Inimigos

Tivemos umha adolescência pragada de referentes musicais misóginos e machistas. Medramos escuitando temas compostos e interpretados por tipos desprezíveis que contribuírom a dotar de significado a nossa identidade, essa que hoje continua em processo de reconstruçom. Na nossa memória permanecem letras em que somos estúpidas, retorcidas, putas e mentireiras. A mesma merda repetitiva que hoje soa nas rádios e nas salas.

O capitalismo heteropatriarcal permite obter êxito (dinheiro, e/ou fama e/ou reconhecimento) a projetos que num mundo ideal se autodestruiriam. Há vários exemplos na Galiza e Novedades Carminha é um deles. A banda existe desde há tempo mas até há um mês nunca lhes escuitara nada. O que encontrei incomodou-me e indignou-me, mas nom me surpreendeu. O que sim o fijo foi nom encontrar na rede nem umha só referência ao machismo casposo que gasta este trio de Compostela. Nada. Silêncio absoluto.

Nom vou valorizar a qualidade técnica dos seus discos nem dos seus diretos (soam ao que soam). Tampouco direi nada sobre o idioma que escolhêrom para existir e para se comunicarem. O único que quero é deixar constáncia dum feito objetivo: Novedades Carminha é um grupo que reproduze os tópicos machistas mais trilhados nas letras, nas atitudes e nas imagens que empregam. E isto, sem lugar a dúvidas, converte-os em inimigos.

Nos seus videoclips e nas suas capas nom aparecem representadas mulheres gordas, nem peludas, nem rudes. Só aquelas que encaixam nos estereótipos estéticos mais violentos. Delgadas, com tetas grandes, rasgos normativos e sem umha ruga. Posando para seduzir os homens que olham para elas e sorrindo para agradar. Decorados mudos com cona heterossexual.

Acompanham-nas letras como “Me dices que me quieres / pero qué puta eres / te vas con cualquiera” ou “Jódete y baila /jódete y baila /oh, mamita/ tú eres mi mulata.” Outra di “Yo no uso condón./ Siempre puedes abortar, / pero es pasarlo mal. / Los niños te encantarán / nena, hazme papá”.

Nom duvido que nalgum momento estes temas tivérom a intençom de ser provocativos. Mas é evidente, também, que nom o fôrom nunca. Nom podem sê-lo no conjunto do compêndio: é impossível que o sejam quando som machos encantados de sê-lo os que estám por trás deste esperpento. Porque o trio de Novedades Carminha nom som as Vulpes, nem passárom por um quirófano para abortarem, nem nunca tivérom medo de serem violados numha tarde qualquer. Nom tenhem nem ideia do que é ser puta nem tampouco da violência que há de trás dumha negativa a usar condom. Som frívolos inimigos, mas nom provocadores.

Em 18 de dezembro tocárom na sala Capitol de Compostela, na cidade da autêntica Novedades Carminha, umha 'merceria' da zona velha. Acima do cenário afiançárom o seu status a costa de desprezar-nos, umha velha estratégia do patriarcado que algumhas bandas levam tempo a demolir com força. No entanto, muitas outras Novedades Carminha estám-se a programar nas salas e acumulam visitas no Youtube. Sabemos que é inevitável, mas o que nom deveria sê-lo é o silêncio e o beneplácito encoberto. O inimigo há que sinalá-lo com fúria. Que saiba que existimos.

 

(Este artigo foi orixinalmente publicado no número 143 do 'Novas da Galiza')

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