Estamos num ponto de inflexom na história da língua galega. O que fagamos agora será determinante para o futuro da nossa língua. O galego neste momento nom necessita um que, nem um quando, nem sequer um porque, necessita um para que. Para que necessitamos o galego? Para que necessitamos um barco? E a resposta é a mesma em ambos os casos: para navegar através do vasto e infinito mar
Existe uma citaçom atribuída ao autor francês Antoine de Saint-Exupéry que, parafraseando, di algo do tipo: “Se queres construir um barco, nom juntes pessoas para procurar madeira, cortar tábuas e fazer as tarefas. Primeiro, desperta nelas o desejo polo vasto e infinito mar.” É possível que o autor d’O Principinho nunca dixesse realmente essa frase. Isso pouco interessa. Só a estou a usar aqui como escusa para que nos detenhamos um momento e reflexionemos.
Durante décadas, pensamos que para normalizar o galego, para dinamizá-lo, para fomentá-lo, o que fazia falta era dar à gente produtos em galego. E é preciso ter produtos em galego, é claro. Para que o galego avance necessitamos livros em galego, filmes e séries em galego, redes sociais com a interface em galego, tudo. É imprescindível. É a madeira que necessitamos para construir o barco. Mas… a gente está a usar essa madeira que lhe damos? Quanta gente galega leu os livros de Harry Potter em galego e quanta gente os leu em castelhano? Quanta gente galega viu a série Os Anéis do Poder em castelhano porque nem parou a pensar na possibilidade de que estivesse em galego? Quanta gente galega tem o seu móbil Android configurado em galego?
Nós, reintegracionistas, ainda insistimos mais. A lusofonia dá-nos muitíssimos recursos de todo o tipo, fai que a nossa língua esteja presente em lugares que pareciam impossíveis. Além da madeira de pinheiro, temos também esta madeira de carvalho bem resistente, e ainda esta madeira nobre de jacarandá. Mas… estamos na mesma. Quantas médicas galegas tenhem o Princípios de Medicina Interna de Harrison em português de Portugal e quantas o tenhem em castelhano? Quanta gente galega sabe que pode jogar o Fortnite em português do Brasil? Quanta gente galega tem o seu iPhone configurado em português?
Despertemos nos corações das pessoas o desejo polo vasto e imenso mar. Despertemos nos corações das galegas o desejo pola nossa língua extensa e útil
Estamos num ponto de inflexom na história da língua galega. O que fagamos agora será determinante para o futuro da nossa língua. O galego neste momento nom necessita um que, nem um quando, nem sequer um porque, necessita um para que. Para que necessitamos o galego? Para que necessitamos um barco? E a resposta é a mesma em ambos os casos: para navegar através do vasto e infinito mar. Para falar com a gente da nossa vila e com a gente daquela outra vila além do Atlântico. Para manter a nossa cultura e aprender de todas aquelas culturas às quais podemos chegar no nosso barco, na nossa língua.
Despertemos nos corações das pessoas o desejo polo vasto e imenso mar. Despertemos nos corações das galegas o desejo pola nossa língua extensa e útil.