Este artigo nom quer continuar pola senda das lamentaçons e os golpes de peito, nem se vai recriar nas cifras trágicas que já todos conhecemos sobre a deserçom da língua do mesmo povo que a criou. A minha última adessom a umha iniciativa de corte lingüístico foi a de assinar o manifesto “O fim do Apartheid”, e o que levo reflectido até o de agora tem a ver com isso. Com a necessária viragem de rumbo em discurso, estrategia e táctica acerca da língua.
A verdade é que se estou aborrecido de conversar acerca de língua, é entre outras cousas polo cansativo que me resulta escuitar o rosário de sermons, moralinas, preconceitos e lamentaçons que acompanham os patrons de discurso aos que nos costumamos a aderir. Estou particularmente farto do cliché seudo-etnicista esgrimido geralmente por gente que procede do rural e que sentença continuamente isso de que nas cidades nom se fala em galego, ou o cliché geracional que afirma que a juventude deserta em massa da língua. Vaiamos mais aló nas nossas análises, porque ainda que as estatísticas mostrem a verdade, essa verdade pode ter matizes nom explicáveis com números. No rural nom se deserta da língua? Os velhos e os adultos nom desertam da língua?
Qual é o cerne do problema? O problema é que o galego desaparece na Galiza. Que o sintoma mais evidente é que a juventude e a infância nom o falam? Com certeza. Mas a realidade é que é o povo galego quem abandona a língua. Nom é umha aspiraçom socialmente partilhada o recuperar, dignificar e normalizar a língua. Essa tarefa fica para o voluntarismo dos indivíduos que queiram entregar-se a essa batalha diária e resistir as agressons às que os vam submeter. É como umha vocaçom religiosa ou como umha filosofia alimentar. Cumpre-se aquela denuncia de Carvalho Calero, que dizia do modelo de normalizaçom lingüística que avocava ao galego a serem “umha língua para objetores de consciência”.
Dar-se golpes de peito ou converter a luita pola língua numha batalha entre velhas e novas geraçons ou entre rural e urbano nom serve para absolutamente nada. Todos temos, na Galiza de hoje em dia, algumha proporçom de rural e algumha proporçom de urbano. Que alguém me esgrima numha discusom sobre língua o seu pretenso pedigrí porque vem da aldeia, resulta-me além de maçador, ridículo. Eu sei o que é o rural, tenho família no rural como a maioria dos galegos. Sei o que se opina sobre esta questom lá, nesse outro mundo. Nesse outro mundo que afinal está neste mundo, e onde nom tenhem intençom nengumha de ser nengumha sorte de reserva espiritoal de nada. E em certa medida entendo-o.
A ruptura com o mundo tradicional acelera a morte da língua. A questom é como adaptar-nos a umha realidade que se transforma a passos agigantados. Eu suponho que o que eu proponho nom é novo e em realidade já o pensarom muitas pessoas antes do que eu, que sou um simples peom de tropa. Necessitamos projeto social. Um projeto social alternativo ao projeto de sociedade polo que nos conduzem os responsáveis do extermínio da língua.
A burguesia galega, empresariado, oligarquia ou como lhe queiramos chamar, quer desfazer-se da língua de umha vez. Querem umha Galiza que viva dos serviços ligados ao turismo, e nesse sentido a existência da língua galega é umha complicaçom. Para que essa impertinência do galego desapareça de forma definitiva há que ir reduzindo-lhe espaços.
Como já dixem muitas vezes, fazer manifestaçons é relativamente fácil. A batalha das manifestaçons está ganhada...magnífico, a mim parece-me maravilhoso (e sem retranca) que umha manifestaçom pola língua um 17 de Maio congregue 80.000 pessoas. Com certeza, a famosa manifestaçom de Galicia Bilingüe nom chegava nem de brincadeira a tal cifra, ainda que foi também umha manifestaçom numerosa (25.000 pessoas? Nom está mal) mas a guerra nom se está dirimindo nessa frente. Queremos Galego convoca manifestaçons todos os anos...todas as entidades que assistem estám verdadeiramente comprometidas com a língua? Todas as pessoas que assistem som conseqüentes ao cento por cento com o que teoricamente defendem assistindo a essa manifestaçom? E nom o digo por culpabilizar as pessoas, digo-o para incitar a pensar. Que o corpo social organizado comece a pensar em como transformar a força potencial que se demostra numha manifestaçom anual em força ativa.
