A pirámide demográfica das sociedades do bem-estar ameaça ruína por encurtamento progressivo da base de sustentaçom e ampliaçom desmedida da cúspide de idosos custodiados pola Segurança Social benfeitora. O peso da gerontocracia e o bloqueio à incorporaçom das novas geraçons tolhe a actividade económica e condiciona gravemente a mobilidade social. A imigraçom é um imperativo imprescindível da Europa avelhentada. Os pequechos som celebrados como gozoso alvoroço nas ruas; nas aldeias a cousa é pior: a vida nova desapareceu enquanto a ancianidade solitária vegeta em vivendas sobredimensionadas, rodeadas de pendelhos sem uso, símbolo mudo da velha economia campesina.
Há outra pirâmide menos visível, a que determina a vida da gente polo seu nível de ingressos e de património com umha base dilatada de necessitados e um estreito vértice de afortunados. Ambas as pirámides, a demográfica e a de capacidade económica, manifestam grande estabilidade por efeito do colapso da taxa de natalidade e da mobilidade social, fenómenos aliás correlacionados.
O último inquérito do INE sobre as condiçons de vida, relativo ao ano 2016, permite delimitar a fronteira que separa os pobres dos ricos na nossa sociedade. O ingresso meio dos fogares espanhóis situava-se em 27.558 euros anuais. Mas, o que deveras nos interessa, nom é este indicador que homogeneíza pobreza e riqueza senom o denominado umbral de pobreza que se define como o 60% da mediana dos ingressos; quer dizer, o 60% do nível de ingressos que fica justo no meio destes quando se ordenam de menor a maior. O 60% da mediana, 60% dos ingressos do fogar que está no meio justo dos que percebem mais e dos que percebem menos, situava-se em 2006 em 8.522 euros anuais para um indivíduo que vive em solitário e de algo mais do dobro, 17.896, para umha família de dous progenitores com dous filhos menores de 14 anos a cargo. Pode surpreender o facto de que, por debaixo deste umbral, sobrevive nada menos que 21,6% da populaçom espanhola, mais de 10 milhons de cidadaos. Lembremos que Andaluzia, a comunidade espanhola mais povoada, nom supera os 8.400.000 habitantes.
O umbral de pobreza tem a sua própria geografia. Em Navarra só caem por debaixo do mesmo o 8,3% da populaçom, em Estremadura o 38,8%, na Galiza 18,7%: 1.050.000 habitantes. Por baixo do umbral de pobreza mal vive, portanto, na Galiza um colectivo social mais numeroso que o conjunto dos habitantes das sete cidades galegas, que nom alcançam o milhom de persoas. Nestes tempos de paroxismo demagógico acerca da unidade de Espanha nada ouvimos sobre o omnipresente separatismo da pobreza.
A pobreza familiar tem muitos rostos; o da extrema penúria de chegar a fim de mês “com muita dificuldade”, por exemplo, atenaza o 9,3% dos fogares espanhóis. O dos fogares em défice por atrasos nos gastos ineludíveis de vivenda, como hipotecas, alugueres e recibos da luz ascende a 7,4%: um de cada 13 ou cada 14 fogares.
E ainda deveríamos pensar nos fogares com um único residente de mais de 65 anos, habitual das páginas de sucessos. Um colectivo de 2 milhons de fogares: 11% dos 18.500.000 existentes em Espanha. Lemos os últimos dados sobre ejecuçons hipotecárias: 25.903 vivendas fôrom objecto de embargo em 2018.
À parte de delimitar os colectivos que se debatem na fronteira da exclusom, interessa-nos conhecer a segmentaçom da sociedade espanhola por ingressos percebidos que marca a estratificaçom por classes. A estatística de declarantes por IRPF é o melhor guia de pesquisa da pirámide de rendas. À margem fica o colectivo carente de recursos, sem reconhecimento nem obrigas.
No extremo superior contamos 7.000 contribuintes com ingressos anuais declarados superiores a 600.000 euros anuais; no extremo inferior, em volta de 4.500.000 contribuintes declaravam ingressos inferiores a 6.000 euros por ano.
2016: [euros/ano] | Declarantes IRPF | Ingressos declarados: euros |
0 | 514.239 | 1.956.398.245 |
0→1.500 | 1.157.850 | 5.899.024.138 |
1.500→6.000 | 2.775.409 | 25.393.755.359 |
6.000→12.000 | 2.025.042 | 24.940.304.293 |
12.000→21.000 | 4.437.166 | 81.523.749.815 |
21.000→30.000 | 3.011.271 | 80.924.725.724 |
30.000→60.000 | 3.192.035 | 126.324.858.944 |
60.000→150.000 | 593.166 | 42.538.695.998 |
150.000→600.000 | 70.534 | 10.878.025.042 |
> 600.000 | 6.981 | 4.508.397.482 |
Total | 17.783.693 | 404.887.935.040 |
Os estreemos da pirámide som eloquentes. No tramo inferior de declarantes com ingressos inferiores a 12.000 euros anuais — o submileurista — pululam 6.472.540 contribuintes (36,4% dos declarantes) que somam 58.189.482.035 euros de ingressos conjuntos, (14,4% da totalidade), com ingressos médios de 8.990 euros anuais, no umbral da pobreza caso carecerem de família ou sumidos na miséria caso serem responsáveis dela.
No tramo superior pousam os afortunados com ingressos superiores a 60.000 euros anuais: 670.681 declarantes (3,8% do total) com ingressos conjuntos de 57.925.118.522 euros (14,3% do total) com ingresso meio de 86.368 euros por ano. Quer dizer, 671.000 afortunados gozam de rendas anuais 86.368/8.990 = 9,6 vezes superiores às dos 6.500.000 mais desfavorecidos.
Entre uns e outros situam-se as classes médias — 60% dos declarantes, 71% dos ingressos declarados — com ingressos compreendidos entre 12.000 e 60.000 euros/ano e 27.139 de de ingresso meio anual. O segmento inferior deste grupo, com ingressos compreendidos entre 12.000 e 21.000 é o mais numeroso de todos (4.437.166 declarantes, 81.523.749.815 euros percebidos) e forma a base social das classes médias. O segmento mais vulnerável.
A intençom manifestada por Pedro Sánchez de revisar à alça os tipos marginais para ingressos superiores a 150.000 euros/ano a fim de reforçar os programas sociais afecta apenas a 0,4% dos declarantes, 77.515 em total. Nom faltam os corifeus que qualifiquem a discreta medida de confiscatória.
Ficam ainda as sequelas da crise do 2008. Nos começos do presente ano publicava Oxfam Intermon um demolidor informe sobre imobilidade social e pobreza em Espanha. A brutal crise, disque superada, disparou a rácio de ingressos do 10% das famílias mais ricas sobre o 10% das mais pobres desde 9,7 vezes que mantinha em 2008 até 12,8 vezes em 2017. É umha das conclusons da desapiedada inércia desigualitária.