Aldeias de preguiceiros

Camilo José Cela remitiu a todos os carteiros galegos um questionário pedindo informaçom sobre os “ditados tópicos” das suas zonas, isto é, os gentilícios, alcumes e também cantigas e adágios, insistindo Cela em que “no debe omitirse ningún apodo, aunque pudiera parecer insultante”

Preparando o seu Diccionario Geográfico Popular Español, o iriense Camilo José Cela remitiu a todos os carteiros galegos um questionário pedindo informaçom sobre os “ditados tópicos” das suas zonas, isto é, os gentilícios, pseudogentilícios (alcumes) e também cantigas e adágios, insistindo Cela em que “no debe omitirse ningún apodo, aunque pudiera parecer insultante”. O resultado tinha que ser espetacular por força, e a comarca de Ordes nom foi umha exceçom. O amigo Davide do Arroio fotocopiou-me as respostas correspondentes à nossa comarca, quase todas cobertas polos carteiros na primavera de 1971, e o certo é que nom defraudam: os Tolos de Lesta; os Anexos da Vilouchada; os Chorons de Angeriz; os Republicanos de Andorra de Sam Romám de Passarelos; os Queijeiros ou Pacholetas de Montaos; os Caciques, Cacicatos ou Caciquilhos de Ordes; os Cagarechos de Pereira; os Pouleiros ou Vaqueiros de Poulo; os Minhateiros da Fraga da Galinha (Ordes); os Pataqueiros de Meirama; os Raianos de Encrovas; os Galegos ou Brutos de Vila de Abade; os Berceiros (nom sei se a leitura é exata) de Cerzeda

Estes alcumes jocosos que se davam os vizinhos de uns lugares a outros podiam rematar calhando num topónimo, ficando a aldeia para sempre com o nome da brincadeira. Cabeza Quiles pensa que este foi o caso do lugar de Nogalháns (Berreio, Traço), topónimo festivo “que parece referirse a un antigo grupo rural alcumado de maneira graciosa co mote de nugalláns, isto é, folgazáns ou preguiceiros”1. A palabra mugalhám é das poucas exclusivamente galegas dentro do âmbito lusófono2, com o que dificilmente se acharám estes topónimos fora da Galiza, naçom cujo centro geográfico ocupa, aliás, um lugar de nome Nugalhás (na freguesia de Arcos, pertencente ao concelho de Antas de Ulha3), casualidade que resulta bem simpática.

Estes alcumes jocosos que se davam os vizinhos de uns lugares a outros podiam rematar calhando num topónimo, ficando a aldeia para sempre com o nome da brincadeira

Quanto ao topónimo da aldeia pertencente a Berreio, todos e todas as ordenses o tenhem mui presente, por dar nome ao emblemático conjunto hoteleiro do centro da vila, com umha cafetaria e pastelaria das mais senlheiras do concelho, em que tem parado Álvaro Cunqueiro, declarado admirador dos queijos frescos do país. “Servidor se acuerda de algunos quesos, comprados en la feria de Santiago, algunos jueves, y de otros comido en el Nogallás de Órdenes…”4, escrevera, saudoso, num dos seus livros mais populares.

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(Este artigo foi publicado orixinariamente esta semana na web Aldeias de Ordes, o novo blog de Carlos C. Varela sobre toponimia galega que naceu co inicio do novo ano 2018 e que será actualizado unha vez á semana con artigos desta temática escritos por el no cárcere)

 

NOTAS

1- Fernando Cabeza Quiles, Os nomes da Terra. Topónimos galegos, Noia, Toxosoutos, 2000, pág. 243.

2- Asociaçom Galega da Língua, Ortografia Galega Moderna confluente com o português no mundo, Santiago de Compostela, Através, 2017.

3- Xavier Sánchez Pazos, “Nugalhás: centro da Galiza”, Novas da Galiza nº 152, janeiro de 2017, pág. 28. No cálculo geográfico só se tem em consideraçom a Galiza autonómica, excluindo as comarcas orientais de EU-Návia, Vale do Íbias, Bérzio, Cabreira e Seabra.

4- Álvaro Cunqueiro, “La cocina gallega”, em Álvaro Cunqueiro&Araceli Filgueira, Cocina gallega, Everest, 1984, 3ª ed., pág. 69. Nom pudem consultar a ediçom original: A Cociña galega, Vigo, Galaxia, 1973.

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