Agustín Fernández Paz, esse matriota

Fico farto de tanto patriota. De tanto agente intelectual que trabalha a pátria desde a concorrência, o estabelecimento de capelinhas, de privilégios, do pedigree sustentado em influências, na perpetuação no poder e na conivência com os chiringuitos. É uma atitude patriarcal que tolera o autoritarismo e faz sucumbir os sentimentos de irmandade, companheirismo e solidariedade (cfr. Cartas a Emilia Pardo Bazán, de Teresa Barro). É o que o sistema antidemocrático espanhol precisa para subsistir sob o ténue manto da democracia.

Na cultura galega há demasiad@s patriotas para um país tão pequeno, demasiad@s para uma cultura tão minguada. São pessoas que sugam sem cessar o poder dos seus feudos institucionais, depósitos de poder simbólico —o poder real não está nestas poças em que peixinhos saltam extenuados— ou prados em que só as “vacas sagradas” são capazes de pascer durante anos sem conta (cfr. Tertúlia revisitada, de Xavier Alcalá).

Ora, a cultura que el@s promovem é uma puta mal paga que não consegue descansar. São, deste jeito, os artífices dessa prostituição que se perpetua em guerrinhas grupusculares, em censuras gráficas e noutras situações em que diversos modos de galeguismo se tornam invisíveis ou empecidos para medrar. E assim a Terra não floresce mais, uma vez que as novas sementes não têm hipóteses de germolar.

Mas, face a estas atitudes, sempre achei melhor os que veneram a Mátria, esse espaço que acolhe todos os galeguismos sem os discriminar, em que a intolerância, a impaciência, o maniqueísmo e o egoísmo não podem bem prosperar. Entre esses matriotas, sem dúbida, destacou Agustín. Quem o conheceu sabe que nele ressaltava o compromisso com a verdade e a justiça, e que sempre se implicou em projetos desde a humildade e o esforço pessoal e não desde os pálios da cultura nem desde os ouropéis institucionais.

Lembro bem como sintetizava seus méritos (imensos, dizia eu) nas entrevistas que tive a honra de lhe fazer: depois de tentar ser operário decidiu ser mestre, perante a falta de conteúdos literários houvo de fazer-se criador, a partir do sucesso na escrita chegou a ser escritor… e assim o rosário de prémios recebidos e as muitas línguas em que suas obras fôrom traduzidas só tinham sido consequência de andar o caminho por que seu coração o guiou, não o resultado do génio, do destino ou de uma visionária redenção nacional. Nada de pretensões, nada de títulos, nada de avareza nem procura de poder.

Logo vimos a saber que, face aos que se perpetuam nos postos mais apetitosos por “lealdade” ou “responsabilidade” institucional, o nosso Agustín foi coordenador durante lustros da coleção infantil de Edicións Xerais em tempos em que a literatura infantojuvenil não era um âmbito de prestígio, mas que com muito esforço e talento contribuiu a converter num espaço de qualidade, reconhecimento e prosperidade económica. No entanto, esta atividade na sombra, na intimidade de um quarto em que o escritor confessa ao demo o sucesso e a frustração, não evitou que desse a cara pola língua quando rejeitou o Prémio da Cultura Galega para protestar contras as políticas linguicidas do Partido Popular. Onde ficam e quanto valem os esforços patrióticos de quem salta ano trás ano de canapé em canapé institucional?

Tenho para mim que esta atitude tão generosa, tão pouco interesseira, tão pouco beligerante e competitiva não é bem patriarcal, e por isso não é de patriotas direitos. São ações que defendem a Mátria, essa barriga comum que devemos é reproduzir junt@s na Terra, um lugar para a liberdade e a fraternidade, para o galeguismo prosperar sem as fronteiras mentais dos estados presentes e futuros, um espaço para a criação e o convívio, sem censura nem dedos erguidos nos mandando à marginalização, sem ostracismos… Sim, amig@s, junto a ess@s matriotas que o Agustín representa é que gostava de ver-me desde já.

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