É sabido que é a dinámica do investimento o que determina e orienta o crescimento económico. Sabemos também que a sua procedência –residência do investidor, sede corporativa – condiciona em gram medida a estabilidade temporal do investimento e a rede de correspondências que provoca. Um fundo de investimento é como sabemos muito mais inconstante que umha iniciativa autóctona.
Pensamos no investimento estrangeiro directo, o IED que aflui a um país. Espanha é um país muito atractivo para o investidor estrangeiro e também um activo investidor em outros países. No que vai de século, 2001-2013, o capital afluente ao Estado espanhol através de operaçons IED superou os 210 milhares de milhons de euros (210 giga euros ou milhardos, como também podemos dizer), enquanto as saídas de capital de procedência espanhola, duplicárom amplamente tal quantidade no mesmo período: 451 milhardos. Lembremos, para fixar ordens de magnitude, que o PIB galego bordeja actualmente os 56 milhardos.
O capital externo flui para as áreas onde se concentra o capital. Galiza absorveu apenas 1,4% do fluxo de capital externo
Se observamos o IED afluente a Espanha nos treze anos considerados, chegamos a umha conclusom trivial: o capital externo flui para as áreas onde se concentra o capital em aplicaçom da chocante sentença evangélica de que ao que tem se lhe dará e ao que nom tem ainda disso será despojado (Mt. 13, 11). Madrid absorveu no período aludido 59,6% do capital entrante e Catalunha o 16,5% – mas das ¾ partes do capital recebido, entre ambas as comunidades – Galiza absorveu apenas 1,4% do fluxo de capital externo. O padrom distributivo do capital investido por Espanha no estrangeiro é semelhante embora algo menos desequilibrado: 63,3% entre Madrid e Catalunha. O investimento externo da comunidade galega situou-se em 2,5% do total. Som dados oficiais, procedentes de Datainvex. Umha breve cautela apenas para a sua interpretaçom, o efeito sede: a concentraçom de iniciativas em Madrid mascara o feito de ali residirem as sedes corporativas de muitas sociedades que mantenhem centros produtivos em diferentes províncias.
Se analisamos o padrom distributivo do investimento português, quer como emissor quer como receptor, comprovamos a clara preeminência da Galiza, apesar da sua modéstia económica relativa
As preferências da economia portuguesa em matéria de investimento som outro falar. Se analisamos o padrom distributivo do investimento português, quer como emissor quer como receptor, comprovamos a clara preeminência da Galiza, apesar da sua modéstia económica relativa. Umha linha de força mais no espaço ibero ocidental que partilha idioma e interesses embora nom o reconheça.
Galiza foi receptora de 18,6% do total dos 5,98 milhardos remessados por Portugal a Espanha
No período 2001-2013, Portugal exportou capitais a Espanha por importe de 5,98 milhardos e recebeu dela 14,73 milhardos. Umha notável intensidade investidora em ambos sentidos considerando que a economia espanhola multiplica por seis a portuguesa, e esta por três à galega. O facto, altamente significativo, salta à vista ao comprovarmos que Galiza foi receptora de 18,6% do total dos 5,98 milhardos remessados por Portugal a Espanha. Contodo, Madrid absorveu 33,8% e Catalunha 20,5%. Umha simples proporçom permite-nos concluir que o atractivo da Galiza como destino do capital português multiplica por treze à do resto do mundo: 18,6/1,4 = 13,3. Também podemos perceber este efeito atractivo, embora mais atenuado, no investimento galego dirigido a Portugal: a Galiza contribuiu com quase 4% aos 14,73 milhardos remetidos pola economia espanhola ao país vizinho no período aludido. Madrid contribuiu com 55,9% e Catalunha com o 23,5%. Os investidores galegos revelam, em consequência, umha preferência polo destino português 50% superior á que mantenhem com o resto dos destinos estrangeiros de capital: 4/2,5 = 1,6. O fenómeno revela um notável viés em tema tam escorregadiço como o dos padrons de comportamento do investimento internacional. Os economistas deveriam tentar explicá-lo.
Os grandes grupos empresariais portugueses protagonizárom destacadas adquisiçons corporativas na Galiza
Os grandes grupos empresariais portugueses protagonizárom destacadas adquisiçons corporativas na Galiza. Lembremos a precoce adquisiçom do grupo cimenteiro Corporación Noroeste por parte de Cimpor-Cimentos de Portugal (1996) ou as posteriores do Banco Simeón pola Caixa Geral de Depósitos (2002), de Leite Celta, com base em Ponte d´Eume, polo grupo portuense Lactogal (2006) ou a do Grupo Tafisa (Ponte-Vedra, Betanços, Ponte-Caldelas) no mesmo ano, por parte de Sonae Indústria, a corporaçom gerida com mao firme por Belmiro de Azevedo.
Nom faltárom no entanto oportunidades desperdiçadas como a da (im)possível fusom da Unión Fenosa com Electricidade de Portugal que teria permitido constituir um sólido grupo energético na fachada atlântica que nos une. A Fenosa optou por Gas Natural e a EDP decidiu abordar a expansom ibérica pretendida absorvendo o grupo asturiano Hidrocantábrico (2002) e o basco Naturcorp – Naturgas Energia, agora – para configurar um importante grupo energético ibérico. Que perdeu a Galiza? centralidade económica e capacidade de desenvolvimento endógeno. Catalunha saiu favorecida.
Nom faltárom no entanto oportunidades desperdiçadas como a da (im)possível fusom da Unión Fenosa com Electricidade de Portugal que teria permitido constituir um sólido grupo energético na fachada atlântica que nos une
Da parte galega, o investimento mais significativo em Portugal foi o protagonizado por Megasa (Narom) com a adquisiçom da Siderurgia Nacional Productos Longos (1995).
Escasseia na Galiza o olhar estratégico, faltou sempre como falta consciência nacional ou simples perspectiva de longo prazo. A capacidade projectiva é um atributo de quem sabe olhar de longe. Galiza precisa um empresariado capaz de olhar o mundo com olhos próprios e perspectiva internacional. Em Portugal existe em abundáncia, por história e por necessidade. Infelizmente, Galiza nom está acostumada a mirar para Portugal.