Mandela, o revolucionário: aliança com o PC e outras conexions

No anterior artigo falei em palavras irónicas sobre a “conexiom polaca” na luita contra o Apartheid, para rebater qualquer intento de fazer paralelismos enganosos muito próprios do discurso que costuma fabricar a mídia pró-capitalista; é habitual equiparar os movimentos anti-comunistas que protagonizarom a queda dos regimes do bloco pró-soviético na Europa com outros movimentos de signo e finalidade nom análoga e ainda contraposta. Tentador resulta para os pró-capitalistas a comparativa entre a luita heróica contra o apartheid, que tem em Mandela o seu máximo ícone, e os movimentos anti-comunistas da Roménia, Polónia ou a RDA.

 

Antagonismo e nom analogia

A verdadeira “conexiom polaca” na luita contra o Apartheid, como dixem, realmente está no lado oposto ao que liderava Mandela e, se tiver nome e apelido, este seria Januzs Walus. Esse é o nome do assassino de Chris Hani, quem no ano 1993, momento no que foi morto a maos deste supremacista branco, era Secretário Geral do Partido Comunista da África do Sul e Comandante em Chefe da “Lança da Naçom”, grupo armado que fora formado em 1961, em resposta pola Massacre de Sharpeville. O nazi Walus, um fugido da “Polónia comunista”, nom era um angelical democrata; nom era também um lunático que tivesse agido de maneira independente e compulsiva; era um muito ativo militante do Partido Nacional, que afirmava publicamente o seu ódio ao Congresso Nacional Africano, por considerá-lo umha organizaçom comunista disposta a matar por umha “utopia multirracial”. Como já tinha assinalado, a este tipo de elementos dava acobilho a África do Sul do Apartheid.

Neste artigo quereria dar umhas quantas pinceladas ilustrativas do verdadeiro talante político de Mandela. Esse Mandela que, sendo ainda muito jovem alcança a máxima responsabilidade da Liga Jovem do CNA, que protagoniza umha greve estudantil pola má qualidade das refeiçons no seu centro educativo, que passa do pequeno núcleo rural onde está radicado o lar familiar à cidade, onde passa de ser um filho da nobreza local a ser um jovem negro pobre e adquire verdadeira consciência da segregaçom racial no seu país.

 

CNA e Partido Comunista

Da relaçom do Congresso Nacional Africano com o Partido Comunista da África do Sul, Nelson Mandela tem manifestado:

“A nossa relaçom com o Partido Comunista Sul-africano como organizaçom  baseia-se no respeito mútuo.  Unimo-nos com o Partido Comunista Sul-africano à volta  daqueles objectivos que nos som comuns, mas respeitamos a independência de cada um e a sua identidade individual. Nom  houvo intento qualquer por parte do Partido Comunista Sul-africano de subverter ao ANC. Em troca, derivamos força dessa aliança.”

Havia umha clara aliança entre o CNA e o Partido Comunista, nom ia com o líder sul-africano o anti-comunismo. E é que foi o Partido Comunista o primeiro partido em admitir pessoas de raça nom-branca nas suas fileiras: é óbvio que a libertaçom de classe é umha luita que está por cima das diferenças étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e de outra índole. Além de que o prórpio Mandela evoluiu do nacionalismo negro daquele primgénio CNA de começos do S. XX cara postulados socialistas. No mesmo contexto, e esclarecendo a relaçom entre CNA e PC e a influência do ideário comunista no CNA, ele di:

“Nom temos a mais mínima intençom de fazer caso  daqueles que nos sugirem e aconselham que rompamos essa aliança. Quem som os que oferecen estes conselhos nom  solicitados? Provenhem maioritariamente dos que nunca nos  derom ajuda qualquer. Nengum  desses conselheiros fixerom jamais os sacrifícios que terám feito os comunistas pola nossa luita. Essa aliança  fortaleceu-nos e  faremo-la ainda mais estreita”.

