Assim nasceu uma língua ou as verdades de pata de banco

Capa do libro de Fernando Venâncio ©

O último libro do lingüística portugués “Assi naceu ũa lingua” provocou o rexeitamento do movemento reintegracionista-lusista galego, como demostraron os artigos dos señores Joám Lopes Facal e Valentim Fagim. Mais daquela que defende o profesor Venâncio? Por que se incomodaron?

Non semella que afirmacións como as seguintes poidan amolar a un galeguista:

“Quando Portugal surgiu, os seus habitantes continuaram, […], a exprimir-se na língua em que o vinham fazendo. […], a primeira língua de Portugal foi o galego”.

E cita a Clarinda de Azevedo Maia: “Até ao termo do século XIV, é impossível separar linguisticamente a Galiza do Norte de Portugal até ao Douro”.

E tamén a Esperança Cardeira: “Antes de Portugal, antes do português, no limiar do século X, já estava constituído um romance”.

“A simples ideia de que, […], um idioma estrangeiro possa ter sido a língua de Portugal é-nos insuportável. Foi dessa repugnância que nasceu esse famoso galego-português, […] que, […], elimina intermediários entre latim e o português”.

“A introdução maciça dum i epentético na pronúncia do português é tão-só a primeira ilustração dum vasto processo, […], conhecido por desgaleguização”.

“O exame de textos quinhentistas e seiscentistas revela o progressivo abandono de formas como ũa, algũa, nengũa, […]; dos pronomes polo, pola e todolos, todalas; da conjunção comparativa ca; do pronome dativo che, com as suas contracções cho, cha, etc.; das variantes cousa, dous e ainda chuiva, fruita, truita, escuitar”.

“Se há uma imagem de marca na grafía do português, é certamente o ditongo ão”.

“Esse ditongo, […], conheceu, a partir do século XV, uma proliferação desenfreada. Ele faz parte daquele pacote de escolhas, algumas decisivas, com que o português quis despedir-se das formas nortenhas do idioma”.

Seica si ao nacionalismo portugués, que inventou termos como: galego-portugués, Lusofonía ou Portugalidade e fixo unha narración irreal tanto do seu idioma coma da súa historia. Onde aseveracións como as seguintes desgustan:

“Contar palavras […] permite demonstrar a assimetria de para cada lusismo no espanhol existirem cerca de 80 espanholismos no português.”

“A verdade é que a variedade brasileira e a europeia se vêm, desde há séculos, afastando, e cada dia se vão afastando mais, num processo irreversível”.

“O espanhol a servir-nos de aval em matéria de vocabulário culto”.

“Nem sequer o português europeu e o português brasileiro (eles sim, duas variantes do mesmo idioma) são mutuamente aproveitáveis.

» […] sintacticamente, o português europeu está mais próximo do galego que do português brasileiro. Além disso, as divergências fonéticas, morfológicas, lexicais, semânticas e pragmáticas […] são inúmeras entre os dois portugueses.

» Por isso não existem, e nunca existirão, traduções luso-brasileiras, […]. Em matéria de tradução e de edição, o Brasil e Portugal têm, cada um, a sua política e a sua indústria, inteiramente independentes. O célebre Acordo Ortográfico de 1990 foi, no mundo real, um devaneio inútil e dispendioso”.

Porén o profesor, amais de defender posicións que a nacionalista tradición lingüística lusa omite, ten a ousadía de proclamar como ineficaz e irreal a meta do movemento lusista galego:

“Contar palavras […] permite […] evidenciar a sistemática introdução duma semântica e dum léxico espanhóis na escrita de reintegracionistas radicais na Galiza”.

Português da Galiza, noção historicamente tão desapropriada como seria brasileiro de Portugal”.

“Ao contrário do que alguns galegos mais líricos imaginam, as grafias e pronúncias portuguesas uma, alguma e nenhuma nada têm de genuíno, sendo produto dum gráfico quinhentista com imaginação”.

“Em 2009, o professor galego Valentim Fagim publica Do Ñ para o NH. Trata-se de uma gramática do português, considerado língua da Galiza, [..]. Para as palavras acabadas em ão, […], basta conhecer os plurais dessas palavras em castelhano”.

“O lusismo galego, […], não só propõe aos galegos o abandono dos seus regularíssimos plurais […], como propõe importar para a Galiza essa gigantesca disfunção morfológica portuguesa que, […], nasceu exactamente de uma rejeição dos usos galegos”.

“A proximidade entre português e galego é assombrosa, mas não demonstra uma identidade. Com algum investimento, poderiam construir-se dois textos sem praticamente nada de comum e, portanto, impenetráveis ao utente da outra comunidade”.

“É, com efeito, muito desenvolvido o léxico genuinamente galego incompreensível para um português comum”.

