Irmos Junt@s não é impossível

Existem muitos motivos para que não haja uma convocatória conjunta este 25 de Julho, Dia da Pátria. Isto é certo. Negá-lo, seria negar a realidade, ignorá-la, escondê-la. E o melhor modo de transformarmos a realidade não é negando-a, ignorando-a ou disfarçando-a, mas reconhecendo-a, assumindo-a e interpretando-a.

Tanto as organizações tradicionalmente convocantes de manifestações do 25J, todas elas situadas no plural campo da esquerda soberanista/ nacionalista/ independentista, quanto muitas das pessoas  tradicionalmente assistentes, são (somos) quem de elaborar uma listagem de legítimos motivos para não coincidir esse dia na mesma manifestação. É compreensível: diferenças de critérios à hora de abordar temas táticos ou estratégicos; desencontros e experiências negativas em diversas atividades ou espaços de convivência nos últimos anos ou meses; acedos debates e discussões que, em muitas ocasiões rematam em divisões, ruturas ou cisões, coletivas e/ou pessoais; tradicional falta de confiança, conhecimento ou relações; etc… Os motivos, realmente, são numerosos e, insisto, na sua grande maioria legítimos e compreensíveis, e cada quem pode fazer uma ampla listagem segundo tenha sido a sua experiência, pessoal ou coletiva. Mas, com ser numerosos, os motivos para não coincidir não são infinitos.

E não só: somos muitas as pessoas que estamos convencidas de que, com ser muitos, são menos e de menor importância que os motivos para sim coincidir. Enquanto estou a escrever esta linhas, são já mais de mil as pessoas que, a título individual, aderiram no Facebook a um evento criado para promover uma convocatória conjunta de manifestação para este 25 de Julho. Uma iniciativa nascida nas redes, com um texto premeditadamente simples e claro, que reclama às organizações convocantes que “façam todo o esforço possível” para tornar realidade essa convocatória. Mais de mil pessoas que declaram publicamente a sua “vontade de apoiar uma convocatória conjunta, plural participativa para este próximo 25 de Julho”. Mais de mil pessoas, que se reconhecem na sua variedade e diversidade, como sujeitos participantes, como atores e atrizes, e situam por riba das suas diferenças a vontade de caminharmos juntas.

Eu mesmo, tenho claro que são numerosas as pessoas e organizações com as que desejo partilhar manifestação esse dia, mas com as quais, por exemplo, mantenho importantes diferenças. Mas também sei que considero mais importantes todos os objectivos comuns (que existem), todas as coincidências na política do dia a dia (que não são poucas), e, sobre todo, sei que resulta imprescindível construirmos junt@s (que não necessariamente revolt@s) um futuro para Galiza: desde a esquerda e o soberanismo; desde o respeito, e mesmo desde  a promoção, da diferênça; desde a dignidade e o orgulho das nossas diferentes e complementares perspetivas.

Entre as mais de mil pessoas que aderiram no FB a essa proposta, há muita variedade: pessoas que militam em organizações políticas e outras que não; pessoas que se (auto)reconhecem e se acham cómodas dentro dalguma das diversas tribos, sectores ou famílias que compõem o campo da esquerda soberanista, e outras que não se situam nem se querem situar dentro de nenhum grupo; pessoas que têm detrás experiências diversas na militância sócio-política, algumas com muitos anos de trajetoria, e outras que nunca tiveram atividade política organizada… Mas todas elas, todas nós, temos uma cousa em comum: frente as divergências que nos afastam, apostamos polas convergências que nos juntam. Temos Vontade. Certo que a vontade não avonda para transformar a realidade: mas sem vontade nada se faz.

E chamo a atenção sobre um fato importante que nos deve fazer refletir a tod@s: desde que esta iniciativa foi lançada, não tem havido vozes contrárias. Publicamente quando menos, até onde eu conheço, não tem havido posturas contrárias a esta proposta e a ideia duma manifestação conjunta no Dia da Pátria de 2015. Esta é a realidade, e negá-la, ignorá-la ou escondé-la não faz sentido.

Agora é o momento das organizações, dessas às que fai referência a iniciativa lançada nas redes sociais, “as organizações tradicionalmente convocantes”. Elas devem procurar as formas para fazermos realidade este desejo. Chegar a acordos no modelo de convocatória, ato, propaganda, intervenções, declarações públicas,…  Não é fácil, evidentemente. Mas, também evidentemente, não é impossível.

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