para o amigo Casdeiro
No número especial d’A Nosa Terra polo Dia da Pátria de 1935 o joven Francisco Fernández del Riego assina um artigo, intitulado “Nacionalismo e Democracia”, que reproduzindo no básico o programa do Partido Galeguista, contém dous matizes ainda hoje atrevidos. O primeiro é que Del Riego, superando as fortes inércias esencialistas do nacionalismo da altura, define a nação não com um conjunto de princípios abstratos senão com um “sistema, si se quêr, de problemas humáns”, que se deve concretar em “unha autonomía integral, unha independencia”. Esta independência –palabra tão pouco habitual nos dirigentes de então como nos de hoje- materializaría-se em uma fundamental soberania económica que, à sua vez, - e eis a radicalidade da proposta- tinha que assentar na soberania alimentar: “Un senso auténtico de Libertade económica daría indefeitibelmente un ár de vida plena ao noso país. Galicia sin carbón, sin ferro, sin petróleo, sin aventuras de gran industria, non pode contar máis que có seu gando, coas súas terras de cultivo e coa súa posición no mar, favorábel á irradiación dos seus prodoitos”. A política económica do país deveria promover, segundo as teses de costume do PG, os “lazos da cooperación e da entreaxuda mutualista”, avançando face a “socialización da produción” (1).
As críticas às teses económicas do PG são bem conhecidas e dificilmemente refutáveis: esquecimento da luta de classes e indefinição do seu modelo cooperativista. Contudo, neste caso Del Riego, ao pôr sobre o tapete a carestia galega nas matérias primas energéticas básicas para a sociedade industrial, está a ir mais lá das utopias operárias da altura, fundadas na crença de um crescimento sem limites (2). Del Riego asume essa limitação, e longe de fazer propostas autocráticas pouco críveis, aponta a uma economia interdependente aproveitando a favorável posição geoestratégica do país (em feliz expressão de Staffan Mörling, “Galiza não é uma fim da terra, é um centro do mar).
Por ultimo, “(u)ma democracia futura de Galicia xurdiría da parroquia organizada en réxime de Concello aberto”, complementando este assemblearismo de base com “(o) recall. O sufraxio direito e o secreto garantizados” para a democracia representativa, junto com o referendo. A democracia parroquial do concelho aberto não era uma utopia medieval mas uma realidade viva que apenas precisava ser legalmente reconhecido.
Assim o reivindicou Del Riego em setembro de 1933 em varios mitins que de unas paróquias da contorna Compostela. No se São Marcos, segundo a crónica, falou “da persoalidade da parroquia gobernada en réximen de concello aberto, e do recall e do referendum, medidas democráticas que garantizarían o mantimento da autonomía, lonxe do caciquismo que hoxe se cobiza como denantes, anque con distinto rubro baixo dos partidos chamados repubricanos” (3).
Eis um programa de rutura: independência, soberania alimentar e não dependência energética, democracia direta de base, não profissional e garantia de autonomia, e referendo e recall como meios de controlo da democracia representativa.
Cárcere de Villabona, 15 de abril de 2017
NOTAS
1. Francisco F. del Riego, “Nacionalismo e Democracia”, A Nosa Terra nº 375, 25 de julo de 1935, p. 2.
2. Veja-se, para o caso do anarquismo: Los Amigos de Ludd, “Utopistas y anarquistas frente al control de la energía”, em: Las ilusiones renovables. La cuestión de la energía y la dominación social, Bilbau, Muturreko Burutazioak, 2007, pp. 69-109.
3. “Organización e Espallamento”, A Nosa Terra, nº 312, 2 de outubro de 1933, p. 4. Também falou da paróquia autogovernada em concelho aberto em Roxos.