. Quando na formulaçom táctica o objectivo eleitoral é imprescindível para o avanço estratégico, todo se deve submeter à sua consecuçom. Todo, por muito que agrupasse povo contra a dependência como nunca se vira, tinha que ser controlado e subjugado ao plam eleitoral do messianismo galleguista. O Nunca Mais Espanha que temia Jiménez Losantos esmorecia na governabilidade responsável das mensagens eleitorais.

“O importante é chegar” sentenciava aquela cançom do ex-presidente da SGAE. E chegou-se em debilidade ostentosa para exibir os medos que tam bem definem a vossa natureza e projectá-los ao povo informe

Daquela, a original e infalível estratégia de enganar o Estado agressor para vencê-lo desde ele mesmo pegou um novo chimpo teórico. A bolha imobiliária véu contribuir ao labor contratador da administraçom para retardar a catástrofe económica sentenciada pola UE. O aumento desorbitado dos ingressos municipais trouxo quadros de pessoal multitudinários e a fortaleza das empresas de serviços que cobriam as privatizaçons. O dogma neoliberal aplicava-se na Galiza à espanhola mas a prosperidade súbita de certo empresariado autóctone alguns interpretaste-la como a apariçom dumha burguesia nacional. Grande achega ao corpus teorético anticolonial, a fantasia do primo de zumosol. Mas nom se podia escorrentar o amigo empresarial e segundo se avançava na identificaçom coa oficialidade de cara à sociedade, mais apoios se perdiam. Assim, reduzida à carcaça, foi como arribou a nave do Odisseu pátrio ao pauto co rosto amável de Mefistófeles polo governo autoanémico.

“O importante é chegar” sentenciava aquela cançom do ex-presidente da SGAE. E chegou-se em debilidade ostentosa para exibir os medos que tam bem definem a vossa natureza e projectá-los ao povo informe. Escrevia há um ano o tunisiano Reshid Sherif sobre a problemática da classe média e as luitas democráticas do presente nos contextos coloniais: “Pola sua ambiçom ilusória de dirigir esta luita com um papel hegemónico, pola sua própria fragilidade socioeconómica e cultural, a CSI (capa social intermediária, classe média colonial) ao seu pesar nom se chega a converter na classe dirigente do projecto independentista. Mais ainda, supondo que as circunstâncias lhe fossem favoráveis mediante alianças internas e externas, (...) co peso do seu passado burocrático, co seu alheamento mental por mimetismo neurótico colonial, pola sua falta de audácia e valores próprios, a visom política e económica da CSI nom supera o horizonte do neoliberalismo de mercado”. Enquanto se lhes mantinha a estafa da Cidade da Cultura aos beneficiários, se chorava polo AVE das construtoras e se pediam mais competências para gerirdes como classe intermediária num constitucionalíssimo novo estatuto, a mocidade galega assinava  515000  contratos noutros pontos do Estado. Endebém, ninguém detivo o insuflado de dinheiro público à mafia propagandística do regime na Galiza, a serpe Jörmundgander do Rágnarok galleguista.

Quando a crise capitalista nos começou a bater, a vós também vos devorava a crise de identidade. O autonomismo revolucionário fracassara estrondosamente

E a Xunta autoanémica voltou às maos daqueles para quem fora concebida. O desconcerto do golpe sobreveu no pior momento. Quando a crise capitalista nos começou a bater, a vós também vos devorava a crise de identidade. O autonomismo revolucionário fracassara estrondosamente. O leve contacto co governinho, longe de encetar umha via rápida ao vosso reconhecimento como classe nacional dirigente, nem sequer permitiu recuncar. De vanguarda revolucionária do povo galego passara-se à matrácola de governo nacional responsável dentro da legalidade estrangeira. Na póla esteticista, o criticismo parasitário também se ressentia do papel de rémora. Quem érades agora? A catástrofe nom se cingia ao descalabro eleitoral. Coa crise, todo o mundo para o que evoluírades se esfarelava de arredor. Uns sindicatos artelhados em funçom da negociaçom colectiva e das eleiçons sindicais, cos organismos monopolizados por profissionais da representaçom, co idealizado operário do fordismo keynesiano como cliente referente, viram-se inúteis num contexto de guerra de classes neoliberal.  Os contentores que fumegavam na bonança económica desapareciam agora que mais falha faziam. Quando nom há legislaçom que proteja, quando quem trabalha consente atemorizado qualquer rebaixa, quando o paro atinge mais da metade dumha mocidade desesperada, de nada serve o comercial indefinido que capta comités de empresa e percebe o inchado salário médio. Num momento em que as instituiçons sofrem o maior descrédito da sua história, em que se percebe massivamente a ilegitimidade e a corrupçom do sistema de partidos, os insociais peritos do formalismo burocrático e os longevos políticos profissionais resultam contraproducentes. Na voragem das mudanças históricas, o desnorte sempre produz parálise e fragmentaçom, abofé.

