Crise e corrupção

Estamos imersas numa crise de dimensões desconhecidas até agora. É uma crise econômica, ambiental e moral. Não se fala noutra coisa, mas ninguém quer por o ajôujere ao gato denunciando a verdadeira causa desta no território espanhol. Aqui tem características diferenciadas por respeito ao resto da Europa. Cá está adubada por um desemprego de mais do 22%, na Espanha e do 18% na Galiza, e acompanhada duma destruição dos sistemas produtivos. É um caso muito grave.

Desde que o Estado da Espanha foi embarcado na loucura aditiva do urbanismo a toda costa, muitas vozes se têm levantado avisando do perigo social que implicava aquela quentura contagiosa de fazer dinheiro fácil

Desde que o Estado da Espanha foi embarcado na loucura aditiva do urbanismo a toda costa, muitas vozes se têm levantado avisando do perigo social que implicava aquela quentura contagiosa de fazer dinheiro fácil e a base de processos especulativos.

Nada foi capaz de resistir ao seu empurrão imparável. Governos locais requalificando solo, empreiteiros vendendo a i-alma para usufruir informação privilegiada, malas com bilhetes fresquinhos a caminhar desde os bancos até os bufetes das câmaras municipais, para aterrar nos bolsos de políticos corruptos e corrompíveis. E os partidos majoritários aproveitados da alternância no poder, (os dois, PP e PSOE) olhando para outro lado e festejando a grande orgia, chamada de boom econômico, na altura, em que iam metendo a todo o Estado. Impedindo (repito, os dois partidos) queixas em Bruxelas feitas por diferentes coletivos.

Também na Galiza, ecologistas, foram alcunhadas/os de atrasados, de por atrancos só por estar à contra de todo, de ir contra o progresso e o “justo enriquecimento” do pessoal que queria transformar uma leira em solo urbanizável.

Também na Galiza, ecologistas foram alcunhadas/os de atrasados, de por atrancos só por estar à contra de todo, de ir contra o progresso

Num programa de debate na TVG, em que estive e participava o representante dos empreiteiros da construção de Ponte-Vedra, pusera ele este exemplo: Vocês ( as/os ecologistas) querem preservar o território, nomeadamente nas beiras do mar, mas um meu amigo que tem uma leira em Porto Novo que apenas lhe dava para dois limões, mercê a mim tem agora um prédio de apartamentos que lhe da bons rendimentos em alugueres para a verão. Que caros nos saíram esses limões! Que caros nos estão a resultar as insensatezes dos que tinham a responsabilidade de ministrar o território e o dinheiro da cidadania, mas fechando ouvidos e olhos a todo conselho de prudência que se levantava por toda a sociedade, desvaleram quer um quer o outro.

Conhecemos por UNICEF que 1 de quatro meninos que habitam em Espanha estão sob o limiar da pobreza. Nos que criamos que éramos o primeiro mundo! Aos desafiuzamentos de famílias que ficam na rua sem abrigo e sem lar acrescentamos, a perda das estruturas econômicas e empresariais tradicionais, que a maré da construção massiva levou por  diante . Já não há ebanistas, nem artesãos-carpinteiros/as, desaparecidos entre as maquinas que faziam portas e mobílias em serie. E isso fornecia muitos postos de trabalho de especialistas e artistas que se perderam.

Os diferentes nichos laborais baseados na cultura do artesanato foram destruídos e muita gente abandonou os seus estudos, atraída pela tentação do trabalho fácil, a por tijolos e levantar prédios. Entre tanto, imensas superfícies de solo útil, foram-se cobrindo de betão, perdidas já para sempre para o verde, a agricultura ou a natureza.

Os diferentes nichos laborais baseados na cultura do artesanato foram destruídos e muita gente abandonou os seus estudos, atraída pela tentação do trabalho fácil

As ribeiras foram as pior tratadas. Escâdalos urbanísticos floresceram por toda a costa. O desastre econômico do estourado da borbulha imobiliária é agora acompanhado pelo desastre ecológico: As águas não são filtradas através do cimento e os rios e os mares som atingidos da sua poluição. Em Sangenjo, Sada, Cee ou tantas vilas (outrora formosas) a ribeira foi substituída por recheios transformando as antes verdes rias em poças imundas de água choca (a ria de Sada é o paradigma). Vigo foi multada pela União Européia com 20 milhões de euros pela contaminação das suas águas, agravada pelos recheios.

