Os dias de mocear

Em base a um extenso trabalho de campo por toda a Galiza na década de 1960, Lisón Tolosana conclui que os dias mais frequentes para mocear eran as quartas-feiras, sábados e domingos (1). Em Loureses eram as quintas e os domingos (2), e na paróquia de Velhe, na década de 1930, “as visitas do noivo à noiva son a mais dos domingos, os martes e as quintas feiras, póndose tamén de acordó, como é natural, pra xuntarse nas festas o unas gaitadas a que ambos acoden” (3). De cómo estavam institucionalizados os dias de moceio em Berres, na passagem do s. XIX ao XX, deixou-nos Manuel García Barros uma vívida descrição:

“Cando comprendéu que era a hora chegada, erguéuse o Xanuco despedíndose da familia (da moça). Sabela foi coil hastra a porta, asegún o costume que, apesares das reconvencións dos pradicadores, seguía imperando; de tal xeito que, estando varios cunha moza, si saían soparados a moza tiña que ir con cada un á porta e concederle alí o seu pouquiño de parola. O non facelo tomábase por unha desatención, por unha ofensa.

Saiéu o Xanuco i a Sabela cerróu a folla de abaixo, quedándose debruzada nila, i a de riba aberta; il, de pé, da banda de fóra. Falaron un pouquiño. Ó cabo, dixo il:

-Ben, ¿hastra cando?
-Hastra cando queiras.
-Pois xa sabes o costume: miércoles e sábados. Dos domingos xa non hai que falar.

Dende aquel domingo, xa o Xanuco siguéu indo os miércoles e sábado tamén, a máis das festas de gardar” (4).

A importância de mocear respeitando os dias costumados apreza-se bem no facto de que, nas paróquias de Monfero que consentiam tácitamente que a juventude mocease na cama da moça, os pais aparentavam ignorar esta transgressão apenas se se davam certas condições, entre elas a de “respeitar os dias acostumados”, que ali eran terças-feiras, quintas, sábados e domingos, molestando-se muito os moços que eran citados para a segunda-feira (essa “dá palabra para o luns dos zapateiros”, queijavam-se) (5). Mas se a cita na segunda-feira era considerada um despreço, há outro dia que aparece vetado ao moceio em todas as comarcas: a sexta-feira.

Quando Martinho de Dume acomete a reforma cristianizadora dos nomes dos dias da semana no Reino Suevo da Galiza, ataca especialmente o Veneris dies (“venres”) (6), por considerar que a deusa do amor não era senão um “demonio com o nome de Vénus, que foi uma mulher meretriz, a qual se prostituiu não só com outros inumeráveis, senão também som Júpiter, o seu pai, e com o seu irmão Marte” (7). Lamentava-se o bispo, aliás, do costume das camponesas de “observar nas núpcias o dia de Vénus” (8). É difícil calibrar a influência das críticas do Dumiense –quem trocou o “dia de Vénus” pola “sexta-feira”- nos costumes de moceio, mas o que com toda certeza foi decisivo no tabu da sexta-feira, é que a Igreja fixa-se numa sexta-feira o dia da morte de Cristo na cruz. Na altura cristã a semana é um microciclo religioso, no que cada dia tem o seu significado. Em tanto que dia de dor pola morte de Jesus, a sexta-feira é um dia apropriado para as alegrias festivas; é pola contra um dia de império do mal sobre o bem, no que as bruxas celebram os seus aquelarres (9). Assim, como uma pequena Quaresma no ciclo semanal, a sexta-feira não era dia de música e amoras:

“O venres ten un defeuto
de non poder comer carne
non pases tempo comigo
porque o pasas en balde” (10)

 

NOTAS:

1. Carmelo Lisón Tolosana, De la estación del amor al diálogo con la muerte, Madrid, Akal, 2008, p. 24 n. 68
2. Manuel Mandianes Castro, Loureses, Vigo, Galaxia, 1984, p. 104
3. Florentino López Cuevillas, Vicente Fernández Hermida e Xoaquín Lorenzo Fernández, Parroquia de Velle, Santiago de Compostela, Seminario de Estudos Galegos, 1936, p. 180
4. Manuel García Barros, Aventuras de Alberte Quiñoi, Vigo, Castrelos, 1976, p. 206
5. José Antonio Fernández de Rota, Gallegos ante un espejo, Sada, Ediciós do Castro, 1987, p. 184. No País Basco o moceio na cama estivo mui arraigado no s. XIX, e praticava-se sobretudo nos sábados, polo que este dia era chamado de Amoros eguna (o dia dos amantes) polo cura de Valcarlos, “expressão que recorda a palabra Neskanegun, sábado das moças, em aceção bastante generalizada em outras regiões”. José Mª Satrústegi, Comportamiento sexual de los vascos, São Sebastião, Txertoa, 1981, p. 118
6. Martinho de Dume, De Correctione Rusticorum, parágrafo 8.
7. Ibidem, parágrafo 7.
8. Ibidem, parágrafo 16.
9. Veja-se Xosé Ramón Mariño Ferro, Satán, sus siervas las brujas y la religión del mal, Vigo, Xerais, 1984, p. 171. Também, do mesmo autor, La medicina popular interpretada I, Vigo, Xerais, 1985, pp. 278-280. Em algumas partes de Portugal dizia-se das sextas-feiras que são “dias de mal fado”.
10. Vicente Risco et alii, Terra de Melide, Santiago de Compostela, Seminario de Estudos Galegos, 1936, p. 514

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