Houvo nos últimos anos umha batalha semântica entre o nacionalismo e o independentismo por um lado e certos setores do reintegracionismo polo outro: normalizaçom versus naturalizaçom. Os dous termos fam parte do que eu desejo. A quê me refero quando digo que temos que constroir projeto social? Adiantei-no antes...refero-me a criar os mecanismos para que a força potencial seja força ativa. A linha a seguir teria que ser atuaçom local, multi-disciplinar e em rede. Os centros sociais som umha boa iniciativa de partida, mas nom som suficientes provavelmente. Agora bem, que haja espaços físicos de referência onde se leve à prática aquilo que achamos correto, é importante. Normalizar/naturalizar a língua como instrumento vehicular do nosso ócio, da nossa cultura, dos nossos ativismos, do nosso trabalho é umha tarefa que require instrumentos de interaçom de todo o corpo associativo, empresarial, político, etc...que se queira comprometer na socializaçom ativa da língua. Como se lhe chamaria a isso? Redes locais pola língua? Pois pode ser umha maneira de chamá-lo. Eu estou pensando em organismos multi-disciplinares em rede que planifiquem atuaçons conjuntas de socializaçom, revalorizaçom da língua, etc no plano local, desde a realidade de cada lugar. É o mesmo planificar este tipo de cousas na Laracha ou em Monforte do que em Vigo ou na Corunha? Pois nom, evidentemente. E penso, quando imagino isto, na açom coordenada, no apoio mútuo entre entidades como centros sociais, associaçons culturais, organizaçons de estudantes, associaçons desportivas como clubes de bilharda ou de futebol gaélico, pequenos negócios...e isto tudo sem nengumha intervençom institucional. Seria umha maneira de facilitar que essa força social potencial e dispersa tivesse mais fácil enganchar em certas iniciativas e jogar um papel ativo na luita pola língua.
Talvez da minha ideia confesso que primária e informe nom se poida aproveitar mais do que umha pequena parte, ou talvez nada, ou talvez seja umha ideia genial, quem sabe, mas para mim o verdadeiramente importante é assinalar a natureza do problema, porque é que resulta que somos minoritários e dispersos. Isso sim, mais dinâmicos e acho que mais inteligentes do ponto de vista social. O que nom podemos é cair na auto-comprazência de dizer como tenho escuitado que Galicia Bilingüe “som quatro monas” e que nós somos maioria porque a manifestaçom de Queremos Galego reflicte que a sociedade galega maioritariamente reclama maior proteçom para o galego, etc. Sem querer restar-lhe importância ao facto de que dúzias de miles de pessoas se manifestem cada 17 de Maio, a realidade é que sem conhecer quantos sócios terá Galicia Bilingüe, sim que é certo que esta entidade supremacista espanhola aproveita bem as suas quotas de presença na administraçom, no ensino, na sanidade, no mundo da empresa...para implementar a sua folha de rota. É mais, nom esqueçamos que o atual Presidente da Junta assistiu a essa famosa manifestaçom de GB das 25.000 pessoas (cifra, insisto, nada desprezável de assistentes)
E sobre tudo nom esqueçamos que o poder institucional tem-no a direita espanholista e isso é bastante pouco provável que cambie a curto prazo. Enquanto eles continuam a sua obra de demoliçom, nós devemos constroir a nossa alternativa. E esse nós é amplo, diverso e complexo. Mas nom tem porquê ser perdedor. Fiquemos com esta realidade: o problema é social, nom é simbólico. Os esquemas estáticos e baseados em clichés e preconceitos nom servem.