Antepor o relato, queima-lo tudo

Bombeiros actuando no incendio de Oímbra, en agosto de 2025 CC-BY-SA Brif Laza

Os lumes que estam a assolar o país nestes dias viriam nom só a mostrar- nos as consequências de gestionar o rural coma umha zona de sacrifício em pós das dinâmicas de acaparamento, concentração e perturbação associadas ao capital

L'economia convencional veu la natura com un subsistema de l'economia. L'economia ecològica veu l'economia com un subsistema de la natura, subjecte a les seves lleis i límits.— Joan Martínez Alier

 

Se em termos ecológicos as crises venhem pôr a descoberto umha situaçom na que um ou vários ecossistemas sofrem alteraçons bruscas que superam a sua capacidade de resiliência, provocando danos irreversíveis; em termos políticos, a crise viria supor um ponto de rutura ou colapso no funcionamento normal dum sistema político, que ameaça a sua estabilidade e legitimidade.

Neste senso, os lumes que estam a assolar o país nestes dias viriam nom só a mostrar- nos as consequências de gestionar o rural coma umha zona de sacrifício em pós das dinâmicas de acaparamento, concentração e perturbação associadas ao capital, aliás, trairiam consigo umha nova perspectiva desse sacrifício, um novo ritual de oferenda aos deuses, onde o rural volta ficar à mercê de interesses alheios, neste caso aos interesses associados à direita e extrema-direita na sua disputa política polo controle do Estado.

Aliás, trairiam consigo umha nova perspectiva desse sacrifício, um novo ritual de oferenda aos deuses, onde o rural volta ficar à mercê de interesses alheios, neste caso aos interesses associados à direita e extrema-direita na sua disputa política polo controle do Estado

Este novo ritual de oferenda nom se realiza com preces, senom com silêncios cúmplices e negligências calculadas. A estratégia é clara: priorizar o relato sobor da realidade e a gravidade dela. A tese é simples e demolidora: a configuraçom e preeminência do discurso da direita contra o Governo do Estado, desenhado pra apoderar-se do poder em Madrid e voltar governar num “estado que vaga ao chou por mor do desgoverno socialista”, somado ao ego e aos interesses pessoais do presidente da naçom, Alfonso Rueda, e mais do aspirante a presidente do Estado, Alberto Nuñez Feijóo, valem mais que salvar e proteger o rural e as suas gentes das chamas.

A ferramenta legal pra fazer fronte a catástrofes de tal magnitude existe, e umha vez comprovado que o sistema de extinçom autonómico se viu superado pola magnitude dos lumes, como assim evidencia a realidade e as declaraçons aos médios dos implicados, seria a declaraçom da situaçom operativa nível 3 do Plano Especial de Proteçom Civil perante Emergências por Incêndios Florestais na Comunidade Autónoma de Galiza (doravante, Peifoga). É dizer a «declaraçom de situaçom de emergência correspondente e consecutiva à declaraçom de emergência de interesse nacional polo Ministério do Interior. Efetuara-se por própria iniciativa ou a instância do conselheiro competente em matéria de proteçom civil ou do delegado do Governo em Galiza.»

Porém, está opçom foi conscientemente rejeitada polo governo autonómico. Já que logo, reconhecer que a situaçom desborda as capacidades autonómicas, como assim evidencia tanto a situaçom achegada polos equipos de extinçom implicados, como polas declaraçons de faltas de médios do próprio equipo de governo do Partido Popular — quem presumia em declaraçons à RTVG, num exercício de teatralidade e vitimismo que só pom de manifesto a sua ineficácia, que lhe "foi enviada umha carta a Sánchez solicitando mais médios estatais" ao tempo que após dias asseguravam “nom solicitar o nível 3 porque o Estado nom poderia aportar mais médios dos que estam ativos atualmente”—, seria admitir a falência dum modelo de gestom da crise incendiária que leva anos despossuído de médios suficientes pra atender situaçons de emergências que, tristemente, nom nos som novas.

