Partir de zero

Regularmente são feitas campanhas para promover o uso social do galego. Não escasseiam, por sua parte, debates públicos sobre o seu estado de saúde social e por onde devemos transitar a médio prazo. Um debate recorrente a respeito do discurso em volta do galego, quando queremos promover o seu uso social, é: devemos focar apenas aspetos positivos ou mostrar também o avançado estado de substituição linguística?

Trinta anos deveria dar para fazer análises embora também seja certo que, quando alguém só tem UMA estratégia, para que servem as análises? Se correr bem, regozijemo-nos, se correr mal, é a vida

Há uns anos apareceram, na cidade onde moro, pintadas com um número que indicava os falantes perdidos no ano anterior. Depois surgiram vozes diversas, quer criticando a campanha, por pessimista, quer gabando-a, por promover a consciência.

Uma regra básica da publicidade, poderia-se arguir, é que o comum das pessoas não costuma pegar, para si,  no que está associado ao fracasso. Ainda, os que finalmente pegarem são tão poucos que nem justifica a promoção.

Ora, acontece que este “tapemos o negativo” dá muito jeito aos responsáveis da estratégia institucional para esconder um fracasso e não questionar um modelo. Trinta anos deveria dar para fazer análises embora também seja certo que, quando alguém só tem UMA estratégia, para que servem as análises? Se correr bem, regozijemo-nos, se correr mal, é a vida.

Queríamos o Windows em galego? Partir de zero. Queríamos ler Paul Auster? Partir de zero. Queríamos os desenhos animados da Peppa Pig? Partir de zero

Os inícios dos anos 80 foram muito importantes na história da nossa língua. Foi quando se começou a implementar a estratégia “oficial”. Partia da base de que a cidadania do Brasil e de Portugal e as suas produções, do género que fossem, não tinham nada a ver connosco. Eram estrangeiras.

A consequência mais relevante desta focagem era que, para construir, havia que partir de zero. Queríamos o Windows em galego? Partir de zero. Queríamos ler Paul Auster? Partir de zero. Queríamos os desenhos animados da Peppa Pig? Partir de zero. Queríamos o Asterix? Partir de zero.

É o momento de trabalhar com outras aritméticas, sobretudo porque não vamos ter muitas mais sequências de trinta anos

O pior é que conseguiram convencer a maioria dos galegos de que o seu zero particular era de todos, e multiplicar por zero sabemos no que dá.

É o momento de trabalhar com outras aritméticas, sobretudo porque não vamos ter muitas mais sequências de trinta anos.

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