Embora o comércio nom tenha boa imprensa entre as gentes da escrita ou da milícia, é de todos sabido que constitui um poderoso agente de progresso. Nom fai falta lembrar casos como os de Veneza ou Antuérpia. Antuérpia bem dito, o Antwerpen neerlandês convertido em Anvers polos franceses e adoptado daí ao espanhol como Amberes. Sem sairmos de Antuérpia, é dali de onde procede o Tríptico do Espírito Santo, táboa de princípios do século XVI conservada nesse velho bairro de mareantes, arménios e judeus que é Sam Pedro de Miragaia, na foz do Douro, ao pé mesmo da cidade do Porto mirando a Gaia.
Quanto e a quem compramos, quanto e a quem vendemos é assunto do maior interesse porque achega claves certas da nossa capacidade económica e o nosso potencial de desenvolvimento
Comerciamos muito com o exterior -quero dizer, de Pedra Fita para lá- compramos bens e serviços necessários para as nossas empresas produzirem e investirem e para o para o próprio consumo da cidadania galega. Os mercados de bens e serviços -será bom deixá-lo claro nos tempos que correm- pouco tenhem que ver com os mercados financeiros que é a troca febril de activos e passivos financeiros cujo descontrolo, manipulaçom e paroxismo especulativo tanta desventura está provocando. Comprámos parafusos ou ferramentas bascas, laranjas de Valência, enchidos cataláns ou salmantinos e ordenadores japoneses e vendemos parte da nossa produçom por aí fóra: carne e vinho, roupa, produtos da madeira, turismo, mas também carros, alumínio, energia, produtos petrolíferos. Quanto e a quem compramos, quanto e a quem vendemos é assunto do maior interesse porque achega claves certas da nossa capacidade económica e o nosso potencial de desenvolvimento.
A nossa balança comercial é deficitária: 29,8 - 31,8 = -2,0 mm, é dizer, 3,5% do nosso PIB. Um nível contodo tolerável: um 96,5% de suficiência para atender a nossa demanda interna nom está nada mal
Repassemos os factos. O produto galego do ano 2010 (o PIBpm) foi de 57 mm euros que teve como contrapartida rendas sociais equivalentes, tanto salariais (26,6 mm) como empresariais e de autónomos (25,3 mm) às quais é preciso somar os impostos que gravam os produtos, principalmente o IVA: 5,1 mm. Somando ao produto gerado, 57 mm, a totalidade as importaçons efecutadas, 31,8 mm, obtemos a oferta disponível: 88,8 mm euros no 2010. A contrapartida da oferta agregada é, naturalmente, a demanda agregada constituída por dous elementos, a demanda interna (consumo e investimento): 59,0 mm, e as exportaçons: 29,8 mm. Em total 88,8 mm euros, novamente.
Se ponderamo agora importaçons e exportaçons deduzimos de imediato que a nossa balança comercial é deficitária: 29,8 - 31,8 = -2,0 mm, é dizer, 3,5% do nosso PIB. Um nível contodo tolerável: um 96,5% de suficiência para atender a nossa demanda interna nom está nada mal.
De onde provenhem as nossas importaçons, aonde vam as nossas exportaçons? Como xa conhecemos o valor absoluto de ambos fluxos, será prático responder em percentagens sobre os mesmos. Dos 31,8 mm importados no 2010 procede de Espanha (57,0%), da zona euro (18,8%) e do resto do mundo (pensemos agora na pesca, no alumínio, no petróleo e no gás), 24,2%. Os 29,8 mm exportados se dirigem a Espanha (49,9%), à zona euro (34,4%) e ao resto do mudo (15,7%).
Enquanto Galiza e o País Basco mantenhem saldos comerciais negativos de considerável dimensom com o resto de Espanha, Catalunha beneficia-se dum confortável saldo positivo
Pode surpreender a marcada gravitaçom da nossa economia em torno ao mercado espanhol como fonte de fornecimentos e de destinos. O fenómeno nom é contodo anormal. Tem o seu fundamento no carácter sub estatal da nossa economia. O mesmo acontece com o resto de CC.AA. incluídas Catalunha e o País Basco. Vale a pena apontar assi e todo algum traço diferencial. Enquanto Galiza e o País Basco mantenhem saldos comerciais negativos de considerável dimensom com o resto de Espanha, Catalunha beneficia-se dum confortável saldo positivo. No 2010, o saldo comercial com o resto de Espanha foi de -3,26 mm para Galiza, e de -6,12 mm para o País Basco mas foi +6,43 mm para Catalunha, claramente positivo. É talvez por este motivo polo que o Instituto de Estatística de Catalunha gosta de apresentar o saldo comercial com o resto de Espanha em forma de pudoroso saldo de ajuste complementário aos movimentos comerciais com o estrangeiro. A estatística -o seu nome alude a um Estado que fai contas- tem, como todo, a sua estética.
Interessa destacar a identidade dos nossos autênticos parceiros comerciais na zona euro: estes som França e Portugal. França concentra o 47% das nossas exportaçons dirigidas à zona euro e o 42% das importaçons desta área; Portugal o 22% das exportaçons e o 26% das importaçons. O saldo com ambos países, como também com o conjunto dos países do euro, é amplamente favorável a Galiza.
O privilegiado nexo comercial com França tem umha explicaçom específica: Citroën. O nexo com Portugal tem carácter genérico: é um produto natural do continuum económico-social que nos une
O privilegiado nexo comercial com França tem umha explicaçom específica: Citroën. O nexo com Portugal tem carácter genérico: é um produto natural do continuum económico-social que nos une. Em 2009 o tráfico diário Espanha ↔ Portugal superou ligeiramente os 96.000 veículos diários: 88,5% turismos e 11,5% de veículos pesados, camions e buses. Bom, a fronteira galega concentrou o 38% de este tráfico: 38.850 veículos diários1. Escusado lembrar que o peso da economia galega no conjunto da espanhola nom supera o 5,5%. Terám-se convertido ao reintegracionismo os veículos ligeiros e pesados que sulcam as nossas estradas?
Competir em mercados abertos é o signo dos tempos. A fatal atracçom do aeroporto Sá Carneiro sobre os viageiros galegos, é um bom exemplo
Competir em mercados abertos é o signo dos tempos. A fatal atracçom do aeroporto Sá Carneiro sobre os viageiros galegos, é um bom exemplo. Um autêntico escándalo para a viçosa raça dos patriotas aeronáutico-locais e inexplicável desatino para a Junta da Galiza que nom termina de compreender comportamento tam insolidário e anti-espanhol, apenas desculpável polo inequívoco liberalismo que revela. Crucial contradiçom esta entre patriotismo e liberdade que haverá que elevar -como eles gostam dizer- à FAES.