Espanha: volatilidade nos mercados, inconsistência na política.

Todo o sólido se esvaece no ar reza um memorável fragmento do Manifesto Comunista que alude ao labor revulsivo e profanador de valores e instituiçons desempenhado polo desenvolvimento capitalista. A Grande Depressom em que estamos instalados desde o 2008 parece confirmá-lo: a inexorável agudizacom das doenças dos mercados -o ajuste económico- condena à irreleváncia às instituiçons tradicionais, como a judicatura e o parlamento.

Rematada a histórica gesta da roja voltamos à consabida pressom dos índices que medem a febre especulativa: o IBEX 35 e a prima de risco

Rematada a histórica gesta da roja voltamos à consabida pressom dos índices que medem a febre especulativa: o IBEX 35 e a prima de risco. Ambos os dous de máximo protagonismo nos meios, quase como os prognósticos do tempo. O IBEX transmitindo a desvalorizaçom das grandes empresas espanholas na bolsa; a prima, a aversom à dêveda pública espanhola dos subscritores em pugna aberta pola segurança da alemã.

A política emanada de Madrid emite em entanto confusas mensagens, em forma controlada e tonalidade plana, que apenas conseguem dissimular a inquietude que estas provocam no próprio porta-voz. O presidente apenas comparece; quando o fai é para formular concisas sentenças tautológicas pontuadas de repetiçons e indecisons como se pretendesse sublinhar o medo que o acomete por ter que transmitir tam letal informaçom. É o autocontrolo superlativo que tenta borrar todo significado, o grau cero da comunicaçom política.

O Banco de Espanha vem de publicar os resultados da Balança de Pagamentos do primeiro quadrimestre do 2012. Os resultados mais que preocupantes som inquietantes, ameaçantes mesmo.

Evoluçom da Balança de Pagamentos de Espanha no primeiro quadrimestre do 2012
Conta Financeira (milhons de euros): Entradas Saídas -121.891,60
Investimento directo     7.947,90
De Espanha fora   1.250,80 1.250,80
Do exterior em Espanha 9.198,70   9.198,70
Investimento em carteira     -56.347,20
De Espanha fora   -1.594,20 -1.594,20
Do exterior em Espanha -57.941,40   -57.941,40
Investimento em depósitos     -77.001,50
De Espanha fora   36.225,00 -36.225,00
Do exterior em Espanha -40.776,50   -40.776,50
Derivados financeiros, permutas     3.509,20

 

Nos primeiros quatro meses do 2012, fugírom de Espanha 122 mil milhons de euros enquanto o país reclamava com urgência 100 mil milhons para recapitalizar a banca. Interessa destacar que os investidores foráneos repatriárom 58 m. m. que mantinham em acçons e bonos mais outros 41 m. m. materializados em depósitos e empréstimos. Os cidadaos espanhóis, pola sua parte, colocárom no exterior depósitos por 36 m. m. junto com 1,25 m. m. adicionais colocados em investimentos directos no estrangeiro. Os movimentos de entrada de capital -quer por investimento directo de estrangeiros em Espanha quer por repatriaçom de carteiras de títulos de propriedade espanhola- apenas tenhem releváncia na cifra final dos 122 m. m. de euros evaporados. Estes dados nom admitem comparaçom doada: no primeiro quadrimestre do 2011 entraram em Espanha algo mais de 24 m. m. de euros.

O presidente Rajoy baseou a sua campanha eleitoral, há menos de seis meses, na mesquinha tese ad hominem de que as dificuldades da economia espanhola provinham do terror dos mercados aos desvarios e inconsistência política de Zapatero

Nom sei se é este um momento oportuno para lembrar que o presidente Rajoy baseou a sua campanha eleitoral, há menos de seis meses, na mesquinha tese ad hominem de que as dificuldades da economia espanhola provinham do terror dos mercados aos desvarios e inconsistência política de Zapatero que ele próprio ia remediar de contado mediante a simples apariçom às multidons em carne mortal. Talvez seja aconselhável exercitar a magnanimidade ante tamanha mostra de estupidez: a ridícula mensagem ocultava apenas o medo irreflexivo dos populares a umha nova derrota eleitoral sem que nengum dos curtidos assessores do presidente tivessem a bem avisar-lhe que o inimigo estava bem morto e que o que cumpria era inaugurar um discurso novo: o da reforma decidida e o da solicitude de coragem à cidadania. Seguimos esperando o discurso. Os assessores seguem ocupados na árdua tarefa de enterrar a Zapatero ante o assombro dos assistentes ao funeral.

Também aqui nos contárom que fora o gasto incontinente em cadeiras e automóveis o que levara o país à ruína

Também aqui nos contárom que fora o gasto incontinente em cadeiras e automóveis o que levara o país à ruína; junto com algumha deficiência na programaçom do gasto como a injustificável recusa ao uso de utensílios de jardinaria para a prevençom de incêndios. Comportamentos típicos, em fim, da esquerda que deixárom o país como todos sabemos. Alguns jornais -vale a pena lembrá-lo- se apressurárom a amplificar tam sábias consideraçons.

Governar é enfrentar-se a situaçons conflitivas tentando merecer a mais ampla compreensom da cidadania polas reformas obrigadas

Sem ironia agora, que a situaçom nom o aconselha. Governar é enfrentar-se a situaçons conflitivas tentando merecer a mais ampla compreensom da cidadania polas reformas obrigadas, é destemer da polémica aberta por escuros cálculos de desgaste elaborados polos gabinetes de contabilidade de imagem, é explicar com franqueza ameazas e obrigas iniludíveis sem remeter o anúncio do pregom ao escudeiro. É estar disposto, em fim, a queimar a carreira política na ara da alta encomenda aceitada. Ingénua pretensom? Nom o creio assi, nom é preciso traer à memória ao excelente mister Churchill -fumador de charutos também- temos figuras máis próximas: lembram a Adolfo Suarez e a Felipe González? Que nom há pam, está bem, renunciamos ao circo agora que a roja descansa, reclamamos simplesmente a apertura da ágora.

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