A pandemia há-de passar. E depois?

Ponte sobre o Miño entre Tui e Valença Dominio Público Eixo Atlántico

[Artigo publicado orixinalmente na web do Eixo Atlántico]

A União Europeia não terá vislumbrado a pandemia como oportunidade de intervenção politica e de ação solidária. Cada estado-membro actuou por si no seu território nacional

Ao longo da História da Humanidade houve muitas pandemias que se fizeram sentir de forma descontrolada. Hoje, com os avanços civilizacionais da Ciência e das organizações internacionais, interrogamo-nos com é possível acontecer o que se está a verificar com o corona vírus. Tenho na memória o testemunho dos meus avós sobre o impacto da pneumónica, que fez mais de 50 milhões de vítimas há cerca de 100 anos. Mas os tempos eram outros, com muito menos conhecimento científico e menor capacidade de reacção.

Como em todas as crises, reclama-se acção por parte dos governos. Sendo uma questão global e de segurança, a União Europeia não terá vislumbrado a pandemia como oportunidade de intervenção politica e de ação solidária. Cada estado-membro actuou por si no seu território nacional. Mais uma vez, faria sentido reforçar a competência europeia em temas transversais que reclamam soluções concertadas e cuja intervenção não fique circunscrita a medidas de mitigação económica.

Quanto a Portugal, estamos a seguir recomendações avisadas para nos resguardarmos. O interesse colectivo reclama que se atrase a fase de expansão da epidemia. Assim, garantiremos que o dispositivo de emergência não entre em rotura e se salvem vidas. Mas, para que fiquemos em estado de "protecção", alguns tem de cuidar do que não pode ficar em estado de "congelação". Há serviços básicos que têm de ser mantidos para garantir a aprovisionamento de bens e serviços essenciais: de saúde, de abastecimento, de segurança. 

Esta crise, como todas as outras, vai ter o seu fim, com o regresso a uma nova normalidade. Para o antecipar, urge cooperar nas fases de contenção e de mitigação, fazendo apelo ao civismo, á responsabilidade e ao altruísmo. Mas também desenvolver um sentimento de reconhecimento e de gratidão para com todos os que, correndo riscos, asseguram a continuidade dos serviços que nos permitem sobreviver. A situação está a ser complexa e levanta legítimas apreensões. Muitas organizações tomaram decisões para proteger os seus trabalhadores e para não comprometer a sua actividade, os seus negócios. Fazem planos de contingência e adoptam formas inovadores para continuarem activas até o pesadelo passar.

A História ensina-nos que depois de uma epidemia há zonas geográficas que tiram vantagem disso para encarar melhor o futuro

Mas uma coisa é certa: depois da crise, as coisas não ficarão como dantes. A História ensina-nos que depois de uma epidemia há zonas geográficas que tiram vantagem disso para encarar melhor o futuro. Durante a Peste Negra (que, no século XIV, vitimou um terço da população da Europa), o reino de Castela foi menos exposto do que as regiões com portos marítimos e, aproveitando a sua capacidade para prover o comércio de bens alimentares, impôs o seu domínio à nível Peninsular. 

Temos de aproveitar a "quarentena" para reflectir sobre a nossa forma de viver, de produzir e de consumir. O que tem de mudar a nível pessoal e colectivo? Rever hábitos individuais, mas reclamar mais e melhor regulação nacional, europeia e mundial e de pugnar por uma organização global mais justa, solidária e inclusiva.

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