Resultados de PISA e factores externos

À diferença do relatório para adultos da OCDE, publicado há um mês, no que se realizaram análises bastante superficiais dos seus resultados, o último relatório PISA de 2012, centrado em estudantes de 15 anos, tem dado lugar a interessantes estudos bem fundamentados, como o artigo publicado em Praza Pública há uns dias. 

Significativas diferenças entre as comunidades do norte do Estado e as do sul, causadas em grande medida, segundo as conclusões dos próprios autores do estudo, por factores externos de natureza sócio-económica

O meu objetivo é simplesmente achegar novos dados que ajudem a apoiar e reafirmar uma das conclusões mais comentadas ao respeito dos resultados obtidos nas distintas comunidades autónomas do Estado Espanhol. Estou a falar, nomeadamente, das significativas diferenças entre as comunidades do norte do Estado e as do sul, causadas em grande medida, segundo as conclusões dos próprios autores do estudo, por factores externos de natureza sócio-económica. Em matemática, por exemplo, existe uma diferença de 56 pontos (um curso e médio) entre a melhor comunidade, Navarra (517 pontos), que está perto de países como Finlândia e Canadá, e a pior, Estremadura (461 pontos), que se encontra entre Grécia e Israel. Estas duas comunidades foram submetidas às mesmas leis educativas durante as últimas décadas, mas presentam diferenças significativas em termos económicos: a renda per cápita em Navarra, 29.000 euros anuais, quase dobra a estremenha: 15.000 euros.

Em termos gerais, os analistas do relatório PISA acham que existe uma relação entre a renda per cápita das comunidades e os resultados da avaliação: maior renda implica melhores resultados, e vice-versa. No caso concreto dos resultados em matemática, e segundo os cálculos que eu mesmo realizei utilizando como fonte o INE, existe uma correlação de 0.78 (valor de Pearson) entre a competência em matemática e a renda per cápita das 14 comunidades avaliadas. Trata-se de uma correlação alta, mas existem ainda alguns elementos que fogem à tendência observada. O mais rechamante é o caso de Baleares, com um PIB superior a Castela e Leão e a Astúrias, mas com uns resultados muito inferiores aos destas duas comunidades.

Figura 1: Factores sócio-económicos e resultados Pisa por comunidades

Quanto maior é a renda e a industrialização do país e quanto menor é o peso do sector da construção, melhores são os resultados dos estudantes, e vice-versa

Talvez a renda não o explique tudo. Busquei no INE outros factores externos que podem influir no sistema educativo e achei os seguintes: grau de industrialização e dependência do sector da construção. Deste jeito, criei um modelo de factores sócio-económicos que contém, junto com o PIB per cápita, as percentagens do sector industrial e do sector da construção no peso económico de cada autonomia. No caso do sector da construção foquei-me nos dados do primeiro trimestre de 2008, antes da crise. Curiosamente, o peso do sector industrial em Castela e Leão triplica o de Baleares (13% frente a 4%), cujo modelo produtivo reside nos serviços e na construção. Esta tendência divide o Estado em duas metades: o Norte mais industrializado com um sector da construção que só ocupava o 10% do peso produtivo antes da crise, e o Sul menos industrializado com uma construção que atingia mais do 15% da produção (mais do 17% em Baleares). Se juntamos estes dous factores à renda per cápita, normalizamos os valores e voltamos a calcular a correlão ao respeito dos resultados de Pisa, obtemos agora um valor de correlação Pearson de 0.90 (cf. Figura 1), que é um valor muito alto. Dada esta elevadíssima correlação, podemos concluir que estes três factores externos influem nos resultados académicos dos estudantes. Quanto maior é a renda e a industrialização do país e quanto menor é o peso do sector da construção, melhores são os resultados dos estudantes, e vice-versa.

Só cabem duas leituras: ou somos governados por néscios e ignorantes, ou estamos em mãos de maquiavélicos indivíduos que querem abrir uma fenda abissal entre as elites e o resto do povo

O atual governo centra as suas energias em mudar aspectos internos do sistema educativo, como suprimir Educação para a cidadania, incorporar as reválidas, dar mais autoridade ao professorado, etc. Não conheço estudos que provem a eficiência destes elementos na melhora da educação. Por outro lado, o governo esforça-se por recortar ajudas às famílias: em livros de texto, em ajudas a comedores, etc. Como já ficou demonstrado, existe uma forte correlação entre factores económicos e resultados académicos. Só cabem duas leituras: ou somos governados por néscios e ignorantes, ou estamos em mãos de maquiavélicos indivíduos que querem abrir uma fenda abissal entre as elites e o resto do povo. Levo vários anos tentando resolver esta equação, e ainda não estou certo de ter dado com a solução.

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