De emergências, divergências e refundaçons

Todo arrecende a mudança no país. O novo  Anova, Em Maré – parece ter envelhecido em meses, o perpétuo e intemporal – BNG – está sumido numha crise de identidade de imprevisíveis consequências. O cenário político espanhol ameaça ruína, a economia deixou de ser umha ciência exotérica custodiada por umha caste sacerdotal secreta. E para completar, o tempo nom ajuda, poderíamos sentenciar à Woody Allen.

AGE  que vem sendo o BNG sui generis da Anova  centrifugou desde os passados comícios galegos três deputados dos seus nove com que contava ao Grupo Misto da Cámara: dous nacionalistas do Cerna e umha dissidente da EU. Fica desta maneira, com seis  dous de Anova, incluído Beiras, e quatro da EU  contra sete eleitos do grupo parlamentar, estável e predizível, do BNG. Nom fai falta lembrar que AGE conseguira nove escanos com 200.000 votos e o BNG os sete que mantém com 146.000.

A nom ser que admitamos a improvável hipótese de que a estratégia da Anova consiste em suscitar activismo cívico para submetê-lo depois a um confuso processo de emulsom, é preciso concluir que o objectivo mais provável de promover umha nova formaçom política ao serviço da Galiza aponta ao fracasso.

E nestas, somos surpreendidos por umhas chocantes declaraçons de Beiras nas que proclama com aprumo: “Os colectivos que quigerem integrar-se na Maré nas próximas eleiçons ao Parlamento Galego, deverám aderir-se em forma incondicional; o tempo das negociaçons em pé de igualdade já passou”. Algo nom quadra nesta declaraçom de direito de admisom reservado para ingressar no patch-work das Marés. Irá de veras tam sobrada de efectivos a Babel cívico radical em formaçom para já se permite abrir aduana de admisom a novos aderentes? Ou será que receia talvez da possível contaminaçom por vírus letais que por aí andam?

No entanto, Em Maré nom parece a plataforma mais sólida que se poda imaginar. O já ex secretário-geral da organizaçom associada, Podemos, Breogám Riobôo, proclamou a conveniência de emancipar a sua organizaçom da confusa dependência em que se insere para aspirar a configurar um grupo próprio na Cámara galega. Os órgaos centrais da formaçom nom consideram oportuno de momento o opting out. Talvez sejam mais espertos em matéria de cálculo mental e prefiram prolongar um noivado tam satisfatório de momento.

Assemblearismo, política em rede, lideranças incertas, mensagens rupturistas; todo num cenário de colapso do bipartidismo. Resiste, é certo, o PP galego, mas o enigma da carreira política de Feijó e a instabilidade progressiva já levou por diante os secretários provinciais da Corunha, Lugo e Ponte Vedra. O PSOE também resiste, em Andaluzia, na Galiza vai caminho de se converter num espectro de habitáculo municipal.

Devemos agradecer ao movimento das Marés ter sido capaz de projectar a dimensom nacional nacional no cenário político madrileno, apesar da flagrante fragilidade do seu discurso político e estabilidade estrutural. Em compensaçom, nom vai ser fácil esquecer que a aliança urdida entre Anova, Podemos e a EU, com exclusom da mao tendida na ocasiom polo BNG, frustrou a possibilidade de situar um grupo nacional galego na Cámara espanhola e conferiu à representaçom galega o atractivo papel de colorante do grupo parlamentar de Podemos.

A componente valenciã, Compromisso-Podem, reagiu de imediato à inevitável disjuntiva assimilaçom/reafirmaçom cumha cisom que conduziu quatro membros do Bloc Nacionalista Valenciano de Podemos ao Misto da Cámara, dos onze eleitos primitivos “em coerência com o compromisso adquirido de configurar grupo próprio”. Talvez a anedota poda oferecer algumha liçom aos deputados galegos eleitos, caso de as suas iniciativas políticas nom serem acolhidas com o entusiasmo devido polo grupo em que se integram como parece ser. Mudam as conjunturas, mudam as vontades.

A qüestom sempre latente da plurinacionalidade do Estado cobra nova actualidade impulsionada pola agenda independentista catalã enquanto a qüestom nacional galega segue adorminhada entre o relato épico e a crónica da impotência.

A incapacidade de confluência entre diferentes –entre coincidentes nom tem mérito embora nom seja sempre fácil – agudiza nestes momentos os efeitos seculares da “trahison des clercs”, própria das nacionalidades frustradas, condenadas sempre a cederem a criatividade da sua juventude aos aparelhos do Estado, o prestígio da língua dominante ou a carreira profissional em terra alheia que já descrevera Gramsci como traço fatal das sociedades do sul de Itália.

Fracassou a Iniciativa pola Uniom, prevaleceu a estratégia de centrifugar 400.000 votos galegos para um projecto aventurado e recém-vindo ao ecossistema político galego que contribuiu, aliás, a reforçar o sector mais imobilista do BNG. Outra oportunidade perdida que deveria fazer reflexionar aos líderes de opiniom do movimento cívico perante a disjuntiva aberta nos comícios galegos: reeditar o divórcio ou empreender a reconstruçom, ceder ao patriotismo tribal ou abrir as portas à pluralidade constituinte.

Desprezar as mensagens renovadoras que o BNG agora emite, talvez por necessidade transitória, e travar as iniciativas cívicas favoráveis à abertura dum ambicioso processo de convergência das forças transformadoras que em Galiza se debatem, pode ser a confirmaçom definitiva da derrota do único projecto capaz de convocar-nos: Galiza como tarefa.

Anova com os seus mares e o BNG nos seus sólidos domínios deveriam ser conscientes do momento singular que transitamos e da sua previsível fugacidade. A iniciativa propulsada por Ana Colau  doze deputados no grupo parlamentar de Podemos, “poca broma” – dá para pensar. O anúncio da intençom de constituir-se em partido nacional catalám que integrará ademais a ICV deveria ser na Galiza quase assunto interno.

O nacionalismo galego emergido do franquismo assiste hoje, reconheça-se ou nom, ao acto final do seu atribulado percurso histórico.  Conformaremo-nos com o sabor já habitual da derrota ou ousaremos por fim romper o consabido esquema de dissenso e inoperáncia?

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