Instruir ofendendo

Nestes tempos de guerras culturais e rearme ideológico da direita mais direita de todas as direitas, a direita espanhola, tocou-lhe à minha cidade ser agraciada coa lotaria das polémicas entroideiras. E se o passado ano era o concelho da Corunha quem sofria os ataques da carcúndia, por causa dum cartaz no que aparecia um monigote disfarçado de santo padre em papamóvil, este ano tocou-lhe ao concelho de Compostela receber as iras dos guardiáns da fé católica, apostólica e romana por causa do pregom das festas do entroido.

Nom vou dedicar muito tempo a manifestar o meu apoio e solidariedade a Carlos Santiago, autor do pregom, e a Martiño Noriega. Que forom receptores de ataques e ameaças a raiz destes factos. Simplesmente manifestar que a tenhem. Nem tampouco quero dedicar espaço a argumentar na defesa da liberdade de expressom porque já houvo quem o fijo amplamente e em termos com os que coincido plenamente.

Vades-me permitir que colha um caminho diferente e que lhe agradeça ao Carlos Santiago o bem construído que está o seu personagem do Apóstolo Santiago atendendo às tradiçons jacobeas e ao uso que da figura do filho maior do Zebedeo se fijo nesta nossa cidade ao longo de mais dum milénio.

Porque eis o quid da questom. O Carlos nom construiu o seu Santiago da nada senom que se baseou em toda umha série de relatos e tradiçons que por séculos forom configurando a imagem dum santo belicoso, cabreado e sempre disposto a apoiar manu militari aos seus devotos fieis, que curiosamente também tenderom sempre a situar-se no espectro ideológico mais reaccionário da nossa sociedade.

O Santiago Apóstolo ao que o próprio Jesus chama nos evangelhos “filho do trono”, que teria herdado do seu pai um carácter irascível, e que segundo Lucas 9, 51-56 teria sido contido polo pŕoprio Cristo quando pretendia invocar junto a seu irmao Joam a ira de deus porque numha aldeia de Samária nom os atenderam como é devido. Ou o Santiago Apóstolo que baixou dos ceus em numerosas ocasións para, a lombos do seu cavalo branco, atacar com fúria e santa espada a mouros em Clavijo ou Coimbra; índios nas conquistas de México, Peru ou Chile e mesmo cidadáns de Compostela quando estes se negarom a aceitar coma o seu senhor ao arcebispo Berenguel de Landoira.

Esse mesmo Santiago ao que se lhe fijo bendecir a chamada Cruzada Nacional no 1936 e do que tomou o nome a milícia dos “Caballeros de Santiago”, responsável dalguns dos mais terríveis episódios da repressom fascista. Um Santiago Apóstolo reaccionário e violento que o Carlos destilou do uso que se fijo historicamente desta figura por parte dos mesmos que agora se escandalizam ao ser postos diante do espelho.

Mesmo a referência à Virgem do Pilar que tanta polémica causou entra dentro da lógica tradicional e histórica das tradiçons jacobeas. O Carlos referiu no seu pregom umha anedota na que um picheleiro de pro defendia a primacia do nosso Santiago frente a um zaragozano que pretendia a superioridade da sua santa patroa. Sem entrar na veracidade ou nom da anedota concreta, o certo é que ao longo dos séculos a defesa das virtudes e preeminência do nosso santo patrom frente a outros santos tem sido umha constante. Mesmo o cabido compostelano chegou a pagar campanhas de propaganda, contratando ao mesmíssimo Francisco de Quevedo y Villegas, para defender o patronato de Santiago Apóstolo frente a quem pretendia substitui-lo por Santa Teresa de Jesus.

Em resumo, o pregom do entroido foi umha sátira bem elaborada e ajustada à história e tradiçons da nossa cidade, proa a quem lhe proa.

P.D O autor deste artigo estava presente na Praça do Toural o dia do pregom e fala com conhecimento de causa do que ali se dijo ou deixou de dizer.

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