Para construir a toda costa foram movimentadas imensas quantidades de terra quer nas pedreiras ( sempre a céu aberto, neste país sem lei que se cumpra) quer nos aterros. Estes movimentos de terra acabam por poluir rios e mares que não podem carregar com os esgotos. Muitos rios foram entubados porque molestavam nas urbanizações. Logo vieram as cheias como as de Vila-Garcia, Bueu, Cee, provocando inúmeros danos a população e aos bens públicos. As despesas públicas por esta causa foram enormes. Mas os ganhos do urbanismo insensato não as pagaram. Foi o comum da vizinhança.

O caso de Barreiros na costa de Lugo é paradigmático

O caso de Barreiros na costa de Lugo é paradigmático. ADEGA denunciou em varias ocasiões a desfeita urbanística deste concelho que ocupou a chaira da rasa costeira com lotes de prédios, sem terem infra-estruturas e que ninguém vai ocupar. O território ficou perdido para sempre. Os fornecedores arruinados e muita gente foram para o desemprego sem possibilidade de saída.

Ainda por cima os bancos que se lucraram com os prestamos para a especulação dos solos e as urbanizações ficaram infetados de ativos tóxicos como se as suas caixas fortes estivessem cheias de bombas fétidas. O estado teve de os “salvar” e já leva injetado Miles de milhões de euros que pertencem a toda a cidadania para evitar a sua bancarrota. As outrora grandes empresas construtoras estão em falência e alastram com elas aos bancos que lhes emprestaram o dinheiro:

As capitalizações de Ferrovial, ACS, Acciona, OHL, FCC e Sacyr sumam 17.300 milhões de euros fronte un endebedamento conxunto que se eleva a 46.320 millóns de euros. O Wall Street Journal alerta dos problemas de tentar garantir com fundos públicos a exposição dos bancos espanhois ao ladrillo (338.000 millóns de euros) e acrescenta o dado da débeda privada de familias e empresas (dous billóns de euros).

Obras faraónicas como a cidade da Cultura, parida da mente febril e megalómana do Fraga Iribarne foram denunciadas na prensa extrageira. O seu custo de contrução não garda relação com a nossa pobre renda de galegas/os ( sempre menor à media espanhola). Ainda o seu mantimento pode ruinar qualquera governo.

Insensateces como esta existem por todo o Estado Espanhol como aeroportos sem aviões ou fatos oferecidos em troca de informações privilegiadas e requalificações de terrenos. Certamente o Mediterráneo foi atingido duma marea que alastrou a ética, estrutura social e a morálidade junto com a destruição, para sempre da sua costa. A Caixa de Aforros do Mediterráneo ficou afogada no sutnami e engolida pola banca de Madrid. Todavia, esta nomeada agora de Bankia, tem de ser resgatada da falência e vamos ser todos/as com os nossos tributos a pagar o seu desastre.Sabemos ,ainda hoje que vão ser necessarios mais de 20 milhões de euros para acudir-lhe.

Entretanto temos que sufrir a destruição do estado de ben-estar com recortes em todos os principais eidos do bem público: Educação ou sanidade.
Que caro nos sai Madrid!

Entretanto temos que sufrir a destruição do estado de ben-estar com recortes em todos os principais eidos do bem público: Educação ou sanidade.
Que caro nos sai Madrid! Essa autonomia artificial por excelência. Essa cova de políticas/os .... As/os ecologistas vimos alertando da destruição do territorio por causa do urbanismo descontrolado em que estavamos imersos/as. Agora os tempos nos dão a razão. Esperemos que serva de lição. Mas não sou optimista.

Este escrito destila indignação. Um sentimento justo para todas as pessoas que têm a desgraça de ser espanhol/ola por lei de nascimento e habitação. É tambem um sentimento de vergonha, por que os políticos/as que temos são eleitos/as e os eleitores /as não os puniram por corruptos/as.

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