A Espanha tem atualmente no desporto umha das canles fundamentais para legitimar os seus símbolos. Graças aos logros desportivos das equipas, seleçons e individualidades espanholas o estado espanhol conseguiu fazer simpática para a juventude a bandeira rojigualda, umha cousa que era impensável no caso da minha geraçom, para a que exibir umha rojigualda era o que era, um indicativo de cara onde fumavas ideologicamente.
Rafa Nadal, Fernando Alonso, Dani Pedrosa, as seleçons de basquetebol, andebol, mas sobre tudo a seleçom masculina absoluta de futebol (ultimamente) conseguem fazer normal a presença massiva nas verandas e janelas de qualquer localidade galega da bandeira espanhola, um facto que nom se dá nem em celebraçons oficiais como o 12 de Outubro, nem no Dia das Forças Armadas, nem em visitas do monarca espanhol a território galego. O caso da seleçom masculina absoluta de futebol é especial, pois evidentemente o futebol é o desporto rei na nossa sociedade, pola sua influência social imensamente superior à de qualquer outra disciplina desportiva; por número de lizenças federativas, número de clubes, mobilizaçom de público, impacto e seguimento mediático...as camisolas da seleçom espanhola de futebol circulam polas nossas ruas de maneira massiva, assim como as peças de roupa e complementos que levam as cores da bandeira da Espanha.
O fervor patriótico espanhol, poderia dizer-se que chega ao seu clímax quando joga a seleçom espanhola de futebol. Poucas cousas som capazes de paralizar a vida normal no estado espanhol além de um jogo da seleçom espanhola, e máxime se este jogo é trascendente nalgumha medida, é dizer, se já um amigável pode levantar paixons, muita maior será essa paixom se se tratar de um jogo de umha fasse classificatória para o Mundial ou a Eurocopa, e ainda muito maior se se tratar de um jogo na fasse final de qualquer desses torneios.
O futebol é sagrado na Espanha, por isso nada do que puidesse acontecer no futebol ou à volta do futebol poderá ser indiferente. E é curioso, porque o dogma di que o futebol nom é política, mas os factos nom param de demostrar o contrário.
O futebol nom é política, mas é um assunto de estado, tanto que a Coroa apadrinha umha das principais competiçons do futebol espanhol, e na final da chamada Copa do Rei sona como prelúdio do ato puramente desportivo o hino da Espanha. O rei da Espanha preside o ato e entrega o trofeu à equipa ganhadora. O palco de autoridades do estádio está cheio disso, de autoridades, de autoridades do regime...membros do governo do estado, algum presidente autonómico, o presidente da cámara municipal da cidade onde se celebrar o evento, mandos militares...o futebol nom é política, mas toda a parafernália e a posta sobre o cenário fai de umha final desportiva um ato político em si, tutelado e presidido polas autoridades do regime às que nom está permitido pôr em causa em forma qualquer no marco do evento. Conhecida é a prohibiçom por parte das autoridades desportivas da senyera estelada e da bandeira patriótica galega, além das constantes ameaças de excluír da competiçom aos clubes cujas afeiçons protagonicem apupos aos símbolos do estado espanhol ou às suas autoridades.
Piqué e as mangas da sua elástica
Piqué tem um problema, que é o facto de falar sem cancelas, de agir livremente, sempre com descaramento...é umha pessoa temperamental, e, digamos, especial em muitos sentidos. O seu comportamento fora das canchas, devo dizer que nom sempre é do meu agrado, e ainda está na minha lembrança aquele enfrentamento com a Guardia Urbana de Barcelona a causa de umha multa que lhe impuxeram ao seu irmao por estacionar em lugar prohibido. As suas próprias palavras eram insultantes para qualquer pessoa anónima que se tenha visto numha situaçom similar. Desde logo eu poido compreender o chateio de qualquer pessoa que se encontre com umha multa, mas ver a um privilegiado social berrar com uns polícias municipais nom porque ache que foi multado indevidamente ou injustamente, nem sequer porque o multaram a ele...mas porque multarom a alguém que ia com ele e os agentes nom se deixarom dissuadir por ele, é umha cena pouco agradável e bastante indignante. Ao resto dos mortais, quando nos ponhem umha multa, nom nos fica mais remédio que a pagar, mas ele cansou de berrar que “nom sabedes quem sou eu” e “parece mentira que em Barcelona me fagam isto a mim”, vaia, que eu e os meus, na minha cidade, somos intocáveis. Nom gosto dessas atitudes, venham de quem vinherem...