As formaçons sociais de cada época correspondem-se cos modelos de pensamento desse tempo. Numha sociedade em que a informaçom é escassa, a comunicaçom complicada e o referente de organizaçom eficiente se reduz à verticalidade fabril ou militar, nasce o partido de classe. Nom todo o mundo podia ter o acesso à formaçom e às ferramentas de análise de quem estava chamado a ocupar o seu cúmio executivo, mas cumpria rapidez, disciplina, eficiência. O salto tecnológico que efectua o capitalismo imperialista quanto à comunicaçom na fase mundializadora afecta profundamente a todas as relaçons sociais, também à organizaçom popular. O que se encetava timidamente com Nunca Mais ou o Nom à Guerra, assentou-se como realidade no 15-M e nas luitas actuais. Quando se democratiza o acesso à (in)formaçom, perde sentido a autoridade do intérprete que, pola sua condiçom de classe, gozava desse privilégio. Quando se originam novas formas virtuais para a toma de decisons, em rede, horizontais, que resultam igualmente efectivas, é inevitável a sua translaçom ao plano organizativo real. Por outra banda, a reduzida funcionalidade transformadora do partido eleitoral nos regimes keynesianos europeus esvaece de vez ao desaparecer também este modelo de capitalismo. A modalidade sui géneris do Estado de Bem-Estar  espanhol nom vai voltar. A centralidade da luita institucional, o eleitoralismo das principais forças nacionalistas galegas, enxerga-se assim ainda mais absurda se repararmos em que nem sequer se realiza desde umhas estruturas políticas formalmente soberanas senom desde as da mesma metrópole. Estratégias de reforço e simples emancipaçom democrática desde elas, como a catalá, só som possíveis coa ajuda dumha burguesia nacional aqui inexistente, por muito que vos pese.

O neoliberalismo sentencia a desapariçom da vossa identidade social, a classe média como ente nom possui base material. Por riba, a tendência pro-nacional, a vossa, nem sequer chegou jamais a ser maioritária dentro dela

O neoliberalismo sentencia a desapariçom da vossa identidade social, a classe média como ente nom possui base material. Por riba, a tendência pro-nacional, a vossa, nem sequer chegou jamais a ser maioritária dentro dela. Por isso os desesperados intentos por  rendabilizardes nas urnas o descontentamento social resultam patéticos a olhos da história. De nada serve reproduzir as formas discursivas dos movimentos sociais por puro lucro eleitoral enquanto se mantém a mesma estrutura de partido e a mesma suplantaçom da cidadania. Que autoridade moral lhe resta a quem cobra 5 000 euros mensais por ir ao parlamento? Menos sentido tem ainda invocar bruscamente o radicalismo abstracto como ritual aglutinante no entanto a praxe se reduz ao mesmo ancoramento institucionalista. A trasnsformaçom social precisa da implementaçom real do discurso contra-hegemónico, nom de fetiches vougos que já só vos assustam a vós mesmos. Enquanto dades vergonha rifando por minúsculas parcelas institucionais na Europa, 13 000 galegos saírom a trabalhar para ela no primeiro semestre de 2013. Mantedes-vos incapazes de olhar mais horizonte que as eleiçons num momento em que abstençom consciente está em máximos históricos. Continuades cativados polos jogos de rol frívolos que o partidismo fornece internamente enquanto aumentam os meninhos esfameados a brincar-vos cos filhos, o 20% das crianças galegas já se encontra na pobreza. Para mais vergonha, pola presença fagocitadora que exercedes, nengumha alternativa autêntica dá vido da expansom dum centro ao resto do território. Só a confluência dos locais em igualdade, o processo inverso, vacina parcialmente contra o vosso dirigismo eleitoralista. Alguém comparou a esquerda institucional europeia cos últimos músicos do Titanic e já ora que pensava em vós.

Amilcar Cabral pedia-lhe à classe média colonial que se suicidasse como tal para ser-lhe útil ao processo libertador, que renunciasse à sua visom de superioridade para unir-se em igualdade ao povo raso

Amilcar Cabral pedia-lhe à classe média colonial que se suicidasse como tal para ser-lhe útil ao processo libertador, que renunciasse à sua visom de superioridade para unir-se em igualdade ao povo raso. Desistide de dirigir-nos, abandonade toda ideia de manipular-nos, de pastorear-nos trás as vossas faixas até as urnas. Devolvede o capital social que monopolizades por herdança para que, juntos como iguais, demos erguido umha alternativa real. Submetede-vos sem reservas a assembleias unitárias e abertas em cidades e comarcas. Colocade as estruturas que vos retroalimentam ao serviço desinteressado da construçom de contrapoder popular. Perdede o medo a assinalar co dedo o inimigo concreto e a situar, de verdade, a independência como sinónimo perfeito de democracia e bem-estar para esta terra. Fazede-o no entanto ainda fique no país alguém que poda indignar-se entre os que nom temos nada a perder. Fazede-o ou, como escreveu o odiado amado ex-presidente da RAG, “seredes revasados. O vento da história sopra doutro ponto.”

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.