O CNA nunca se definiu como um partido comunista e nom o era, era um amplo movimento de libertaçom onde cabiam, como era lógico, comunistas, sempre que fossem fieis à organizaçom e os seus postulados. Mas sempre Nelson Mandela tivo umha boa e estreita relaçom com o Partido Comunista: foi com cadros do PC que fundou “Lança da Naçom” e conhecida era a sua amizade com o dirigente comunista Joe Slovo. Por outra parte, o PC manifestou ao pouco de morrer Mandela, que este fixo parte do Comitê Central do Partido até a sua detençom no ano 61. De qualquer jeito, Mandela sempre tivo palavras de reconhecimento para a bravura e a heroicidade da militança comunista contra o Apartheid. Como nom podia ser de outra maneira.

 

Nelson Mandela e Cuba

A admiraçom de Nelson Mandela polo Ché Guevara, ao que estudou nos seus anos de reclusom, era manifesta. O heroi da luita contra o Apartheid dixo do Ché: “A vida do Ché é umha fonte de inspiraçom para todo ser humano que ame a liberdade. Sempre honraremos a sua memória”. Mas indo mais alá, bem de domínio público deveria ser a amizade de Mandela com Fidel, e da referencialidade que tinha a Revoluçom Cubana para Nelson Mandela há constáncia escrita. Há que dizer que a Cuba revolucionária sempre tivo um inequívoco compromisso com a África e, portanto, com a luita contra os restos do colonialismo europeu nesse continente. Cuba enviou à guerra de Angola 50.000 soldados para combater do lado das forças do MPLA, e Mandela sempre reconheceu o papel do exército cubano na vitória das forças patrióticas angolanas perante a tentativa de invasom do exército nazi sul-africano. Aquela, por certo, foi umha humilhaçom que tocou de morte ao regime racista. No ano 1991, Mandela pronunciava em Matanzas, Cuba, estas palavras para referir-se à decisiva batalha de Cuito Cunavale: “Aquela impressionante derrota do exército racista  deu-lhe a Angola a possibilidade de disfrutar da paz e consolidar a sua soberania. Deu-lhe ao povo de Namíbia a sua independência, desmoralizou o regime racista branco de Pretória e inspirou a luita contra o apartheid dentro de África do Sul  (…). Sem a derrota em Cuito Cuanavale as nossas organizaçons nunca teriam sido legalizadas”, 

Também som suas estas palavras a respeito do compromisso anti-imperialista de Cuba:

“ Desde os seus días iniciais, a Revoluçom Cubana foi umha fonte de inspiraçom para todos os povos amantes da liberdade. O povo cubano ocupa um lugar especial no coraçom dos povos da África. Os internacionalistas cubanos fixerom um contributo à independência, a liberdade e à justiça na África que nom tem paralelo polos princípios e o desinterese que a caracterizam. É muito o que podemos apreender da sua experiência”. “Somos conscientes da grande dívida que há com o povo de Cuba. Quê outro país pode mostrar umha história de maior desinteresse que a que  mostrou Cuba nas suas relaçons com a África?”.

Sobre o bloqueio e a guerra suja contra Cuba:

“Admiramos os sacrifícios do povo cubano por manter a sua independência e soberania ante a pérfida campanha imperialista orquestada para destroir os impressionantes logros alcançados pola Revoluçom Cubana.”

 

Outros posicionamentos que a reaçom nom perdoa a Mandela

Nom deveria haver dúvidas nesta altura do artigo de que Nelson Mandela nom era neutral no antagonismo entre socialismo e capitalismo, entre anti-imperialismo e imperialismo. O racismo na África do Sul nom era umha questom moral ou de atitude: era um regime que pretendia blindar a estrutura de classes e fazer inamovíveis os mecanismos de exploraçom. As potências imperialistas obtinham benefício dessa situaçom, e é por isso que Espanha, Estados Unidos, Grande Bretanha, França, Israel apoiavam económica e militarmente o Apartheid. Isto opinava sobre a URSS Nelson Mandela:

“A Uniom Soviética é o portador do facho de todas as nossas esperanças e aspiraçons. Apreendemos e continuaremos a apreender da resistência e a valentia do povo soviético, que som um exemplo para nós na nossa luita pola liberdade, um modelo de lealdade ao dever internacionalista. Na Rússia soviética, o poder real do povo  transformou os sonhos em realidade. O país dos soviets é o verdadeiro amigo e aliado de todos os povos que luitam contra as forças escuras da reaçom mundial.”

