'Blue Star': aviso a navegantes

O Blue Star, na costa de Ares este 2 de decembro, xornada na que finalizou o baleirado de combustible CC-BY-SA Iago Varela

Um barco com produtos químicos fundeado à capea na ria de Ares. Uma noite de forte vento de Inverno. Inicia o buque-tanque a manobra para entrar no porto da Corunha apesar da alerta meteorológica. Perde a máquina no médio da noite. A derrota do barco leva-o a acabar encalhado nas rochas... Soa-lhes?

Em efeito, estou a falar do caso Aegean Sea (Mar Egeo).

"Nestes dias estou a escutar que o caso do Blue Star é idêntico ao do Prestige. E não. O que é idêntico é ao Mar Egeo"

Porque nestes dias estou a escutar que o caso do Blue Star é idêntico ao do Prestige. E não. O que é idêntico é ao Mar Egeo. Por sorte o barco desta volta ia baleiro e disponha de duplo casco. Alias, a dia de hoje já parece que o risco principal ecológico de uma vertedura do combustível do motor não existe. O que faz com que o caso fique praticamente à altura de um simulacro. Tirando, claro, os graves inconvenientes económicos na pesca do lugar que está a ter a proibição de faenar.

Mas as similitudes são surpreendentes 27 anos depois. E a dia de hoje, igual que no acontecimento do Aegean Sea, temos muitas perguntas sem contestar. A principal, que engloba o resto: como pode ser que um barco embarranque a escassas milhas da torre de vigilância marítima do centro de coordenação de salvamento da Corunha? Falhou a coordenação com o centro do monte Enxa? Estava informada capitania marítima da situação do buque? Por quê o barco estivo praticamente uma hora sem governo e sem receber ajuda alguma na ria de Ares? Tinha o buque o AIS desativado? Pediu ajuda tarde desde a ponte a tempo ou é que a tardança foi dos médios de Salvamento em acudir? É certo que o único remolcador disponível nesse momento na Corunha, o Maria Pita, não tem capacidade para esse tipo de actuações? Demasiadas dúvidas abertas...

Detalle do Blue Star tras a vertedura de combustible durante o baleirado, coas esponxas na auga CC-BY-SA Iago Varela

Seja o que for o caso, não se foi quem de evitar que um barco encalhe na ria de Ares, entre os portos da Corunha e Ferrol, numa zona relativamente protegida de mar aberto e fortemente povoada por centos de milhares de pessoas. E se isto é assim neste lugar, que capacidade de intervenção rápida e eficaz temos de acontecer um caso semelhante, por exemplo, no cabo Ortegal ou em Fisterra?

A grande dúvida é: estamos preparados para um acontecimento de um buque de grande calado que fique à deriva nas nossas águas como é o caso do 'Blue Star'? Em vista do acontecido não parece que seja assim

Outro caso de menor entidade causou polémica entre a gente do mar também por este tema nas últimas semanas: o caso do cerqueiro Luz Divina de Portosín. Embarrancado com forte polémica na costa de Baronha, que não pôde ser salvo e também com destino quase definitivo no desguace neste caso com o desgraçado resultado de uma pessoa falecida. 

E que quede claro que são consciente de que temos uns serviços de salvamento realmente extraordinários. Cada dia levam-se a cabo todo tipo de acções de pequena escala, um trabalho calado mas imprescindível. Mas a grande dúvida é: estamos preparados para um acontecimento de um buque de grande calado que fique à deriva nas nossas águas como é o caso do Blue Star? Em vista do acontecido não parece que seja assim…

Claro que a proximidade do barco à costa reduz o tempo disponível de reação, mas também isto é preocupante, pois o risco associado ante avarias críticas, sabotagens, colisões entre navios etc, etc… é também maior. Pergunto-me se não seria necessário que o sistema AIS que marca o posicionamento dos buques que o portam tiveram uma alerta de rumo de colisão conectado em tempo real com a comandancia marítima. E que este sistema não só advertira de colisão entre navios, se não que também o faça com outros obstáculos como si faz o ARPA, sistema que não interactua com o anterior. 

Sobre os planos de continência ante contaminação marítima, apesar de que a Junta afirma que ativou o plano CAMGAL, e não duvido que isto fora assim, a realidade é que não se viram as barreiras anti-polução pela zona

A situação e a seguridade nas manobras dum barco destas dimensões não pode estar unicamente supeditado às decisões das pessoas da ponte. 

Ademais no caso Blue Star alem de não evitar o encalhamento, também não se logrou refrotar o barco varado com médios próprios. E uma vez que o governo percebeu que não havia risco ambiental (com 105.000 litros de combustível a bordo?) o estado “solicitou” à empresa que se fizera cargo do buque que decidiu recorrer à empresa privada holandesa Smit Salvage BV (empresa encarregada de “resgates” como o do Prestige ou o do Casón), aparentemente por não dispor de tecnologia similar por estes lares.

Há muito que fazer ainda porque outro 'Urkiola', outro 'Casón', outro 'Aegean Sea', outro 'Prestige', outro 'Erkowtitz' são ainda hoje demasiado possíveis

Sobre os planos de continência ante contaminação marítima, apesar de que a Junta afirma que ativou o plano CAMGAL, e não duvido que isto fora assim, a realidade é que não se viram as barreiras anti-polução pela zona, com a escusa exibida pela Conselheira de Pesca em sé parlamentar de “não entorpecer as labores de resgate”, o que não se ajusta à realidade pois a partir do terceiro dia não se levou a cabo ação alguma desde o mar, senão que a extração do combustível foi sempre levada a cabo desde terra. De facto ante a rutura da mangueira chegou a haver uma pequena vertedura, e nesse momento, segundo as imagens observadas, não existia barreira alguma na zona.

Insisto: demasiadas dúvidas, demasiadas perguntas sem resposta de um grave incidente que tem que nos fazer levar a uma avaliação completa do acontecido. E que tem que servir como grave aviso a navegantes de que há muito que fazer ainda, é que outro Urkiola, outro Casón, outro Aegean Sea, outro Prestige, outro Erkowtitz são ainda hoje demasiado possíveis. Tomemos medidas antes de que seja tarde…

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