Os Mercados Municipais foram, e são ainda, uma referência urbana na oferta de produtos alimentares de perto para a cidadania
Os Mercados Municipais foram, e são ainda, uma referência urbana na oferta de produtos alimentares de perto para a cidadania, para além de oferecer um serviço de atenção personalizada para a usuária derivada do modelo de negócio: pequeno comércio de titularidade própria, e muitas vezes de tradição/ continuidade familiar. Estudos do grupo de pesquisa GALABRA indicam também uma clara perceção pública de produtos de qualidade, com preços competitivos frente aos dos supermercados. Para os usuários estamos ante espaços de identidade e sociabilidade, onde se estabelece uma relação de confiança compradora-vendedora, com qualidade inerente do produto, derivando a origem local dele num sentimento de pertença e identidade. De maneira mais geral, as usuárias consideram os Mercados Municipais como modelo económico no que ganhamos todas. O Mercado serve para comprar e falar. No supermercado compro, pago e saio.
Atualmente estamos num momento crítico na sua oferta de serviços por mor da mudança de hábitos sociais e modificações do espaço urbano. Este ponto de inflexão gira arredor da disponibilidade horária e acessibilidade física. Entendemos estas duas dificuldades como de complexa solução, mas possível. A primeira desde o fomento de grupos de consumo, e compra não presencial com recolhida dos produtos em cacifos, como já existem em outros lugares. A outra dificuldade deriva da ubiquação física, normalmente em zonas pedestres. Estes dous fatores provocam uma perda importante de usuárias, e muitas vezes, e em muitos lugares, a promoção turística é vista como solução parcial ou total, dentro dum processo de “revitalização”.
Atualmente estamos num momento crítico na sua oferta de serviços por mor da mudança de hábitos sociais e modificações do espaço urbano
Esta perspetiva pode ser considerada perversa em si mesma. Perde-se/elimina-se o sentido da origem e finalidade do Mercado (produtos de perto, qualidade, confiança, sociabilidade) dirigida fundamentalmente à comunidade local, a usuária todo o ano. Quando temos uma “turistificação” apagamos completamente a “justificação de ser” destes ecossistemas, além de mover-nos contra o próprio feito turístico que procura a experiência autêntica, o original, o que se perde quando o Mercado muda para um espaço mais de lojas “gourmet” e locais de restauração e ócio. Ficamos num caminho sem coesão social, identidade, e sen uma economia local ambientalmente aceitável.
os Mercados precisam mais proteção que promoção (turística), mudando as variáveis tempo (disponibilidade horária) e espaço (acessibilidade) para a comunidade local, sem rejeitar uma promoção muito controlada para o turismo, desde o objetivo de integração do dito feito turístico na cidade
Para vendedores e compradoras, as nossas pesquisas indicam que a promoção turística não é a principal preocupação, sem ser excludente. As usuárias entrevistadas, e conhecedoras de iniciativas turísticas relacionadas em outras zonas da Espanha e Europa, não contempla esses espaços como locais de objeto turístico (no lado contrário temos as instituições), ainda que sim consideram que certa promoção para o turismo pode ajudar a manter o Mercado mais ativo, e.g.: ofertas pontuais de restauração, mas sempre com produto local.
Podemos encerrar dizendo que os Mercados precisam mais proteção que promoção (turística), mudando as variáveis tempo (disponibilidade horária) e espaço (acessibilidade) para a comunidade local, sem rejeitar uma promoção muito controlada para o turismo, desde o objetivo de integração do dito feito turístico na cidade.