“[…] funcionamento de galego e português como a mesma língua é dado pelo informático galego José Ramom Pichel, […]. Isso valerá para um texto de tipo ensaístico, mas já menos para um jornalístico, e de modo nenhum para um ficcional. A par de miutas e notáveis coincidências, existe todo um vasto léxico exclusivo galego, e outro exclusivo português, além duma chusma de falsos amigos entre eles. Também a morfologia verbal e as formas de tratamento estão longe de coincidir”.

“Só que o movimento reintegracionista é conduzido, não por linguistas, mas por abnegados activistas. Por isso, nunca esse movimento desenhou um futuro linguistico numa Galiza real, a dum bilinguismo galego e espanhol, com um predomínio esmagador da língua do Estado”.

“A insistência do professor Garrido na escassez de vocabulário exclusivo galego nasce duma postura ideológica. […], toda a variante galega que não coincida com uma «luso-brasileira» é, por princípio, secundarizada. […], o reintegracionismo galego, avesso a diferenças lexicais […], propõe a pura substituição do léxico galego pelo do português”.

“O apagamento do galego patrimonial é um requisito da ortodoxia radical reintegracionista”.

“Mas é fenómeno comum galegos se envergonharem do próprio idioma. Dá-se isto em gente do povo […]. E dá-se também em intelectuais […]. O português seria, para eles, a versão apresentável do galego. O mantra chamado «português da Galiza», que ganha terreno entre os reintegracionistas, nasce desta vergonha”.

“Os únicos livros redigidos no Acordo anterior, o Acordo Ortográfico de 1986, unanimemente rejeitado no Brasil e em Portugal, foram editados por reintegracionistas galegos. […], quando o Acordo Ortográfico de 1990 mandou a etimologia às urtigas, aqueles mesmos que até 1986 juravam por uma ortografia etimológica mudaram-se com armas e bagagem para a ortografia da pronúncia, essa mesma que diziam abominar no galego autonómico. O servilismo português dos lusistas galegos é proverbial”.

“[…] dum artigo do académico Valentim Fagim, […]: «A Galiza, […], é o espaço onde nasceu a língua portuguesa para depois irradiar para sul e outras latitudes».

»[…]: o que se criou na Galiza, o que dali depois saiu, não foi galego, foi «a lingua portuguesa»”.

“Estamos perante o que, […], seria chamado fetichismo ortográfico: desde que grafado à portuguesa, toma-se por português legítimo”.

“Só que quase todos os slogans propostos em contexto reintegracionista só funcionam através do espanhol”.

“Se utentes que sabemos movidos por um ideal (…) desfiguram assim a língua que dizem estimar acima de todas, que sucederia no emprego do português pelos restantes galegos”.

“Em textos reintegracionistas, abundam as frases que só se entendem quando retraduzidas para espanhol”.

“Assinalem-se os muitos casos de simples importação de léxico espanhol: […] ou de semântica espanhola: […] ou de fraseologia espanhola: […].

»Em contrapartida, a verdadeira freseologia portuguesa (e mesmo a galega) fica-lhes vedada. O espanhol funciona como eficacíssimo filtro”.

“Negam, mesmo, que o português tenha hoje duas normas diferentes, […]. No momento em que admitissem essa diferença entre português brasileiro e português europeu, teriam de admitir que entre galego e o conjunto português a diferença é ainda maior”.

“A AGLP produziu um Léxico da Galiza (…), que ela promove fora de portas como marca da sua galeguidade. Só que, na sua prática de escrita, não se vislumbra sombra desse léxico. É um produto de relações públicas, útil para uma imagem galega da AGLP”.

“Na imagem que os portugueses fazem de si, do seu país e da sua história, nenhum papel está reservado à Galiza”.

E após os extractos reproducidos queda claro por que este libro do profesor Venâncio molesta ao movemento reintegracionista-lusista, aínda que el non sexa infalíbel e tamén recoñeza os seus erros, como o dun pasado prorreintegracionista que lle fai aparecer como traidor a ollos do fanatismo reintegracionista-lusista:

“Houve um tempo em que eu própio estava convencido da identidade de galego e português. […] Com efeito, todos os traços […] importantes de galego e português, […], são comuns a ambos.

»Hoje, dou-me conta de que isso não chega, ao não recobrir a inteira paisagem.”

Por último, se eu redactase este texto con pulcra ortografía portuguesa, aconteceríalle o mesmo que o profesor critica: sería un portugués de Galiza, é dicir [en portugués dise “quer dizer” nunca “é dizer”], un texto galego con moita influencia castelá baixo vestimenta portuguesa.

En resumo, ás verdades do profesor Venâncio ocórrelles o mesmo ca aos queixumes d’Os Pinos galegos, que “só os iñorantes, e férridos e duros, imbéciles e escuros, non os entenden, non”.

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