Há uns anos procurava alguém que estivera pensando na relação entre o software de código aberto (Open Source) e a democracia, e encontrei o livro de Douglas Ruskoff chamado Open Source democracy: How online communication is changing offline politics (Democracia de código aberto: Como a comunicação online está mudando a política offline). O título é um bom resumo de como a política online começa a substituir a offline.
Casualidades, um ano antes, tinha perguntado numa mesa redonda no que falavam diferentes representantes de partidos políticos galegos uma questão relacionada: "Pensades que a gente nova, acostumada a decidir e comunicar horizontalmente nas redes sociais, é capaz de compreender que se precisam intermediários/as verticais na política para tomar decisões que lhes afetam diariamente?"
A resposta derivou na importância de relacionar partidos políticos com as redes sociais e a necessidade desse diálogo fluido entre governantes e governados.
E evidentemente é necessária esta relação, mas talvez já não chegue com isto.
Se calhar para as pessoas com hábitos de cultura digital já não é possível conceber uma geografia relacional baseada em relações desiguais, mas em relações baseadas nas lideranças efémeras.
Estamos a presenciar como vai desaparecendo uma sociedade baseada na ligação catódica (ainda hegemónica) frente uma sociedade baseada nas informações espasmódicas (que começam a disputar a hegemonia).
A primeira, baseada em receber a realidade já digerida através de televisões, rádios e jornais, sem arestas, um açúcar em forma de cubo para uma digestão rápida. A segunda, uma sociedade que gera certezas e incertezas ao mesmo ritmo de um espasmo, numa carreira de velocidade pola atenção das massas.
A primeira um planeta de consumidores de opiniões. A segunda uma galáxia de consumidores e produtores de opiniões. A primeira um planeta de crentes com medo a perder espaços e tempos. A segunda uma galáxia com medo a perder velocidades.
A primeira talvez acredite que a democracia online acaba nas votações de Eurovisão. A segunda talvez acredite que a democracia offline é uma visão velha para Europa.
Provavelmente, a solução será polo meio: uma democracia digital direta de código aberto, que pense que a codecisão online/offline é um arma carregada de futuro. Como a poesia.