A um futebolista, estas cousas e cousas piores perdoam-se-lhe. Isso sim, na Espanha, o que nom se toca é a seleçom. Dizer que nom queres jogar com a seleçom espanhola pode-che trazer problemas se jogas na liga espanhola. E se jogas num clube que é um dos maiores representantes da liga espanhola em competiçons internacionais, ainda mais. Para além de que a Lei do Desporto obriga aos desportistas espanhois a acodir aos chamados das seleçons espanholas. A democracia no desporto espanhol nom se estila demasiado. Quiçá isto explique porquê tam poucas vezes se dam casos de futebolistas que digam nom à seleçom espanhola por motivos ideológicos.
Mas quiçá haja algumha cousa pior do que dizer nom à seleçom espanhola. Quiçá para os fanáticos seja um desafio ainda maior acodir à seleçom espanhola e nom demostrar-se um chauvinista espanhol. Declarar que como membro de umha comunidade política, desejas que esta se pronuncie sobre o seu futuro e que nom entendes porquê o aparelho do estado com o governo à sua cabeça teima em impedir isso. Claro, a paróquia fanática da seleçom espanhola o que deseja som líderes que tenham gestos como o de Raúl, que celebrava as vitórias com passes “toreros”. Exaltaçom patriótica, sem posta em causa questons como a unidade da Pátria (sempre apesar de que o futebol nom é política) e cumprindo os preceitos estéticos pertinentes.
O problema é que Raúl tem em comum com outros líderes surgidos do Real Madrid (como o mítico Butragueño, por exemplo) é que eles nom ganharom títulos com a seleçom espanhola; um aspeto que os diferencia precisamente do Gerard Piqué, que além de jogar no Barça e pensar diferente (e manifestá-lo, sobre tudo) participou da etapa mais gloriosa da seleçom espanhola, sendo um dos jogadores decissivos...esses quatro anos gloriosos da seleçom espanhola, que vam de 2008 a 2012, seriam possíveis sem Iniesta, Busquets, Puyol, Xavi e o próprio Piqué? (note-se que cinco jogadores do Barça, dos quais quatro catalans...)
O que é imperdoável para o chauvinismo espanhol, é que este jogador (catalám e do Barça) nom participe da festa como eles gostariam. E o problema também é que esta grei de fanáticos sabe perfeitamente que com absoluta segurança haverá nom poucos desportistas catalans que compitem representando a Espanha em diferentes disciplinas desportivas que pensarám igual ou de maneira bastante similar. E na Meseta sabem que é muito elevada a percentagem de desportistas catalans que compitem representando a Espanha e contribuindo a engordar o palmarés desportivo espanhol.
Mas Piqué nom necessita que eu o defenda, de facto é ele quem se deve defender a si próprio. Eu o único que assinalo é até quê ponto o fanatismo chauvinista espanhol se vinga em quem nom assome o seu discurso. O futebol nom é política, mas está permitido linchar a um jogador da seleçom espanhola polas suas opinions políticas. Aí está o ponto justo da questom.
O linchamento refina-se até o ponto de evoluir na sua elaboraçom. Demostraçom prática, o caso das mangas de Piqué...a lebre salta com um twit que afirma falsamente que o jogador do Barcelona e da seleçom espanhola cortou as mangas da sua camisola para que nom se vissem as cores da bandeira espanhola. Em segundo lugar, miles de twits e posts nas diferentes redes sociais fam-se eco dessa lebre ceivada desde o barulho incontrolável que é sempre o twitter. Em terceiro lugar, alguns méios de comunicaçom dam a notícia por certa. Em quarto lugar, o jogador demostra graficamente que é mentira o afirmado por parte dalguns nas redes, já que a camisola nom leva por lado nengum as cores da bandeira espanhola (isto também foi esclarecido pola RFEF) e em quinto lugar, as desqualificaçons, insultos e desafios continuam horas depois de que se desmontara a falsidade...a sexta fase da montagem é ver a diretivos dos mesmos méios de comunicaçom que derom credibilidade à mentira culpar a Piqué de ter “tomado o pelo” à opiniom pública espanhola. Mas quem ceivou a lebre entom? Nom resulta plausível que fosse o prório Piqué.
Sem querer dar-lhe mais importáncia da que tem ao episódio em si, insisto em como o evoluir dos acontecimentos retrata a hipocrisia e o cinismo de um chauvinismo espanhol que baseia os seus sucessos desportivos em negar-lhe a outros o direito a competir e que nom admite a dissidência nem a diversidade de opiniom. Difundem umha falsidade, som apanhados no intento de linchar a um jogador a partir dessa falsidade, e depois responsabilizam-no a ele de ter provocado o rebúmbio. O caso é prolongar o ato de vingança nas carnes de alguém que com a sua participaçom fixo possível muitos sucessos que eles celebrarom. Perversidade é a sua.
Mas ficam retratados como nunca neste episódio...o único caminho que lhes fica é o da repressom e a guerra suja. Até que os catalans organicem a insubmissom ao regime disciplinário e ás estruturas do desporto espanhol e entom a ver quem ganha e a ver quem começa a fazer águas...