Por mim e por todas as minhas companheiras

Manifestación feminista, este domingo en Lugo CC-BY-SA Galiza Contrainfo

Era a frase salvadora no jogo das agachadas. Sempre havia quem não dava com o lugar certo para não ser vista, quem não corria avundo para se esconder, quem não encontrava os covis perfeitos ocupados por outra, quem calculava mal a distância da carreira. E sempre era vista pola apandadora e o seu nome berrado bem alto. Existia uma última esperança: que a pessoa que ficava ainda escondida, a cansar a paciência das restantes, a forçar a saída da apandadora do foco de luz, do seu espaço de domínio e conforte(sempre tínhamos que pandar sob a luz dos faróis), que essa pessoa ganhasse a carreira, chegasse às alancadas, e num último alento, pousasse a mão, firme, no muro e berrasse bem alto POR MIM E POLAS MINHAS COMPANHEIRAS. E todas ficavam salvas e o jogo recomeçava.

 

Assim nos vemos nosoutras no próximo 8M. 

Na dívida contraída com as nossas antecessoras, devemos fazer greve, e não consentir que nos arrasem os direitos conquistados e avançarmos na conquista de novos espaços

Vemo-nos chegadas aqui porque antes outras luitaram por elas e por nós, companheiras futuras. Se direito a voto temos, se direito a uma vida livre de homens, sejam pai, esposo, irmão mais velho, se direito a estudar, se direito ao uso de anticonceptivos, se direito a andarmos sozinhas de viagem, se direito a falar o que queiramos falar, se todos esses direitos gozamos é por outras terem feito greve e protestos e luita e reivindicação e educação antes de nós. Na dívida contraída com elas, com as nossas antecessoras, devemos fazer greve, e não consentir que nos arrasem os direitos conquistados e avançarmos na conquista de novos espaços.

 

Assim nos vemos nosoutras no próximo 8M. 

Muitas delas não poderão fazer greve o dia oito. Muitas delas quereriam. Todas elas merecem que nosoutras, as que sim podemos, façamos greve

Estamos convocadas à greve todas as mulheres. E nem todas poderão ir. Porque a realidade é zoupa e cabrita e teremos companheiras ancoradas aos cuidados dessa avó encamada, ou companheiras em trabalhos inseguros onde a palavra protesto significa despedimento, ou companheiras que dependam do salário do dia para se manterem, ou companheiras amarradas a uma parelha perigosa que não consente.

E nosoutras, mulheres implicadas, lembramos também as companheiras do sul escravizadas, habitantes de estados ditatoriais onde a greve não é permitida, prostituídas, vítimas de violências bélicas, usadas como recipientes em compra-venta de bebés, a pagar com a vida a ausência de serviços de saúde.

Muitas delas não poderão fazer greve o dia oito. Muitas delas quereriam. Muitas delas sabem da posição injusta em que o mundo as colocou. E não poderão fazer greve o dia oito. Todas elas merecem que nosoutras, as que sim podemos, as que partilhamos cuidados, as que temos salários e trabalhos dignos, as que temos apoios no nosso entorno, as que podemos renunciar aos euros do dia, que todas as demais, façamos greve.

Por nós e por todas as nossas companheiras.

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