Linhas de força da Galiza-Sul (1): afinidades migratórias

Espanha pode prescindir de Portugal, a Galiza nom. Espanha interpreta Portugal como um país pequeno, para a Galiza tem a dimensom justa: triplica-nos em extensom e quadruplica-nos em populaçom. Para a Espanha, Portugal é um país de escassa releváncia económica, para a Galiza é um parceiro comercial imprescindível, junto com a França. Para a Espanha, o português é umha língua exótica, perfeitamente prescindível (os locutores do centro insistem em pronunciar Passos Coelo, embora nom se enganem nunca com Mourinho, mistérios mesetários). Para os galegos, o português é a língua própria, generosamente temperada, isso si, de nasalizaçons e sibilantes várias que o obscurecem um bocadinho. Espanha gostaria de atrair Brasil para o ámbito da hispanofonia mas contempla com apreensom qualquer aproximaçom do galego às falas portuguesas. A RAG também. Opinam os prescritores culturais espanhóis que o galego é, propriamente, unha língua (regional) espanhola, sem vínculos externos. Como o catalám e o euskera. A RAG também.

Espanha pode prescindir de Portugal, a Galiza nom. Espanha interpreta Portugal como um país pequeno, para a Galiza tem a dimensom justa: triplica-nos em extensom e quadruplica-nos em populaçom

No entanto, os galegos decidírom motu próprio -17.000 assinaturas empenhadas- reclamar ao seu Parlamento a promoçom do português no território histórico em que viu a luz primeira. A Iniciativa Legislativa Popular Paz Andrade conseguiu a aprovaçom unánime do Parlamento Galego em 14/05/2014. Rara avis, meus amigos. Será que algo grande está a nascer? Multiplicar por cem a potência dos falantes de galego é a aritmética cultural de futuro.

Pediremos emprestada à física a imagem de linha de força para tentar revelar o potencial do campo gravitatório que conecta Galiza com Portugal e com os países de língua portuguesa

Pediremos emprestada à física a imagem de linha de força para tentar revelar o potencial do campo gravitatório que conecta Galiza com Portugal e com os países de língua portuguesa. É neste campo gravitatório onde a ILP Paz Andrade cobra pleno sentido.

Pretendemos descrever as linhas de força mais marcadas do campo gravitatório G-S. Justo é começar pola gente e a sua livre vontade. Examinemos pois, para começar, a composiçom do contingente imigrante na Galiza na procura dessa primeira linha de força que conecta a Galiza com o seu Sul: a dos imigrantes G-S, poderíamos chamar-lhes.

A Galiza, escusado lembrar, nom ostenta postos relevantes em Espanha quanto a atractivo como destino da imigraçom e tampouco como destino do investimento estrangeiro. Nom fai falta dizer que um e outro fenómeno estám conectados com o atraso económico relativo da Galiza. Imigrantes e capitais buscam emprego e crescimento.

Os dados disponíveis confirmam a afirmaçom. No primeiro de janeiro de 2013, a Galiza tinha recenseados 109.962 imigrantes do total de 5.546.238 existentes em Espanha. A proporçom é um exíguo 1,98 %. Visto doutra maneira, por cada cem galegos há 3,98 imigrantes, por cada cem habitantes, Espanha tem 11,77 imigrantes. Noutras palavras, a capacidade atractiva da Galiza é um terço da espanhola.

Examinemos agora a distribuiçom do contingente migratório de fala portuguesa para revelar a linha de força que nos une ao Sul lusófono. O Padrom Contínuo que elabora o INE, permite-nos analisar a composiçom segundo procedência do contingente recenseado em cada Comunidade Autónoma. Do total de 109.962 imigrantes recenseados em Galiza, 31.830 procedem de países lusófonos, de um montante total de 231.253 de tal procedência recenseados em Espanha.

Do total de 109.962 imigrantes recenseados em Galiza, 31.830 procedem de países lusófonos, de um montante total de 231.253 de tal procedência recenseados em Espanha

Primeiro corolário: 28,95 % dos imigrantes assentados na Galiza procedem de países lusófonos, em Espanha apenas 4,17 %: dous de cada sete imigrantes na Galiza, dous de cada quarenta e oito em Espanha.

Segundo corolário, se o atractivo da Galiza como destino migratório é apenas um terço da espanhola (3,98/11,77), o atractivo de Galiza para os imigrantes de fala portuguesa é, em contraste, quase sete vezes superior1. O Sul português olha para a Galiza á maneira de tributo seródio ao berço do seu idioma. Pura justiça de poética económica.

Abrir Galiza ao Sul nom é umha hipótese cómoda para os poderes galegos, instalados ao respeito no desdém e o silêncio como argumentos preferidos

Abrir Galiza ao Sul nom é umha hipótese cómoda para os poderes galegos, instalados ao respeito no desdém e o silêncio como argumentos preferidos. Pola minha parte, quero manifestar a minha discrepáncia contra os santos óleos da inibiçom pacata com que é ungida a autoridade que nos pastoreia. A Galiza é a mais clara beneficiária da preferência dos cidadaos do Sul. Por umha parte, a Galiza, em pleno declive demográfico, necessita imperativamente afluxos demográficos externos. Por outra, no estado de doença crónica em que a nossa língua se debate, a trasfusom em veia de galego meridional é o melhor vigorizante, pola simples razóm de que é do nosso mesmo grupo sanguíneo.

Galegos meridionais que entre nós habitam: portugueses (21.670), brasileiros -alguns brasilegos mesmo- (9.426), cabo-verdianos (601), angolanos (102)... Boas-vindas a casa, irmaos, que haja sorte!

 

1- Galiza deveria contar apenas com 231.253*(109.962/5.546.238) = 4.585 imigrantes de fala portuguesa, caso a sua distribuiçom no território espanhol fosse aleatória, em consequência, o factor que revela a preferência desta imigraçom pola Galiza é (31.830/4.585) = 6,94

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