Se o mundo considera que não é grave que tanto o trabalho quanto a própria vida das mulheres tenha menor valor, então mostraremos como é um só dia para produzir, trabalhar e viver sem nós. Essa é a ideia que move a grande paralisação proposta para este 8 de março: uma greve geral feminista que promete abalar o mundo.
Proposta por dezenas de movimentos feministas em países como Austrália, Bolívia, Chile, Brasil, Equador, Irlanda, Israel, México, Suécia, Nicarágua, EUA, Itália, Alemanha, França, Inglaterra, Polónia, Escócia, Turquia, El Salvador, entre muitos outros a greve feminista servirá como protesto contra o feminicídio, o machismo, a desigualdade, a violência contra as mulheres, a nossa exploração no trabalho e na economia... O objectivo final é que todos os trabalhos fiquem sem a nossa presença.
A paralisação é também um levantamento contra o avanço reacionário contra o avanço reacionário no Ocidente e contra as agendas que visam reduzir direitos e segregar minorias. Aliás este 8 de março mostraremos a força das mulheres e a importância das nossas achegas à sociedade. A greve feminista é um mais de muitos passos que as mulheres já demos e ainda daremos para fazer um mundo mais igual num futuro melhor, feminista e livre.
Se houver sucesso, a greve internacional das mulheres marcará um salto calitativo e cantitativo no comprido processo de reconstrução das mobilizações sociais globais contra o neoliberalismo e o imperialismo. Isso também sinalizará a força desta nova fase do movimento feminista.
As greves das mulheres sempre foram mais abrangentes em seus alvos e metas do que as paralisações tradicionais por salários e condições de trabalho. A greve feminista surge da reflexão política e teórica sobre as formas concretas do trabalho das mulheres nas sociedades capitalistas.
Em 1975, 90% das mulheres da Islândia fizeram uma greve nos centros de trabalho e rejeitaram realizar trabalho social não remunerado durante um dia, com o fim de tornar visível o trabalho e o contributo das mulheres islandesas para a sociedade. Elas exigiram salários iguais aos dos homens e o fim da discriminação sexual no trabalho. No Outono de 2016, as ativistas polonesas adoptaram a estratégia e a mensagem da greve das mulheres da Islândia e organizaram uma greve maciça de mulheres para impedir a aprovação de um projecto de lei no parlamento que proibisse o aborto. Ativistas argentinas fizeram o mesmo em outubro de 2017 para protestar contra os assassinatos machistas ao berro de "Ni una menos. Vivas nos queremos".
No capitalismo, nosso trabalho no mercado formal é apenas uma parte do trabalho que fazemos. As mulheres também somos as principais produtoras de trabalho reprodutivo, trabalho não remunerado que é igualmente importante para a reprodução da sociedade e das relações sociais capitalistas. A greve feminista quer tornar visível esse trabalho não remunerado e enfatizar que a reprodução social também é um espaço de luta.
Além disso, devido à divisão sexual do trabalho no mercado formal, um grande número de mulheres ocupam empregos precários, não têm direitos trabalhistas, estão desempregados ou são trabalhadores sem documentos.
As mulheres que trabalhamos no mercado formal e informal e na esfera social não reprodutiva somos todas trabalhadoras. Essa consideração deve ser central para qualquer discussão sobre a reconstrução de um movimento operário não só na Galiza, mas também globalmente. Enfatizar a unidade entre o espaço de trabalho e o fogar é fundamental, e um princípio organizador central para a greve de 8 de março. Uma esquerda que tome a sério o trabalho das mulheres deve incluir no seu discurso não só as greves laborais, mas também as greves do trabalho reprodutivo social não remunerado e outras formas de protesto que reconhecem a natureza de género das relações sociais.
Em vez de um foco estreito sobre as lutas no espaço de trabalho, precisamos conectar movimentos baseados em género, raça, etnia e sexualidade. Só criando essa totalidade colectiva seremos quem de abordar a complexidade das questões e demandas apresentadas pelas diversas formas de mobilização. Este é o caminho que a greve internacional das mulheres persegue.
Neste 08 de março, a terra vai tremer. As mulheres do mundo nos unimos e organizamos uma medida de força e um grito comum: Greve Internacional de Mulheres. Nós paramos. Fazemos greve, nos organizamos e encontramos entre nós. Colocamos em prática o mundo em que queremos viver.
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