A história repete-se, com a única variaçom da ubicaçom geográfica e os cenários nos que se desenvolve. A ocupaçom é umha luita contra o tempo e as lógicas dos poderes alinhados para fazer valer de maneira fatal e indefectível a qualidade e o peso dos direitos do capital perante os direitos das pessoas, neste caso organizadas para exercer o seu direito a organizar-se, reunir-se; auto-gerir as suas luitas, o seu ócio, o seu conhecimento...
Sim, consumou-se o final violento contra o Centro Social Escárnio e Maldizer. A sua vida nas entranhas de um inmóbel desocupado era um desafio. Dar-lhe umha segunda vida a aquele espaço na forma em que lho davam aquelas gentes nom era admissível. Na Corunha, comarca na que eu resido, já vivemos dous casos parecidos em relativamente pouco tempo. O caso da Casa das Atochas, sediada num prédio propriedade de umha construtora, e do CSO Palavea que tinha como ubicaçom as instalaçons de umha antiga escola de orfos, propriedade de um banco. Sempre o desenlace é o despejo do prédio, com violência física ou sempre sob ameaça policial.
Como pode haver grupos de gente nova, ou nom tam nova, com ideologia anti-capitalista, que tenham a desfazatez de ocupar espaços com destino já marcado para ensaiar um outro mundo, umha outra sociedade? Porquê nom aceitam submissos esses grupelhos, como aceita a maioria da sociedade, esse devalo imposto nas vidas das construçons, segundo o que depois do desuso vem o deterioramento progressivo, a demoliçom e a substituiçom por umha outra nova construçom?
Seguramente a gente e as instituiçons “da ordem” em Compostela preferirám ver prédios invadidos pola silveira, o lixo e as ratas do que ver espaços valeiros que vam sendo ocupados por gente com inquietaçons culturais, políticas, ambientais, cientistas, artísticas... talvez seja melhor que esses espaços se convertam em rochos para o consumo e trafego de drogas... em qualquer caso um espaço vazio sempre se converte nalgumha cousa.
O que nom se pode admitir, sob o ponto de vista das leis do intocável mercado, é que alguém ofereça aulas de auto-defesa, música tradicional, línguas ou o que for, sem o horizonte do lucro, e deixando fora de jogo os interesses empresariais. O que nom se pode admitir sob o ponto de vista das leis desse intocável mercado, é que a auto-organizaçom popular rompa com insolência os seus planos especulativos e lhe dea uso a umha cousa cujo valor se queria cegar, sem os interesses especuladores obter benefício. Por isso se bota mao da violência policial.
A ocupaçom deixa ao descoberto o jogo perverso do capital. Num cenário de despejos habitacionais por reescisons de contratos de aluguer, ou por execuçons inmobiliárias, numha situaçom onde nom tod@s temos a mesma oportunidade de acceder a locais públicos para desenvolver atividades públicas, entre outras cousas pola perda progressiva de liberdades, é preferível para os que adirem à ordem ver locais vazios. Por isso, depois de tratar de enmudecer sem sucesso os protestos populares polo despejo do CSO Escárnio e Maldizer, taparom com bloco todos os possíveis accessos ao prédio. Agora parece umha tumba. Isto é o que querem, um silêncio sepulcral.
Mas a ocupaçom nom é um capricho, é umha necessidade. A ocupaçom para vivenda sempre existirá, ainda que quem a pratique nom leve aneis no nariz nem estensores nas orelhas, nem seja anarquista, nem comunista, nem independentista. Simplesmente existiu sempre e sempre existirá, porque todo o mundo necessita um lugar onde viver e se a um o botam desse lugar simplesmente irá para um outro, até que o botem também daí e tenha que procurar um novo acobilho. Mas tendo em conta que a direita neoliberal é bastante amiga de impôr medidas económicas que no fundo tenhem umha intencionalidade política, já veremos se muitas entidades de todo tipo que hoje nom se plantejam ocupar, num nom demasiado longíquo futuro terám ou nom que considerar tal alternativa.
Em qualquer caso, hoje quero dizer que sou ocupa no ânimo e na consciência, e o sensato hoje é ser ocupa. Estou com os companheiros e companheiras de Escárnio e Maldizer. O seu direito a existir é innegociável. Nom há Compostela que valha sem ellas e eles.