Venezuela e a nova vaga autoritária no mundo

Manifestación de apoio a Maduro CC-BY-SA

Estamos assistindo aos dias prêvios a uma intervenção militar imperialista na Venezuela, e o estado espanhol vai ser claro cúmplice da mesma. Será uma nova derrota para o socialismo, ou finalmente a nova campanha belicista dos ianquis vai acabar em frustração pela heróica resistência do povo venezuelano? Não me atrevo a apostar por nenhum desenlace, mas se realmente as coisas decorrem como o Presidente Trump tem calculado, o que seguramente acontecerá é que se derramará muito sangue. Sangue inocente, sobre tudo, sangue desarmado de povo, também sangue heróico resistente de povo que se enfrenta sem a tecnologia militar e os conhecimentos na ciência da guerra que puder ter o exército mais poderoso do mundo, o dos USA. Desafiar ao gigante do Norte, é expôr-se à sua ira.

A guerra que vem é o começo do combate final do capitalismo contra o socialismo em qualquer das suas formas. Ou isso parece. Não se pode ter a insolência de pretender desenvolver uma revolução socialista quando o “comunismo” leva três décadas oficialmente derrotado (ou isso é o que o pensamento ultra-liberal proclama a raíz da queda da URSS e o bloco socialista europeu) Venezuela, Cuba, o Vietname, a República Popular Democrática da Coréia são impertinências num mundo cujo destino é permanecer inmutavelmente sob o domínio de um único sistema econômico: o capitalismo.

O esquema que justifica a agressão imperialista na Venezuela é absolutamente de “guerra fria”, por isso afirmo que isto tem aspecto de batalha final. A retórica de Trump fala de Nicolás Maduro como de um “ditador comunista”, como se o atual Presidente da Venezuela fosse um mandatário de um país do Pacto de Varsóvia, as fronteiras deste país caribenho estivessem ultra-militarizadas e entrar em e sair do território venezuelano fosse impossível. Na Venezuela não há economia planificada ao estilo soviético e existe a empresa privada, existem os méios de comunicação privados e são legais os partidos políticos e os sindicatos. Peculiar ditadura comunista é essa.

Não, Venezuela não é comunista, e em realidade não é uma ditadura, mas não gastarei tinta em explicá-lo, porque inclusso quem insiste em qualificar a Venezuela de ditadura, sabe que essa definição não se acerta à realidade. E por suposto, não faz falta dizer que o de estabelecer a democracia não é o objetivo real de quem pretende derrocar manu militari a Maduro. Quero recordar que nem Líbia, nem o Iraque, países que sofreram intervenções num passado recente por parte de tropas ianques e da OTAN, têm nem de longe a dia de hoje regimes políticos que se possam homologar como democráticos. E não parece que a quem um dia invadiu e destroiu esses países (sob o argumento de derrocar os seus regimes ditatoriais) lhe preocupe muito a ausência de democracia naqueles enclaves nem a sorte da sua população. O que está em jogo é o petróleo, evidentemente, no caso de Venezuela igual que nos outros dois casos anteriormente citados. E o que é intolerável para os Estados Unidos e para a Europa é que um país que tem petróleo decida nacionalizá-lo e reinvestir o seu maisvalor em educação, em sanidade, em vivenda, em qualidade de vida para o povo. Tudo isto sona demasiado a Chile no ano 1973. Daquelas os USA também lhe declararam a guerra econômica ao governo de Salvador Allende, e finalmente lograram que o exército chileno tomara o poder. Aquí também querem que os mandos militares se impliquem na queda de Maduro.

Não estou a dizer nada novo, é certo. E em realidade não pretendo desenvolver nenhuma teoria sobre a Venezuela, não tenho nada novo que aportar. O que sim quero manifestar é a minha impressão de que o capitalismo e os seus defensores decidiram afrontar a batalha final em forma de guerra aberta contra o socialismo e, se têm sucesso na Venezuela, haverá novas etapas com novos alvos. O neoliberalismo autoritário avança em forma de novo fascismo, com um discurso cheio de ódio de classe, racismo, xenofobia, machismo, homofobia, intolerância religiosa e irracionalidade. E da mesma maneira que se lhe dá carta de natureza a violar a soberania de um país para derrocar um governo que ponha em causa os interesses do grande capital, aceita-se como normal a repressão à dissidência no próprio território. A perseguição e criminalização aos independentistas, anti-fascistas, libertários, o assédio aos artistas, sindicalistas, squatters, população racializada...é absolutamente habitual.

Quero fazer notar que em vários países da UE os partidos comunistas são ilegais como tais, e no estado espanhol já se pus essa possibilidade sobre a mesa. Não deveria passar desapercebido o facto de que o governo de Bolsonaro no Brasil adoptara como primeira tarefa legislar nesse sentido também. Todos sabemos que para a direita o carimbo de “comunista” tem uma aplicabilidade muito ampla.

Portanto se de um ponto de vista anti-imperialista é inexcusável opôr-se a uma intervenção militar na Venezuela, de um ponto de vista anti-fascista também é necessário. A criminalização do socialismo como projeto social, econômico e político, a perseguição do comunismo como ideologia é um processo que se verá reforçado se os planos guerreiristas dos USA na Venezuela chegam ao termo desejado. Terá consequências a nível global e vai-as ter especialmente no nosso contexto.

Não cabe portanto a equidistância, pôr em causa a legitimidade do governo de Maduro é, à partir de que as intenções do governo norte-americano ficaram claras, pôr-se do lado dos agressores e também reforçar o discurso que criminaliza a esquerda por ser o que é.

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