As chamas que devoram o país continuam a por de manifesto a versom mais crua dumha crise ecológica que, como assinalava o economista catalam Joan Martínez Alier, nom é um problema técnico, senom político, onde o capitalismo depredador trata a natureza como umha simples mercadoria

Assim como a capitulaçom dumha narrativa, já que, assemade, a declaraçom do nível 3 implicaria dar por finalizada a posta em cena do conflito co Governo central e, num ato de humildade impensável, ter que reconhecer que é necessária a ajuda de quem levam meses pintando como ilegítimo e incompetente. Pois, segundo o PEIFOGA, a declaraçom desse nível suporia que a direçom do plano ficaria da mam dum «comité de direçom, formado por um representante do Ministério de Interior (delegado do Governo), a quem lhe corresponderá dirigir as atuaçons de todas as administraçons públicas, e polo conselheiro competente em matéria de proteçom civil» ao tempo que o gabinete de informaçom passaria a estar formado por um «responsável do gabinete de imprensa da Delegaçom do Governo, coa colaboraçom dos responsáveis de imprensa das conselharias competentes em matéria de proteçom civil e em incêndios florestais e responsáveis de imprensa dos municípios afetados». É dizer, nom só cederiam o mando operativo real, senom também —e aqui radica a chave do conflito— o relato. Perdendo, amais, a capacidade de gerir a informaçom, assim coma as porta-vozias e a foto final da crise, que já nom seriam exclusivamente sua.

Emporisso, ante a possibilidade de perder o relato, preferem a fotografia política dum cenário de guerra onde o povo tem que safar-se ele mesmo ante um operativo sobrepassado e abandonado, cum presidente em chamas, mas “a fronte e em pé”, enfundado num chaleco de emergências de oficina, fronte à imagem —pra eles catastrófica— dum presidente que pede ajuda ao “malvado Perro Sanche”. Pois, no descurso vertido à sociedade e o atuar do PPdG está longe de amparar-se numha postura de denuncia autonomista ante o Estado, a pesarem da relaçom de dependência que se estrai do próprio PEIFOGA.

Se a crise ecológica pom a descoberto os sinos dum ecossistema ferido de morte polo lucro e o progresso do capital, a crise política revela, pola sua banda, a instabilidade dum Estado no que se prioriza o relato sobor da vida

O sacrifício é, assim, duplo: por umha banda, o território e as suas gentes, oferecidos durante décadas ao deus do lucro e do progresso, aprofundam nas misérias que nos empurraram até a situaçom atual; e, pola outra, a autonomia e a responsabilidade institucional, ficam imoladas no altar da ambiçom política. A pesarem de que no médio da catástrofe volta xurdir o exemplo da organizaçom e a decência popular, así coma o sobre-esforço dos equipos de extinçom, concelhos e paróquias ficam assolados por cinzas e fogos, queimados em pós do benefício dumha direita que joga com as vidas dos nossos vizinhos como se fossem peons num tabuleiro co que jogam em Madrid.

Namentres, as chamas que devoram o país continuam a por de manifesto a versom mais crua dumha crise ecológica que, como assinalava o economista catalam Joan Martínez Alier, nom é um problema técnico, senom político, onde o capitalismo depredador trata a natureza como umha simples mercadoria, e isso está a exterminar-nos ao superar, como se comprova agora, a capacidade de resiliência do modelo territorial atual e das suas políticas pró-desenvolvimento económico. Porque, como mencionamos ao começo, se a crise ecológica pom a descoberto os sinos dum ecossistema ferido de morte polo lucro e o progresso do capital, a crise política revela, pola sua banda, a instabilidade dum Estado no que se prioriza o relato sobor da vida, a estratégia pessoal destes líderes sobre a emergência, e o poder sobre o dever, amossando as arelas de dominaçom dumha direita que aproveita a devastaçom pra tentar consolidar o seu relato. Inda que pra ilo tenha que queimá-lo todo.

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