Prezado(?) do mesmo nome mas de diferentes árvores:
Venho responder também eu por derradeira vez ao seu comentário ao meu artigo.
A verdade é que fiquei chocado com a sua resposta. Não podia imaginar que de todos os argumentos que o senhor podia utilizar se tenha limitado apenas a corrigir o meu artigo a nível ortográfico. Bem, acho que, para além de deixar-me surpreso nas formas, está errado no seu posicionamento num esquema rígido e simplificado do que é uma língua.
Algo do tipo: Isto é correto pois está na norma, isto não é correto porque não está na norma.
E soma-se outra ideia inconsciente que me surpreende porque acho um argumento que diria infantil se não fosse porque já somos bem grandinhos:
Sei mais do que tu porque escrevi sem faltas de ortografia……….................
A sério? A ver ho! Deixe-se disso.
Vamos lá falar de língua e contar-nos cousas novas.
Há pessoal aí fora a ler-nos que se calhar quer saber mais sobre estes temas.
Começo, primeiro acerca dos porquês de um uso ou outro da língua:
Eu acho que a língua é como um cúmulo de camadas sobrepostas.
Alguém pode dominar uma camada, várias camadas, ou a maior parte das camadas.
Numa língua nacional a sério há uma camada teito (tecto) que influi em todas as outras modificando-as.
É a isto que podemos chamar de diglossia interna, característica das línguas que se movem no nosso contexto (economia de mercado-sistema capitalista- ricos e pobres, essa história...).
Bem, várias camadas e uma superior, ok.
Há por outro lado o que se chama “estilo próprio”.
E também “empatia”.
Continuemos.
A “Pragmática” é a disciplina que estuda de que maneira uma determinada pessoa (e segundo em que contexto e com quem se comunica) modifica a sua língua dependendo do grau de empatia que quer mostrar, obter ou demandar de quem vai receber a mensagem e até de quem está a observar a comunicação. Quer dizer, produzimos (até de maneira inconsciente) segundo os nossos interesses e nunca se produz nem igual nem na mesma “camada”.
Bem, o meu artigo anterior fora escrito com a vontade de tender pontes de maneira coloquial com os da banda d’alá, quer dizer, vós, os oficialistas, aqueles que nos negávades até há pouco tempo o pão e até às vezes mesmo a galeguidade. Mas vê-se que não tenho aló grande capacidade de empatizar convosco, neste caso, consigo.
Se calhar é porque o galego do ILG nasceu procurando ser uma única camada restritiva, uma neolíngua estilo 1984, código binário, 1-0, proibido/permitido que impede a livre expressão.
Mas por se acontece que desta vez bate certo vamos fazer uma última tentativa.
Chamemos a isto:
Convencendo os anti-lusistas de que merecemos viver juntos segunda tentativa.
Agora por camadas
Ponham-se cómodas.
Imaginemos que eu, lusista desde os 5 anos, me movo da minha zona de conforto sobre o que penso da língua e começo a duvidar.
Será que não temos nós toda a verdade?
E se os oficialistas têm algo que oferecer ao avanço da língua?
E se eles têm uma chave ainda não utilizada para que a cousa melhore?
Seria uma barbaridade não aceitar esta dúvida, nem dar uma hipótese a outras maneiras de ver a língua.
Ok, tudo bem, nós já estamos a avançar muito em estarmos melhor, mas, e se deixássemos de atacar o outro e começássemos a somar todas as posições em favor duma nova estratégia comum para a língua?
E se esta guerra de guerrilhas das grafias de que este senhor LC participa fosse um cancro que procura separar duas bases sociais que talvez juntas ganhávamos tudo para todas?
Eis aqui uma dúvida que eu acho interessante.
Deixaremos de existir os lusistas por muito que a doutrina oficial do poder continue a marginalizar-nos, agredir-nos, insultar-nos?
Deixaredes de existir os que utilizades a norma imposta polo poder por muito que nós medremos?
Estaremos a perder um tempo inestimável nestas agressões?
(não posso deixar de ver os últimos artigos de LC como agressões aos nossos avanços colectivos, camufladas de “cientifismo” que erram ao meu ver nas análises por serem interessadamente parciais).
Por que não tendermos uns a outros a mão?
Até sabendo que somos/sodes o diabo com cornos, (aqui um sorriso?) poderemos aceitar ambas posições que não vamos/vades desaparecer por muito empenho que houver?
Há muito trabalho a fazer pola nossa casa comum, a língua.
O “inimigo” não está aqui dentro, está lá fora. Melhor, nem é preciso pensar nos inimigos.
Vamos oferecer tudo o de bom que podamos, cada um na sua leira, e tamém todas por junto quando pudermos.
Vamos ganhar espaços para a língua juntos e por separado.
Não estamos já a fazer isto?
Queremos, por dizer exemplos de novos objetivos comuns, o canal “CLAN” dobrado em galego? Queremos as tvs portuguesas de livre acesso? Queremos cursos de galego oral para imigrantes em todas as cidades? Queremos português em todas as escolas? Queremos os médicos e as juízas a falarem galego connosco; queremos estar juntos(?), mas sem deixar de ser quem somos?
Está a nascer um tempo novo. O Vento do Sul finalmente está a chegar, trabalho nos custou a alguns, mas é pra todas, copyleft, gozemos juntas do novo verão que com ele vem. Vinde connosco ver a lua de Agosto.
Agora o que é preciso é caminhar para adiante, num amplo compromisso social anti-apartheid. Um compromisso sobretudo vosso, dos que não sodes (ainda :-)) reintegracionistas.
Se calhar fomos nalguns casos beligerantes a mais em nos defender, mas olhai, ponhede-vos no nosso lugar, quem de vós não mostraria os dentes no nosso lugar.
Somos os gays e as lesbianas da língua saindo do armário. Aqui e agora. 2017. Chega de nos agredir, de colaborar em impor a sua “normalidade” que é mentira. A língua é diversa, os falantes somos diversos. A língua não é vossa nem nossa.
Temos o mesmo direito ao casamento que vós, se me estades a entender.
Por isso, galeguistas do oficial, oficialistas, isto é o que eu vos estou aqui a retransmitir em direto: toca implicar-vos em defender os direitos de todos os galego-falantes, também os nossos, os dos lusistas.
E mãos na massa que há muito ainda por fazer.