Olhavas aquel armário e sentias um desejo irreparável de que te resgatasse de todo
Olhavas aquel armário quando precisavas acobilho, quando o monstro aparecia, justo polo mesmo caminho, polos mesmos olhos, nos que noutros momentos agromava o amor, a paixom ou as migalhas de alegria. Umha alegria que axinha passou a ser só alivio, e logo, um longo e lousado silencio tenso.
Olhavas aquel armário e sentias um desejo irreparável de que te resgatasse de todo, daquela vida, dos paus, dos gritos, da vergonha... meter-te naquel armário e meter a cabeça entre as maos... e que o tempo parara, e que te deixaram em paz. Descansar, descansar até do sol, descansar del, descansar do horror...
Aquel armário nunca se abriu para ti... Nunca atopaches um armário para ti... Nem quando estiveste ante o juiz, nem quando estiveste nos médicos..., nem quando fuches ao salom a amanhar o cabelo, onde maquilharom as pegadas do monstro.
Aquel armário só se abriu para o teu corpo já sem vida, vida roubada no último arrebato da fera que bramia, polo mesmo caminho que saiam os beijos e as caricias. E ali estivo teu corpo dous dias, Silvina, naquel armário que quixo dar-te em morte o que nom te dera em vida.
Sodes moitas. Refugiadas fugindo do país do amor-trampa. Refugiadas entrando na terra do esquecimento. Sodes moitas
Sodes moitas. Refugiadas fugindo do país do amor-trampa. Refugiadas entrando na terra do esquecimento. Sodes moitas. Um mar de refugiadas de feridas abertas, de ossos rotos, de colos esganados, de carne desgarrada... Sodes moitas, derrotadas nesta guerra. Sodes moitas, e nom chega um só coraçom, nem partido em mil anacos, para ter-vos.
* Silvina, foi assassinada em Vigo, o 4 de outubro de 2015