A rã de Lesta e a resistência

“VENCEREDES VÓS.
Pero nosoutros
temos da nosa parte
os carballos de abril,
as espadanas, a ouricela,
o pan de sapo, as beloritas,
a ra de San Antón, o vagalume,
a troita, a vacaloura,
o xabaril e o corzo,
o mascato e a rula”.
Darío Xohán Cabana, “You Shall Overcome”.

Botamos de menos a Francisco Raña Boquete, assassinado polo fascismo num funesto 13 de agosto de 1936. Sócio de Germinal e vicepresidente de La Nueva Unión –o sindicato anarquista dos panadeiros da Corunha-, Francisco tamém fora escolhido polos seus vizinhos de Lesta alcalde de bairro no verão de 1922. Botamos de menos a Francisco porque eles havia ajudar à paróquia, ameaçada por um novo vertedoiro de lixo, que viria somar-se ao da Areosa, às plantas de GESUGA e SOGAMA, e ao alento macabro da térmica de Meirama. Lesta toma o seu nome de anthexanthum odoratum, umha gramínea com a qual Álvaro Cunqueiro passeava na feira de ervas das Sam Lucas, sonhando que o acompanhava o mesmíssimo perfume de Julieta.

Agora Julieta vai ter que escolher entre a mâscara anti-gás ou a barricada. Reciclaje Ambiental Lesta S. L. quer instalar o vertedoiro –isto é, o seu negócio- numha zona de prados, poças e regatos, que deitam as suas águas no Lengoelhe, rio que Pondal increpava como “feo fillo das brétomas/ e das uces desleiradas”, e que hoje dá, em boa parte, de beber à cidade de Compostela. Ainda, o vertedoiro danaria seriamente o hábitat de Hyla arbórea, rã em risco potencial. Se nom fazemos nada, o seu nome poderia somar-se ao de outras formas-de-vida das que só fica o nome, como umha triste adivina em ruinas. Eis o zebro ou ônagro, que abundava no país durante a Idade Média e que deu nome à zebra africana, mas que hoje só sobrevive, como umha palabra oca, em topónimos como o Campo da Zebra, terreno entre os lugares do Cortelho e de Ínsua Boa, no linde mesmo entre as comarcas de Ordes e Bergantinhos. Eis o lubicám ou lobo cerval, animal fascinante, desaparecido há séculos, mas do que ainda se guardava a avoa do Marcos Abalde quando levava as vacas pacer. Eis, enfim, Francisco Raña Boquete, libertário de Lesta, a paróquia da erva que parecia Julieta.

O capitalismo tornou-se ambiental, climático; matando com a mesma naturalidade que um tsunami ou um terremoto, despolitiza-se. Num mesmo processo generalizado de destruiçom leva por diante corpos, paróquias, palavras e rãs. Tanto enche de morte as ubres das vacas de Lesta como apaga o nome de Francisco Raña Boquete. Mas desta volta venceremos nós,

Porque nossoutras
temos da nossa parte
a rã de Lesta,
o zebro e o lubicám,
o filho das brêtemas
e o panadeiro anarquista,
a erva das Sam Lucas
e o cheiro de Julieta.

Cárcere de Villabona, 18 de outubro de 2016

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