Aconteceu no liceu Punta Candieira. Uma denúncia anônima provocava a retirada de um texto dos que compunham a exposição dos trabalhos que sairam de um obradoiro poético impartilhado pelo poeta Carlos Negro naquele centro de ensino do concelho de Cedeira. Não posso evitar sentir-me agredido. Toda pessoa que acreditar na liberdade deveria sentir-se agredida.
Porque um dia posso ser eu, porque um dia pode ser qualquer dos meus companheiros e companheiras. Não se pode prohibir a palavra, nem sequer a palavra ódio. O ódio é um sentimento humano. Não será um sentimento bonito, mas todos experimentamos esse sentimento. E eu agora, neste momento, sinto ódio. Sinto ódio pelos covardes que optaram delatar na escuridade o que um poema expressava à luz do dia. Há que dar a cara, para ser merecente de respeito. Os que delataram desde as sombras, quê pedagogia estão exercendo?
A arte subscita debate. Provoca reações. Às vezes de desagrado. Quem se sentiu aludido ou contrariado pelo que expressava o poema podia optar por debatê-lo na sala de aulas. Preferiu ir choramingar sob as saias do poder. Os fascistas são assim...misseráveis.
Os fachas, esses aos que se alude no poema, estão satisfeitos. Porque já tudo ficou em ordem...o poema não se pode expôr. E a lição ficou gravada a fogo nas memórias...não ponhas sobre escrito mensagens que nos incomodem. Porque então, a delação funcionará, e a repressão chegará. Como num sistema disciplinar democrático pode ser factível a denúncia anônima? Isto também nos teria que fazer pensar...
Eu partilho tudo o que diz o poema censurado. Eu também odeio a tauromaquia, também odeio Espanha, também odeio os fachas, também odeio perder o tempo, e por suposto ter fome. Mas sobre tudo odeio aos covardes e misseráveis que, não contentes com o poder que lhes confire a autoridade acadêmica e a condição adulta, optaram por agir desde as tebras.
Que uma chuva de versos de Celso Emilio, Pondal, Rosalia, Álvarez Torneiro, Curros Enríquez, Carvalho Calero, Avilés de Taramancos caiam sobre esses imbéciles. A ver se a esses também são quem de denunciá-los