E, outro ponto conflitivo nas opnions de Mandela sobre política internacional: Palestina. Valha como mostra umha carta publicada no New York Times, respondendo um outro artigo do colunista Thomas L. Friedman sobre o conflito palestiniano-israelí, do que extraio algumha passagem. Nesta carta, Mandela defendia que a política de Israel com o povo palestiniano era de apartheid:

“Se calhar resulta-lhe estranho observar a situaçom na Palestina ou mais específicamente, a estrutura de relaçons políticas e culturais entre os palestinianos e israelís, como um sistema de “apartheid”. É porque pensa erradamente que o problema de Palestina começou em 1967, como ficou reflectido na sua recente coluna “Primeiro Memorando de Bush” no The New York Times do 27 de março.
Parece surpreendido ao ouvir que ainda os problemas de 1948 nom  estám resoltos, como é o mais importante de todos, o direito ao retorno dos refugiados palestinianos.

O conflito palestiniano-israelí nom é apenas um problema de ocupaçom militar. Israel, é um país que nom foi criado “normalmente” e ocupou outro país em 1967. Os palestinians luitam por um “Estado” em liberdade e igualdade, igual que nós luitamos pola liberdade de África do Sul.”

O anti-imperialismo de Mandela fazia que as oligarquias o temessem: estar com Cuba e estar com Palestina é situar-se na geografia do pensamento político de umha maneira muito clara.

 

Os que queriam a Mandela morto ou entre barrotes

Todos os vultos que participarom nas exéquias de Mandela admirarom sempre a Mandela? Todos esses vultos forom sempre detractores do apartheid? Se pesquisamos nas hemerotecas, comprovaremos que nom.

Dirigentes mundiais como Ronald Reagan, George Bush o pai ou Margaret Thatcher, tenhem manifestado durante as suas etapas em ativo que consideravam Nelson Mandela um terrorista. Bush, junto com Dick Cheney (que foi Secretário de Defesa entre os anos 1979 e 1979 e vice-presidente com George W. Bush) e o ultra John McCain, forom opositores destacados a qualquer pronunciamento do senado estedo-unidense em favor da excarceraçom de Mandela. Até em duas ocasions o senado tumbou propostas de resoluçom em favor da liberdade para Nelson Mandela com estes três vultos como visíveis defensores do “nom”.

Cumpre recordar que Nelson Mandela estava na listagem de terroristas perigosos do Departamento de Estado dos USA até o ano 2008. Isso quer dizer que no séquito de persoeiros norte-americanos que acompanhou ao presidente Obama, houvo membros de governos que mantiverom ao líder da luita anti-apartheid na listagem de terroristas perigosos durante o seu mandato. Durante os mandatos de George Bush o pai, Bill Clinton e George Bush o filho, Mandela foi considerado terrorista. Os dous últimos estavam presentes no funeral. Dick Cheney, quem até há pouco justificou a sua atitude beligerante contra Mandela e a luita pola igualdade racial na África do Sul, argumentando que o CNA era umha organizaçom terrorista que ameaçava a civilizaçom, estava também na Soccer City. Nom faltarom vozes nunca, nem no Partido Republicano nem no Partido Democrata, que defendiam a necessidade de manter a Mandela em prisom ou mesmo de executá-lo.

Como já dixem, nada a ver o obsceno desfile de máscaras da Soccer City com a homenagem sentida, sincera, que lhe brindam a Mandela os revolucionários e as revolucionárias do mundo desde a Havana até Gaza, desde Dublin até Johanesburgo; passando pola Venezuela Bolivariana, pola selva fogar da guerrilha comunista na Colómbia, no Paraguai, nas Filipinas, no Perú, os montes do Curdistám ou o deserto do Saara.

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