Um 11S para o 9N

Hoje a Catalunha volta a comemorar a sua derrota, há 300 anos, frente às tropas bourbônicas, um 11 de setembro de 2014 que pode ser o último que se celebre sob a arquitetura estatal emanada dessa guerra perdida. Talvez seja também a última vez que se festeje nesta data a diada nacional. É de supor que a nova República Catalám escolherá umha nova efeméride como festa nacional ou como dia da independência. Porque isso é o que se respira na Catalunha: independência. Umha independência que já é mental, que tem de resolver, ainda, um problema de carácter político mas que já está em andamento. Um processo liderado pola sociedade civil e que por isso vai ser imparável.

Qualquer democrata que conheça a realidade do que acontece estes dias no Principat deveria sentir inveja sã.

Qualquer democrata que conheça a realidade do que acontece estes dias no Principat deveria sentir  inveja sã. Umha parte muito importante da sociedade catalám quer questionar todo, quer criar um novo pacto constituinte através do qual poder construir um novo Estado. A maioria das e dos catalães querem utilizar a independência como um instrumento para modernizar o seu país. Querem criar umha nova estrutura institucional que articule a sociedade e que seja substancialmente diferente do anterior. Um debate que nom se fundamenta em ser ou nom ser espanhol, acompanhado de umha linguagem e uns desejos que nom som basicamente anti-espanhois. De facto é algo que na Galiza, e em geral no conjunto do Estado, é ocultado: o atual independentismo catalám tem umha atitude imensamente fraterna e solidária com o povo espanhol.

Algo que na Galiza, e em geral no conjunto do Estado, é ocultado: o atual independentismo catalám tem umha atitude imensamente fraterna e solidária com o povo espanhol.

Um discurso que sim denuncia as classes dirigentes, políticas e económicas de Espanha às quais culpabiliza, e com razom, de termos chegado até este ponto. Umhas elites culpáveis de nom ter dotado a Catalunha de umhas estruturas de Estado que a defendam e que sejam realmente úteis para a sua cidadania. Uns dirigentes que escolhêrom criar um Estado que nom é valido para toda a sua cidadania mas que som, sim, muito efetivas no benefício próprio daqueles que mandam e também em benefício dos seus centros de poder e decisom. É por todo isto que, estas mesmas elites, querem reduzir todo o conflito a umha questom relativa ‘à unidade da pátria’. É também por isto que parte da classe dirigente catalám mostra dúvidas, indecisões, passividade ou mesmo é abertamente contrária. Porque também elas som questionadas e nom só Espanha. Porque também elas se tenhem beneficiado dessas estruturas caducas e ineficientes do Reino de Espanha e porque também frente a elas está construído o processo. A democracia é sempre inimiga de quem prefere, e pode, decidir em ‘petit comité’ bem seja no palco do Bernabeu bem seja no do Camp Nou.

A gente ‘normal’, os de em baixo, tem vontade de construir algo de novo, que seja melhor, mais justo socialmente, voltar a começar outra vez mas para fazê-lo bem. Para isto realizam hoje a maior e mais multitudinária mobilizaçom de toda a Europa, onde mais de 500.000 pessoas construirám um descomunal V com as cores da senyera, a bandeira catalám. Umha enorme manifestaçom feita com enorme vontade e um enorme civismo que mostrará ao mundo a vontade de democracia deste povo. Fica claro, com isto, que a data do 9 de novembro vai ter de ser um ponto de inflexom ‘real’ -e é bom remarcar isto porque muitas pessoas nom acreditam ainda- acontecer o que acontecer esse dia. Tanto como se é organizada a consulta, e triunfa a democracia, como se nom se celebra, e triunfa a imposiçom. Em qualquer umha destas duas situações nada voltará ser o mesmo neste pequeno país mediterránico.

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.